Luanda - O Sindicato dos Jornalistas Angolanos (SJA) prepara-se para realizar o seu 5º Congresso, já convocado, após alguns adiamentos, para a penúltima semana do próximo mês de Setembro, cerca de 25 anos depois da organização ter sido criada em Luanda.

Fonte: SA

Os seus filiados serão chamados a elegerem uma nova liderança, após os dois mandatos da cessante Secretária-Geral, Maria Luísa Rogério, que dirigiu a organização durante mais de 10 anos.

Para além da recomendável e inevitável renovação de mandatos, o Vº Congresso do SJA terá, certamente, na sua ordem de trabalhos um conjunto de pontos que permitirão aos delegados, com base no relatório da Secretária-Geral, efectuar a melhor avaliação do desempenho da direcção cessante.

O destaque aqui, quanto a nós, vai para a necessidade de se fazer uma exaustiva análise do estado em que se encontra a classe jornalística nas várias vertentes em que o Sindicato é chamado a intervir e tem-no feito, com todos os altos e baixos que se conhecem

Mais importante do que todas as constatações e críticas que vierem a ser feitas sobre o momento que se vive e o desempenho do SJA, será a adpoção das soluções mais eficazes e realistas para se ultrapassarem as dificuldades e barreiras, que continuam a condicionar a actividade sindical em Angola em prol da defesa da classe.

Sem queremos antecipar as conclusões do debate que se avizinha, parece pacifico afirmar aqui que ainda estamos longe de termos o Sindicato que todos nós gostaríamos de ter.

Quando olhamos hoje para a importância/desempenho que outros sindicatos de jornalistas, nossos parceiros de cooperação, conseguiram alcançar nos seus respectivos países, vemos melhor o quanto ainda nos falta percorrer para até chegar até lá, apesar de já estarmos nesta estrada há mais de duas décadas, onde já ninguém nos poderá retirar o lugar que a história nos irá reservar.


O pioneirismo do SJA, para quem não conhece a história recente deste país, tem a ver com o facto relevante de ter sido a primeira associação sindical independente a surgir bem no inicio da década de 90, numa ruptura aberta com o sindicalismo do tempo do partido único, tutelado pela UNTA através dos seus dez sindicatos por ramo de actividade.


Após estes anos todos de intervenção sindical, vamos encontrar na própria realidade sócio-politica angolana uma boa parte das causas que explicam a situação menos boa que vive o associativismo ao nível da classe jornalística.

Com esta “passagem de pastas” não se pretende de forma alguma sacudir a água do capote, nem alijar as responsabilidades que as lideranças das diferentes organizações jornalísticas não souberam assumir por várias razões, onde se incluem a falta de dinamismo e alguma entrega pessoal a causa.

De uma coisa porém estamos certos, por razões ligadas a estratégia política do actual poder, em Angola muito dificilmente algum dia, enquanto a actual correlação de forças permanecer, a classe jornalística angolana atingirá a maturidade associativa e sindical que vemos florescer e consolidar noutros países.

Nesses países, onde já se incluem alguns africanos, independência dos diferentes poderes é a pedra fundamental de todos os projectos ligados ao desenvolvimento do jornalismo e da afirmação e defesa dos jornalistas como classe não rebocável.


O que sentimos pelo reduzido “espaço de manobra” que foi permitido ao SJA ao longo da sua trajectória, ao ponto de a dada altura em alguns órgãos públicos nem sequer ser permitida a sua presença, traduz bem a força/determinação deste condicionamento político externo contra o qual grande parte das nossas energias têm sido gastas em intermináveis guerrilhas institucionais.


É, claramente, mais um dos paradoxos da nossa realidade, ao mesmo tempo que se assiste a uma permanente mobilização e enquadramento directo dos jornalistas em falanges partidárias.

Angola é, possivelmente, o único país que diz ter que abraçado a democracia liberal, onde os jornalistas assumem publicamente que são membros activos de um determinado partido.

Com isto não queremos dizer que os jornalistas não podem ou não devem ser militantes, o que é bastante diferente de fazer parte de uma estrutura especializada e que tem claramente a missão de orientar politicamente os profissionais da imprensa a agirem em conformidade com a disciplina e a estratégia partidária.

Percebe-se que num ambiente como este e por melhor que fosse o dinamismo de um Sindicato independente, muito dificilmente ele poderia ser bem sucedido.

Mesmo assim, o SJA continuou a ser a única voz a defender os jornalistas e a própria liberdade de imprensa, sempre ameaçada. O resto competirá a Luísa Rogério dizer-nos o que foi feito e como foi feito.

Neste momento e em véspera do Vº Congresso do SJA, temos a impressão que agora e depois de se ter “ressuscitado” a toque de caixa a literalmente desaparecida UJA, pode estar na forja uma outra abordagem de “quem de direito”, com as atenções concentradas no papel do Sindicato.


Mal ou bem, o SJA conseguiu sobreviver, sendo neste momento a única organização da classe que tem legitimidade e está legal, o que é, certamente, um capital bastante apetecível para quem tem meios tão poderosos.


“O Sindicato dos Jornalistas Angolanos é uma realidade viva e actuante, com todos os constrangimentos que ainda se verificam e condicionam um melhor desempenho da sua parte, sendo hoje a principal referência do associativismo de uma classe, cujos profissionais, de uma forma geral, continua a ser mal pagos ao mesmo tempo que são sujeitos a pressões políticas inaceitáveis”- In Declaração do SJA por ocasião do seu 20º aniversário.

Texto publicado no Semanário Angolense (14-08-15)