Luanda - "Cada cidadão deve desarmar a sua mente", disse Anastácio Finda, defendendo que é preciso ter cuidado com a linguagem quando se quer apelar às autoridades.

Fonte: VOA

"Os angolanos têm que desarmar as suas mentes"

Anastácio Finda, político e jurista, aconselhou os ouvintes a não serem agressivos, a não usarem linguagem ofensiva, "pois se ofendemos alguém de quem esperamos uma mudança [referindo-se ao MPLA], naturalmente essa pessoa ou entidade vai recuar na sua vontade de mudar".

 

Quando questionado sobre o estatuto dos 15 activistas presos em Luanda, acusados de rebelião, o jurista respondeu que não pode considerá-los ou não presos políticos, mas que nos termos da lei, a Procuradoria-Geral, em tribunal e em momento próprio terá que provar a acusação feita, para se saber se houve crime ou não.

 

Ainda sobre o caso dos presos políticos, Finda explicou que o processo ainda se encontra em fase de instrução processual. Os 15 presos estão em prisão preventiva, período durante a qual decorre o processo de instrução que passará à fase de instrução preparatória que poderá chegar ou não à fase contraditória.

Manifestação no Bié resultou em massacre, dizem ouvintes

A 3 de Agosto uma manifestação em homenagem à data de aniversário de Jonas Savimbi acabou em "desgraça", como descreveu João Moreira, do Chinguar, mencionando a ocorrência de pelo menos dez mortes em confrontos entre militantes da UNITA e do MPLA e polícia.

 

Anastácio Finda atribuiu esse acontecimento à existência de "mágoas entre as pessoas de um e de outro lado (MPLA e UNITA) e que para que essas situações sejam menos frequentes "cada cidadao deve desarmar a sua mente".

 

Armando Agostinho, da Huíla, quis saber por sua vez o que é democracia em Angola, ao que o político e jurista antigo membro do Conselho Político da Oposição respondeu que há muitas melhorias, desde que "Angola passou a democracia em 1991, vivendo uma fase turbulenta que durou até 2002".

 

"Actualmente as pessoas falam mais a vontade, o país saiu de uma guerra fatricida e há pessoas que acham que o país estaria melhor como estava antes", referiu em tom de desaprovação.

 

"A democracia em Angola será um facto a 100%, mas cada um de nós deve saber olhar o outro não como inimigo, mas como adversário político", afirmou Finda, adiantando que é a linguagem dura que provoca a reacção negativa do MPLA".

 

"Todos nós temos que evitar linguagem muito dura. Se apareço a ameaçar alguém, essa pessoa também recua na vontade de mudar", exemplificou.

 

"O problema de Angola é que as pessoas têm o hábito de ofender", rematou.

 

Sobre a possibilidade de intervenção da comunidade internacional nos problemas de Angola, o jurista concorda que Angola deve respeitar o direito internacional por ser membro da ONU, mas que a ONU por seu lado deve igualmente respeitar os tratados ensinados caso queira interferir.

 

"Se os tribunais a nível interno não conseguirem resolver, aí sim podemos ir lá fora, mas nós fazemos muitas vezes acusações que não conseguimos provar".

 

Finda deposita toda a confiança nos tribunais, que a seu ver são as instituições competentes para dirimir quaisquer conflitos.

"Sendo os tribunais parte do Estado, tenho que partir do princípio que os tribunais são entidades de bem", frisou.

De Luanda, o ouvinte Flugêncio questionou se o político iria voltar a fazer parte do Conselho Político de Oposição (CPO) e se estariam a pensar revitalizar-se para as eleições de 2017.

Anastácio Finda lembrou que o CPO foi extinto, porque não conseguiu o mínimo para se poder manter como partido político, mas que só o futuro dirá quanto às eleições de 2017.

"Estou sempre disposto a concorrer caso me seja dada a oportunidade se houver condições poderemos voltar a outros rumos partidários", terminou.