Luanda - Angola, comemora a 11 de Novembro deste ano, 40 anos desde a sua independência do jugo colonial que durou quase cinco Séculos, marcados por crimes mais hediondos que foram desde o tráfego de escravos, a destruição sistemática da cultura material e imaterial de povos e nações inteiras à pilhagem dos recursos naturais.

Fonte: Club-k.net

Angola tornou-se independente por via dos Acordos de Alvor, rubricados em Portugal, a 15 de Janeiro de 1975, pelo governo português e pelos três Movimentos de Libertação de Angola, nomeadamente a FNLA, o MPLA e a UNITA, nas pessoas dos seus respectivos líderes.

Entre várias questões, todas elas referentes ao processo de descolonização de Angola, os acordos de Alvor previam a proclamação da independência a 11 de Novembro do mesmo ano, a criação de um Exército Único e a realização de eleições para a escolha dos representantes do povo à Assembléia Constituinte.

Sem desprimor pra as outras, destaco apenas estas, pela sua importância vital naquele processo e na vida dos angolanos, com particular ênfase para a geração do pós-independência, ou seja a primeira "geração de angolanos livres".

A proclamação da independência teve lugar na data exacta acordada em Alvor.

Até aí estava tudo bem, não fosse o facto desta mesma proclamação ter sido feita num clima de discórdia generalizada entre os mesmos Movimentos de Libertação que meses antes , a volta da mesma mesa de negociações, TODOS o assinaram com a então potência colonial.

Viviam-se os primórdios de uma sangrenta guerra civil que durou quase trinta anos!

O balaço é obviamente NEGATIVO: Mortes e destruição.

Pior que o saldo negativo é o legado que "geração libertadora" deixa a "geração do pós-independência, marcado pela desonestidade daquela na abordagem das suas desintelingêcias e na assunção das suas responsabilidades perante a história.

A guerra tem sido apresentada como justificação para todos os males.

Há mesmo quem a evoque na vã tentativa de "legitimar" crimes tais como a corrupção, a delapidação do etário público, o nepotismo, o enriquecimento ilícito, o branqueamento de capitais e outros hediondos tipificados pela constituição da República de Angola como sendo imprescritíveis.

Ao se falar da guerra civil, geralmente, os dirigentes do MPLA procuram atribui-la a UNITA.

Apontam, falsamente a não aceitação dos resultados eleitorais de 1992, como sendo a causa da guerra, fazendo tábua rasa ao período anterior que vem de 1975.

Facto curioso é que no discurso acusador do MPLA sobre a guerra, não mencionam a FNLA com quem, de facto, juntos acenderam o rastilho de pólvora que mergulhou o País numa das maiores guerras fratricidas na história dos países africanos, quiçá do mundo!O recorte do Jornal de Angola, que repesca o que foi noticiado há 40 anos, num dia como hoje, 23 de Julho em 1975, esclarece:

"O Estado-Maior Geral das FAPLA discute, a nível da Comissão Nacional de Defesa, as condições para a resolução da actual situação de confrontação armada na cidade de Luanda, e em resultado destas conversações determina aos seus combatentes que suspendam as ações de fogo contra os elementos do ELNA, e manter as suas posições nas operações de concentração e evacuação dos militares do ELNA".

Vejam que naquela altura faltavam 113 dias para o dia aprazado para a proclamação da independência!

Estes acontecimentos têm lugar um mês depois de a UNITA, na pessoa do seu líder, na busca de uma solução política que excluía a via armada, sob os auspícios do presidente tanzaniano Jomo Kenyatta, promoveu com sucesso, de 16 a 21 Junho, a Conferência de Nakuru, entre os três Movimentos de Libertação.

Fracassado o acordo de Nakuru, em Agosto do mesmo ano, a OUA, na pessoa do seu presidente em exercício, o ugandês Idi Amine Dada, convocou uma conferência em Kampala, tendo formalizado os convites aos líderes dos três Movimentos de Libertação. Lamentavelmente, apenas o líder da UNITA se fez presente, os outros dois, ostensivamente fizeram descaso.

De recordar que todo este esforço da parte da UNITA foram a evidência da sua postura conciliadora, de contenção e comprometimento com a estabilidade política, pois que, no dia 04 de Junho de 1975, no célebre massacre do Pica-Pau, em Luanda, o MPLA já tinha aniquilado mais de 300 recrutas, desarmados, parte dos efectivos da UNITA que iriam integrar o Exército Único.

Acto continuo, no dia 12 de Junho de 1975, na Ponte sobre o rio Kwanza, no Dondo, mais de 700 militantes da UNITA, fugidos de Luanda, foram fuzilados pelo MPLA e os seus corpos e atirados ao rio.

As mortes e outros crimes continuam até aos nossos dias!

A história é implacável.

Qual foi a causa da guerra em Angola?

Foi a violação dos acordos de Alvor e de Nakuru.

Quem foi que violou os Acordos de Alvor?

Foram o MPLA e a FNLA.

Quem trouxe forças militares estrangeiras (Cubanos, Russos, Zairenses) mesmo antes da independência?

Foram o MPLA e a FNLA.

Portanto, o principal responsável por todos os males e sofrimentos causados aos angolanos, desde 1975 aos nossos dias é o MPLA.

O Tribunal da História só dá duas hipóteses: Iliba ou condena.

Ou os dirigentes do MPLA se despem da arrogância que lhes tem caracterizado, e com coragem patriótica assumem

as suas responsabilidades pelo descalabro, o que abriria o caminho para a tão almejada reconciliação genuína, ou então se atolam cada vez mais nos seus crimes que, hoje, mais cedo que nunca, os condenarão perante a história, tal como o foram os que assim agiram.

*Dirigente  da UNITA