Luanda - A construtora brasileira Queiroz Galvão, que tem uma filial em Angola e realiza vários empreendimentos no país, terá usado a sua sede angolana para o pagamento de luvas relativas ao intermédio de um financiamento conseguido junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento do Brasil, o BNDES.

Fonte: RA

Segundo a revista Época desta semana, a Queiroz Galvão recebeu em 2012 USD 55 milhões em financiamento do BNDES para a realização de obras em Angola. Trata-se de um mecanismo do banco de fomento brasileiro que empresta dinheiro a países estrangeiros, como Angola, para que realizem obras contratando empresas do Brasil, o que promove as empresas do país e proporciona a exportação não apenas de serviços, mas de produtos e mão-de-obra brasileira.

Ainda segundo a Época, suspeita-se que o financiamento de 2012 terá sido conseguido com a intervenção da empresária Carolina Oliveira, esposa do actual governador do estado de Minas Gerais, Fernando Pimentel (do Partido dos Trabalhadores, o PT, partido que está no poder), que na altura era ministro do Desenvolvimento e um dos membros do Conselho de Administração do BNDES.

Carolina Oliveira é tida como uma “sócia oculta” da agência de comunicação Pepper, da publicitária Danielle Fontelles, que é amiga do alto escalão do PT. Conforme reportagem da Época, cerca de 70 por cento da facturação da empresa vem de contratos com o partido.


Para o alegado pagamento das luvas, a agência Pepper criou uma empresa off-shore no Panamá chamada Gilos. A Gilos assinou um contrato (firmado por Danielle Fonteles) com a Queiroz Galvão Angola para a prestação de serviços de marketing digital.

Segundo as investigações da Polícia Federal do Brasil, o contrato entre a Gilos e a Queiroz Galvão Angola era de fachada. “O contrato, que elenca seis serviços, parece uma peça de ficção. Não há uma linha sequer sobre qual obra ou projecto da Queiroz Galvão deveria ser divulgado na internet pela Pepper”, lê-se na revista.

O valor do alegado contrato de fachada entre a Gilos foi de USD 237 mil, e o valor foi movimento por meio de uma conta na Suíça em nome de Danielle Fonteles. A conta não havia sido declarada à Receita Federal do Brasil até o questionamento da revista.


De Danielle Fonteles para Carolina Oliveira, o dinheiro passava por meio de créditos em conta contabilizados pela Polícia Federal, e até através do pagamento de facturas de cartão de crédito, facto admitido pela agência Pepper. Além disso, a ligação ainda é manifesta por meio dos contratos de publicidade da Pepper directamente com o BNDES.

A agência Pepper negou à revista que o contrato entre a Queiroz Angola tenha sido de fachada, mas não respondeu ao pedido de apresentação de provas da realização dos serviços. A agência ainda nega qualquer relação entre o contrato e a concessão de financiamento do BNDES à Queiroz Galvão para obras em Angola. O advogado de Carolina Oliveira, Igor Tamasauskas, disse não poder se manifestar, pois não teve acesso ao processo.

A Queiroz Galvão também nega irregularidades, mesmo sem apresentar provas da realização dos serviços contratados em nome da filial angolana. “Todos os pagamentos foram efetuados de maneira absolutamente legal e transparente, seguindo os termos previstos em cada contrato. Esses trabalhos nunca estiveram vinculados a qualquer pagamento por parte do BNDES”.

A relação entre o BNDES e as construtoras brasileiras que actuam em Angola, como a Queiroz Galvão e a Odebrecht, está sob investigação no Brasil numa Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), que começou esta semana.