Luanda – A depreciação gradual da democracia, que se verifica agora, não consiste nos valores democráticos, mas sim, na caducidade das instituições políticas, as quais asseguram e dinamizam o sistema democrático. Neste contexto, verifica-se uma erosão constante do poder político, dominado pelo poder económico, veiculado pela bancocracia, que é controlada e sustentada pelas grandes multinacionais, lideradas pelas potências ocidentais.

Fonte: Club-k.net
Neste respeito, as Multinacionais não somente têm o domínio da ciência e da tecnologia de ponta, mas sobretudo, têm o predomínio global das instituições financeiras, que por sua vez, controlam e manipulam todo o sistema industrial, bancário, comercial e informático do Mundo.

O poder das Multinacionais tem igualmente o reflexo profundo sobre as Nações Unidas e outras Organizações regionais e intercontinentais, que conduzem as Politicas Externas dos Estados Soberanos, no contexto das Relações Internacionais.

Com efeito, o poder mundial está assim centralizado e dominado pelo poder económico que manipula as instituições políticas, de acordo com os interesses económicos das instituições financeiras multinacionais.

Logo, o estado de submissão do poder politica ao poder económico, e a concentração da riqueza nas mãos das multinacionais, cria o monopólio e o relacionamento de conflito de interesses, que inibe os princípios fundamentais democráticos, que consistem na liberdade, na pluralidade, na equidade, na igualdade e na diversidade – no contexto da soberania e da cidadania.

A ausência da igualdade e da equidade na distribuição da riqueza, resultam-se nas desigualdades sociais, que provocam a pobreza extrema, a miséria, a instabilidade social e o êxodo migratório intenso.

Pois, o monopólio financeiro, através das multinacionais, apoia-se na política de corrupção e de clientelismo das elites políticas locais, que servem de instrumentos da globalização do poder económico-financeiro – que se transforma numa verdadeira ditadura.

Essas elites políticas locais (endinheiradas) são cooptadas e integradas no sistema global monopolista, servindo-se de instrumentos de pilhagem das riquezas dos seus países e de agentes de opressão dos seus povos. Estabelecendo, deste modo, uma espécie de feudos, regidos por um regime de servidão, de dependência e de sujeição.

A medida em que este sistema clientelista se aprofunda, os valores democráticos ofuscam-se gradualmente, causando o descredito e o declínio constante das instituições democráticas. Tornando-se incapazes de assegurar e sustentar as transformações profundas, exigidas pelas sociedades modernas e globalizadas.

Criando, deste modo, um fosso abismal entre os valores democráticos e as instituições democráticas, dominadas pelo poder económico global. Proporcionando, deste modo, o capitalismo selvagem e o neoliberalismo, sob o princípio de Laissez-faire, de deixar a economia às regras do mercado; afastar efectivamente o Estado da gestão do mercado económico-financeiro; e sujeitar, assim, o poder politica ao poder económico.

Por isso, é importante traçar uma linha divisória distinta entre o capitalismo e a democracia, os quais partilham reciprocamente os factores económicos e os factores políticos – em contextos ambivalentes. Pois, o capitalismo não significa literalmente a democracia.

A título de exemplo, António de Oliveira Salazar (Portugal) e Adolfo Hitler (Alemanha) eram do sistema económico capitalista, mas sob o sistema politico fascista. Hoje, a China e a Rússia, embora Estados Comunistas, mas aplicam alguns princípios capitalistas, em determinados sectores da economia.

Neste respeito, Angola é o exemplo evidente em que o capitalismo selvagem se apoia na ditadura do poder político unipessoal e centralizador. Tornando-se impossível distinguir entre a propriedade privada dos governantes e a propriedade do Estado Angolano.

É importante notar que, por regra, as Instituições do Estado assentam-se nos órgãos de centralizados e desconcentrados – no que diz respeito o seu funcionamento político, administrativo e financeiro. Pois, a concentração do poder soberano é o fenómeno que se identifica plenamente com os sistemas de carácter ditatoriais e autocráticos.

Interessa, neste respeito, ter em conta o facto de que, o poder económico-financeiro, das multinacionais, é preponderante, irresistível e avassalador. Nesta conformidade, o desmoronamento do império soviético, a crise económica que sucedeu, a baixa do preço do petróleo, a desvalorização do «yuan chinês» e as sanções económicas contra a Rússia, enquadram-se precisamente na grande estratégia dos Estados Unidos da América, que visa, por um lado, reter o controlo efectivo do mercado internacional; por outro lado, neutralizar a expansão da China no Mundo e estancar o avanço da Rússia na Europa do Leste e no Médio Oriente.

Em função disso, através dos mecanismos do mercado internacional, sob seu controlo efectivo, o poder económico-financeiro, das potências ocidentais, é capaz de desarticular o mercado internacional e asfixiar os seus concorrentes.

Por isso, a redução da predominância das potências ocidentais, através das instituições financeiras multinacionais, não passa meramente pelas Reformas administrativas e politicas das Nações Unidas (como tem sido propalada), mas sim, pela alteração profunda do sistema económico-financeiro mundial.

Enfim, enquanto a economia mundial estiver assente sobre os pilares actuais das instituições financeiras, que ditam o fluxo financeiro, a tecnologia de ponta, o modo de produção e o sistema da distribuição da riqueza, dificilmente será viável encontrar um modelo ajustado para reformular as instituições politicas.

Que sejam capazes de estabelecer o equilíbrio político global, no sentido de distribuir justamente a riqueza do nosso planeta e corresponder devidamente às exigências das sociedades contemporâneas – veiculadas por diversos factores da Globalização.

Diante este dilema, o Mundo se encontra mergulhado numa convulsão política, social, militar, cultural, religiosa, económica, financeira, comercial e migratória, que ditará, de certo modo, a «Nova Ordem Mundial», com repercussões imprevisíveis.