Luanda - Julgamento do mediático Caso Gindungo/ Aneth, que envolve o antigo vice-governador de Luanda Miguel Catraio, pode acontecer no final de Agosto. Aneth regressou dos EUA no domingo.

Fonte: Sol
O alarme do arranque do julgamento do mediático caso Gindungo/Aneth a 28 de Julho foi falso, mas tudo indica que irá acontecer no final deste mês. O processo-crime inscrito no sistema de justiça com a designação ‘Caso Aneth’, sob o número 039/14-C, deu entrada na semana passada na 14.ª Secção dos Crimes Comuns do Tribunal Provincial de Luanda, a funcionar no Palácio de Justiça de Cacuaco.

Isso mesmo garantiu Ladeira Pinto Galiano, irmã de Nikilauda Vieira Galiano ‘Aneth’, jovem vítima de agressão por três mulheres, em Abril, por alegado envolvimento com o então vice-governador de Luanda para o sector económico, Miguel Catraio.

De acordo Ladeira Galiano, nem a família nem o assistente da acusação, o advogado José Carlos, tinham sido notificados no sentido de comparecerem em tribunal para o início do julgamento em Junho. «Não sei onde os meios de comunicação social foram buscar esta informação», declarou a irmã mais velha da vítima.

Segundo a interlocutora, «ainda não há uma data fixa para o início do julgamento», mas tudo indica que o arranque da acção penal pode acontecer ainda em Agosto.

Já o advogado José Carlos disse que ainda é muito cedo para se falar em abertura do julgamento, tendo em conta que o processo ainda não tem despacho de pronunciamento, o que em termos técnicos não permite que seja marcado o arranque. «O que pode levar um tempo, mas o inverso também pode acontecer», afirmou.

Aneth fugiu à perseguição

Ladeira Pinto Galiano revelou ao SOL que Aneth ficou ausente do país durante dois meses: «Desde início de Junho até ao último domingo, ela e a minha mãe estavam nos Estados Unidos da América por razões de segurança e para recuperar do trauma pelo qual passou».

A irmã explica que a família decidiu tomar esta decisão para salvaguardar a integridade física da irmã. Desde que Aneth sofreu as agressões e que o nome do ex-vice-governador de Luanda foi divulgado como estando por detrás do crime, a jovem, que na altura tinha apenas 17 anos, passou a receber ameaças telefónicas anónimas. «Foi por esta razão que a decidimos enviar para os Estados Unidos», contou.

«Nos últimos tempos», relatou Ladeira Pinto Galiano, «temos recebido ameaças de um tal de irmão do antigo vice-governador de Luanda. Sabemos que viveu nos Estados Unidos, era pastor lá, e ele tem feito ameaças telefónicas, tem dito que nos iremos conhecer em tribunal e acusa-nos de bandidos. Inicialmente ligava para a minha mãe, depois passou a ligar para o meu pai e em seguida para mim», acusou, acrescentado que relataram o caso à Polícia. «Comunicámos à Polícia, fez-se o rastreio dos dois números que ele usou para ligar para nós e ficou confirmado que é irmão do Miguel Catraio».

Redes sociais tiveram papel preponderante

O procurador-geral da República, João Maria de Sousa, ao pronunciar-se sobre o Caso Gindungo/Aneth numa entrevista concedida em Junho ao Jornal de Angola, reconheceu que o mesmo assumiu grandes proporções na imprensa e na sociedade angolana em geral devido ao papel que as redes sociais desempenharam.

João Maria de Sousa garantiu que «efectivamente, foi instaurado um processo-crime mediante queixa da ofendida, que foi remetido para o tribunal competente, com cinco arguidos em prisão preventiva, um homem e quatro mulheres, encontrando-se foragidas três presumidas arguidas».

Quanto à questão de os foragidos poderem atrasar o processo, o procurador disse que, relativamente às três foragidas suspeitas de participação nos crimes investigados, a solução passa pela separação de culpas, de modo que o procedimento contra elas prossiga ao nível da instrução e possam ser submetidas a interrogatório logo que sejam capturadas.

João Maria de Sousa garantiu que «ninguém com culpas neste caso se vai furtar à acção da Justiça. Quanto aos detidos, a seu tempo serão julgados».

Entretanto, Ladeira Galiano confirmou que apenas cinco pessoas que estão ligadas de forma directa e indirecta ao caso se encontram detidas, entre elas o antigo vice de Luanda Miguel Ventura Catraio, sendo que a detenção deste ocorreu em Abril.

Violência desmedida

No final do mês de Março a jovem Aneth e Jussila, na altura amigas, fizeram uma viagem para a Namíbia. Jussila mantinha uma relação amorosa com Miguel Catraio. De regresso ao país, o ex-vice-governador abordou a amante Jussila acusando-a de o ter traído com o cantor Mister K durante a viagem, tendo contado que soube disso através de Aneth, dizendo que esta última não era uma amiga digna.

Segundo contou Aneth à Rádio Luanda, Catraio montou-lhe uma cilada ao marcar um encontro com ela num hotel. Estiveram juntos e ele disse à vítima que ia à recepção e voltava. Porém, quando regressou vinha com Jussila e mais seis raparigas, tendo estas começado a insultar Aneth na presença do então governante. Depois pediram que este se retirasse do quarto, mas ele ficou, com três dessas raparigas, que a agrediram, cortaram-lhe o cabelo e as sobrancelhas, e colocaram-lhe gindungo nos órgãos genitais, ao ponto de desmaiar.

A vítima garantiu que nunca teve relações amorosas com Miguel Catraio. Todo o acto macabro foi gravado e colocado nas redes sociais pelos agressores, tendo sido criticado por todos os sectores da sociedade.

Alguns dias depois do ataque, a Procuradoria-Geral da República instaurou um processo-crime que levou à detenção em Abril de Miguel Catraio, de 51 anos de idade, e de três das mulheres que surgiam no vídeo.