Luanda - Até às eleições de 2017, muita água ainda rolará debaixo da ponte, mas o que se torna cada vez mais evidente é que, a cada dia, o MPLA perde espaço. E o sufoco que supostamente está a exercer sobre a oposição, tem feito despertar em muitos a consciência de que não sabe o que é efectivamente democracia, paz, liberdade, unidade e reconciliação nacional.

Fonte: AGORA

Defendam lá como quiserem a vossa dama senhores do poder, mas há um facto que é inquestionável: com a prisão dos 15 jovens, de todos os ângulos, criaram um caso de carácter político. E a acentuada preocupação de justificação dos diferentes órgãos ligados à administração da Justiça nos últimos dias demonstra, efectivamente, o reconhecimento da gravidade do caso.

Daí a tentativa de se inverter a verdade. Há consciência de que se cometeram exageros. E a cada dia, cometem-se mais erros. Por exemplo, ouvimos, com estupefacção do vice-procuradorgeral da República (palavras taxativas) que "uma coisa é certa, a ordem e a tranquilidade pública seriam afectadas". Alguém ainda tem dúvidas de que os jovens serão mesmo condenados? Há nessa afirmação alguma presunção de inocência? Acreditamos, piamente, que se a juíza jubilada Maria do Carmo Medina ou o advogado Eugénio Ferreira estivessem vivos, ao ouvirem essas e outras aberrações, apanhariam um treco e morreriam de desgosto.

Ou como fizeram no passado, oferecer-se-iam para defender também estes jovens. E aí seriam elas! Afinal, de que lhes valeu baterem-se em defesa de quem lutava por supostos ideais de libertação e de justiça para este povo, se os antigos réus da PIDE e do colonialismo opressor criaram um sistema de governação semelhante? Pior que isso, formaram uma geração de políticos (e de alguns advogados incluídos) que, sem moral nem ética, dão sustentação a um regime que não sabe conviver com a diferença.

O que é que falta para definir este sistema político como ditadura, se temos um Presidente da República que não pode ser contestado; se temos um partido no poder que não aceita o pensamento diferente; se temos uma polícia e serviços de informação que investem contra os seus próprios irmãos; se temos um regime corrupto que não sabe justificar como gasta o nosso dinheiro; se temos tudo para ser um povo feliz, mas 68% da população vive na miséria? Será que essas questões que animam esses jovens e outros milhares sem emprego nem esperança não têm carácter político?

O ambiente que se viveu esta semana que finda atesta bem que se pretende que apenas uma formação política, o MPLA, tenha espaço de afirmação, o que não é uma postura correcta nem ao abrigo da Constituição que esse partido aprovou, nem dos ideais que animaram os milhares de angolanos que combateram o colonialismo. Uma dessas figuras emblemáticas, com cerca de 90 anos, confrontado com essa triste realidade, respondeu-nos de forma directa: "Vai perguntar a José Eduardo dos Santos qual foi a razão que o motivou a participar, ainda jovem, na luta de libertação nacional"? É claro que, se conseguíssemos chegar junto do Presidente, não hesitaríamos em formular-lhe essa pergunta. Mas, aproveitaríamos a oportunidade também para questionar-lhe se de facto tem perfeito conhecimento do País que está a dirigir.

É que, pela elevação da repressão (policial e da verborreia de alguns dos seus sipaios), e agora até com o retorno da caça às bruxas por via dos órgãos de comunicação públicos, temos todos os ingredientes para o deflagrar de um grande conflito político e social. E por mais que nos digam que o que se põe não é um caso político, ninguém nos conseguirá provar que as nossas diferenças serão resolvidas pela Polícia.

Como já referimos aqui, o regime do MPLA até já condenou os 15 jovens, mesmo sem terem sido levados a qualquer tribunal. Mas, o pior ainda está por vir, porque esta sociedade percebeu que são necessárias mudanças que até passam necessariamente pelo partido no poder. Mas, decididamente, não mais por este, dirigido por quem se acomodou e abandonou o povo.