Lisboa  - A prisão, em Luanda, de 15 ativistas acusados de prepararem uma sublevação popular de atentado ao Presidente da República está a ser usada como pretexto para reviver, sobretudo em Portugal, as velhas campanhas anti-MPLA do período da guerra civil em Angola, quando a UNITA pagava o salário de numerosos jornalistas, políticos e outras figuras portuguesas, que a-do-ra-vam as visitas à Jamba. 

Fonte: DN

Esse assunto é mais complexo do que se pode imaginar à primeira vista. Em definitivo, não é tema para diletantes políticos e muito menos amadores, indivíduos que, de tanto continuarem a ser rotulados de "jovens", mesmo aos 40 anos, talvez pensem que a juventude é o estado da eterna pureza e inocência. Devido às circunstâncias históricas vividas pela minha geração, aos 20 anos eu já tinha superado essa visão. Na minha opinião, o Governo angolano está a gerir mal este assunto, em termos políticos e de comunicação (nos tempos que correm, as duas coisas estão indissoluvelmente imbricadas).

 

O argumento do golpe de Estado, por exemplo, por ser muito difícil de explicar à opinião pública (quem sabe que o guru dos ativistas detidos, o americano Gene Sharp, falou em "golpe suave" ou, então, quem se lembra já do que sucedeu na Ucrânia?), não ajuda nada a perceber a posição das autoridades. O foco exclusivo, por parte do Governo, na argumentação jurídica também não ajuda muito mais, pois o problema é político. Tais falhas do Governo decorrem de um problema que o MPLA precisa de encarar: o peso excessivo da visão securitário-jurídica dentro do sistema, em detrimento da política. Parece que, contrariamente à melhor tradição do MPLA, já não é mais a política que está no posto de comando.

 

Acontece que o Governo tem muitos elementos que podem justificar a detenção dos ativistas, sem necessidade de apresentar as suas eventuais provas na praça pública, como exigem, absurdamente, os apressados defensores do grupo detido.

 

Basta, por exemplo, fazer circular o que eles próprios têm escrito e declarado, sobre os seus planos para provocarem a queda do Presidente da República nas ruas, fora do quadro democrático. Sugiro às figuras bem-intencionadas que estão a ser arrastadas para as novas campanhas contra o Governo angolano que leiam essas declarações e avaliem se os planos dos ativistas em causa são o futuro que elas próprias desejam para Angola.

 

Quanto aos ingénuos (ou mal-intencionados) que argumentam que não se pode prender ninguém por escritos ou declarações, remeto-os para a informação da CNN de 4 de julho de 2015, dando conta de que um homem, Brian D. Dutcher, foi preso e aguarda julgamento por ter proferido declarações ameaçadoras contra o Presidente Obama. Ele transmitiu tais ameaças a um polícia e reproduziu-as igualmente no Twitter. Em momento algum, contudo, tentou executá-las. Por outro lado, o Reino Unido, por iniciativa do primeiro- ministro, David Cameron, acaba de criminalizar os discursos incentivando o terrorismo islâmico.

 

Ameaças contra um presidente ou discursos pró-terrorismo possuem um notório conteúdo político. Estou curioso em saber se aqueles que consideram os ativistas detidos em Luanda como "presos políticos" também farão uma campanha a favor de Brian Dutcher ou dos autores dos discursos estimulando a participação dos jovens britânicos na jihad. Para evitar mal-entendidos, termino afirmando que, naturalmente, os ativistas detidos na capital angolana gozam, em princípio, da presunção de inocência. Mas o mesmo vale para a acusação, que, presunção por presunção, também pode estar coberta de razão. O mais justo, portanto, é aguardar pela decisão dos tribunais. Tudo o resto é campanha. No tempo em que vivemos, parece que a razão é diretamente proporcional ao volume e extensão da gritaria. Isso não tem nada a ver com liberdade e democracia.