Luanda - Antes de iniciar a minha reflexão, gostaria de advertir que o texto não tem nenhuma intenção de caráter xenófobo. Também quero deixar claro que não sou especialista em análise desportiva e, especialmente do basquetebol, do qual sou apreciador e adepto do Petro, actual campeão nacional. Sou cidadão angolano, com sonhos, expectativas, com auto-estima e patriotismo.

Fonte: Club-k.net

Tenho acompanhado o Afrobasquet-Tunísia 2015. Tenho ouvido os melhores especialistas e analistas que temos, quer nas rádios quer na televisão. Confesso que não tenho gostado do jogo de Angola e as análises competentes, na Rádio 5 e no 'Fala Quem Sabe' na LAC, me deixaram mais esclarecido. Tal como têm comentado os analistas, os dois jogos feitos pela selecção angolana estão descaracterizados, sem gosto, sem sabor «ao estilo do basquetebol angolano».

Além do mais, não estou contente porque essa coisa de chamar técnico estrangeiro para fazer o que nós sabemos fazer bem - e já demos mostras há mais de 20 anos- tem afectado a minha auto-estima e o meu patriotismo.


Há dois anos atrás, já tinha analisado sobre a «gestão desportiva em Angola e a contratação de técnico estrangeiro», num artigo também publicado neste grande portal, no qual defendi que, para o basquetebol e o andebol, as selecções principais de Angola já não precisam de técnico estrangeiro. Pois, tudo que construímos foi com a experiência e a sabedoria de angolanos.


Então qual é preconceito neste domínio? Porque os gestores desportivos preferem contractar estrangeiros, pagá-los bem e não pagar o mesmo valor ao angolano? O que nos trouxe de novo o Michel Gomes? O que nos está a trazer de novo o senhor Moncho Lópes?

Nada! Apenas estão a baixar a auto-estima desportiva dos angolanos. O que quero dizer mais neste artigo de opinião? É a moda que os gestores e dirigentes desportivos angolanos estão a seguir: contratar técnicos estrangeiros, em detrimento dos angolanos que bem sabem fazer a mesma coisa.

Muitos técnicos estrangeiros só aceitam os contratos pelos valores financeiros e pelo que podem granjear, em termos de curriculum, ao liderarem a selecção de basquetebol de Angola, que está entre as melhores do mundo. Não conhecem a fundo o basquetebol angolano e africano. E quando conhecem, enquanto não estiverem em África, a visão é sempre preconceituosa.

Infelizmente os gestores e dirigentes desportivos angolanos esqueceram que as maiores vitórias do desporto angolano, sobretudo no Básquetebol, no Andebol foram protagonizadas por técnicos angolanos. E muitos deles ainda vivem e estão no ativo. Eles não aprenderam com frustração que o técnico francês, Michel Gomes, nos causou no penúltimo Afrobasquete em Madagáscar. Enfim, não aprenderam... E não vejo nenhum governante ou «os supostos guardiões do patriotismo» a se pronunciarem contra estas contratações.

A verdade é que a "onda" de contratação de técnicos estrangeiros para equipas angolanas de Basquetebol, e agora novamente para selecção sénior masculina, com argumento de que têm projetos de formação a longo prazo ou de que os técnicos angolanos não aceitaram os valores disponíveis, não tem trazido mais valia ao basquetebol angolano. Talvez uma aparente competitividade, mais emoncional do que racional. Onde estão as escolas de formação dirigidos por estrangeiros e quais foram os resultados?

Tentei perceber porque razões se contratam tantos técnicos estrangeiros nos últimos anos e cheguei à conclusão seguinte:

Existência de complexo de inferioridade dos gestores e dirigentes desportivos angolanos. Eles pensam que os técnicos expatriados são melhores, só porque são estrangeiros (e brancos). Não são, com certeza.

Existência de fraca capacidade de gestão desportiva profissionalizada por parte de muitos gestores e dirigentes desportivos angolanos. Só pensam em resultados imediatos, sem uma estratégia de longo prazo.

Pelo volume de dinheiro que se paga no cômputo geral dos contratos (pelo menos do que ouvimos), o mais provável é que os dirigentes e gestores tiram os seus dividendos, pois ninguém regula os contratos e não se sabe se pagam impostos ao Estado. Talvez seja uma ocasião para os órgãos de controlo, como o Tribunal de Contas, agirem, pelo menos no que ao dinheito público diz respeito.
Falta de valorização dos quadros angolanos.

Seja qual for o resultado do jogo de hoje (24/08/2015) entre Angola e o Senegal, seja ainda se Angola vai ou não ganhar o Afrobasquete 2015, acredito que trazer estrangeiro para dirigir a selecção sénior masculina ou feminina de basquetebol é mais um negócio jurídico do interesse dos gestores da federação contra os interesses e aspirações da generalidade dos angolanos, incluindo os profissionais do básquetebol.

Perante este quadro, o que fazer? O único caminho é a mudança de mentalidade dos gestores e dirigentes. Assim, se não houver mudança de mentalidade dos gestores e dirigentes desportivos, penso que é melhor mesmo trocarmos também os gestores e dirigentes desportivos no sector do basquetebol.


Pois se os gestores da federação não aprenderam com os erros do passado e não valorizam os êxitos de mais de 20 anos, para que servem?