Luanda - A sede da Despertar, em Viana, encontra-se neste momento cercada por efectivos da Polícia Nacional. O jornalista da rádio, Gonçalves Vieira, foi detido nesta manhã, no Primeiro de Maio, enquanto tentava reportar o ambiente onde está convocada, hoje às 15h, uma “manifestação pacífica” de “activistas cívicos de vários extractos sociais”, como se auto-intitulam, sob o lema “Chega de prisões arbitrárias e perseguições políticas em Angola”.

Fonte: RA

Em declarações ao Rede Angola, o director-adjunto da Despertar, Queirós Chiluvia, disse que não consegue precisar quantos polícias estão na rádio, mas, segundo o também jornalista – único angolano a integrar a lista dos cem “heróis da informação” da Repórteres sem Fronteira, o número é elevado.

“Estamos sitiados desde às 10h. Todo o quintal da Despertar está cercado neste momento por agentes da Polícia Nacional, alguns fardados e outros a paisana. São muitos, estão desde o portão, até quem vai para a estrada Viana-Zango”, enfatizou.

Queirós Chiluvia diz não saber os motivos pelos quais a rádio está cercada, mas acredita que é uma forma de intimidar os profissionais da emissora: “para não fazerem cobertura da manifestação de hoje”. O director-adjunto da Despertar revelou ainda que o clima naquela redacção é de medo:

“Ainda nenhum de nós saiu, alguns estão tomados com medo porque supõe que a intenção é seguir os profissionais até o destino onde eles forem. Toda a gente está com receio”, disse, ressaltando que os agentes estão todos armados.

Daniel Portácio, também jornalista da Despertar confirmou a prisão de Gonçalves Vieira e disse que antes do ocorrido, o profissional “foi interpelado por agentes da polícia nos arredores do supermercado Jumbo. Enviou-nos uma mensagem que estava a ser levado numa das esquadras nos arredores do Primeiro de Maio”.

Até ao momento não se sabe em qual esquadra encontra-se Gonçalves Vieira. Segundo Chiluvia, a direcção está a tentar contactar o Comando Provincial da Polícia Nacional, mas sem sucesso:
O repórter informou que a direcção da rádio já tentou entrar em contacto com o porta-voz da Policia Nacional Mateus Rodrigues mas não foram bem sucedidos.

“Não se sabe a prisão ou esquadra onde ele está. Estamos a tentar contacto com o comando provincial da Polícia e estamos a aguardar”, disse.

Protesto

A realização do protesto, conforme decorre da Lei, foi participada por escrito ao Governo Provincial de Luanda, o qual, segundo os organizadores, solicitou a identificação dos promotores.

“Na última informação que recebemos [do governo provincial] referia ‘informar os requerentes para que cumpram com a lei’. Então, nós vamos cumprir com a lei e vamos realizar uma manifestação pacífica”, assumiu Pedrowski Teca.

Em declarações hoje de manhã, o segundo comandante da Polícia Nacional, comissário-chefe Salvador Rodrigues, afirma desconhecer qualquer manifestação “autorizada” para Luanda hoje.

“Eu não tenho conhecimento de nenhuma manifestação que tenha sido autorizada pelo Governo da Província de Luanda. Todas as manifestações que forem autorizadas a polícia cumprirá com o seu papel, no sentido de proteger as pessoas que se manifestam”, afirmou o comissário-chefe.

O protesto foi motivado pelas detenções de activistas em Março, caso de José Marcos Mavungo e Arão Bula Tempo (libertado em Maio), em Cabinda, e em Maio, de Mário Faustino, em Luanda (este último libertado já em Julho), na sequência de manifestações contra a alegada violação dos direitos humanos e contra o Governo.

A situação, dizem os organizadores, agravou-se a partir de 20 de Junho, com a prisão preventiva de 15 jovens activistas, alegadamente suspeitos de estarem a preparar em Luanda um atentado contra o presidente e outros membros dos órgãos de soberania, conforme informou na ocasião, a Procuradoria-Geral da República (PGR) de Angola. Até hoje continuam detidos sem acusação formal.

Na carta informando da convocação deste protesto, os promotores denunciam a “injustiça e arbitrariedade cometidas pelo governo angolano” e que pretendem exigir “a libertação incondicional dos mesmos presos políticos”.

Garantem que há informações apontando para a realização, no mesmo dia, de outras manifestações do género em Angola, nomeadamente na província do Uíge, bem como em Portugal, Bélgica e Alemanha.