Johanesburgo ­ Em Angola, a companhia norte­-americana Chevron está sendo acusada de práticas que atentam contra os direitos humanos dos trabalhadores nacionais naquele país. Segundo uma denúncia, os trabalhadores revelam um caso chocante de um engenheiro de perfuração de poços, Loe Chipindu que na sequência de um acidente de trabalho, a Chevron foi desleal para com o mesmo tendo o confinado, mais de dez dias, em condições desumanas, num quarto, B11 em Malongo, sem poder tomar banho e privado de tudo. A petrolífera americana recusa­se a assumir as suas responsabilidades.

 

Fonte: Club-k.net

Petrolífera  recusa-se a assumir responsabilidades 

De acordo com a denúncia, a história começa a 15 de Março de 2014, em Cabinda, offshore, quando o engenheiro fazia o transbordo de barco ­ Goldblatt Tide para o barco Malembo Tide, este último bateu­lhe, resultando em múltiplas fracturas no tornozelo esquerdo e escoriações em todo corpo. Os trabalhadores alegam que o acidente terá sido provocado por incumprimento das normas de segurança por parte da Chevron.

 

A Chevron, segundo relatam, não disponibilizou meios para a evacuação médica adequada do engenheiro que teve de ser transportado para a Luanda. Tendo o acidente acontecido às 9 horas da manhã, daquele dia, o mesmo foi evacuado para a plataforma EK ­ com uma altura aproximada de um prédio de sete andares e obrigado a subir as escadas, com os pés machucados até o 5 andar onde fica o posto médico.

 

Depois de estabilizarem a sua perna, e com ajuda de um enfermeiro da plataforma EK, identificado por Vlademiro, o engenheiro angolano foi enviado para Malongo, onde foi levado de ambulância até a clínica da Chevron nesta mesma localidade. Ao ser evacuado segundo a denúncia, ele foi levado, por dois norte­americanos, Tom Alain e Big Alex, pertencentes ao HSE drilling, até à pista do helicópteros, numa ford ranger, sem poder usar o cinto de segurança, e tendo que segurar a perna acidentada com as duas mãos. Daí foi transportado até ao aeroporto de Cabinda e levado para Luanda.

Clínica Sagrada Esperança

Segundo depoimento, postos em Luanda, a Chevron não disponibilizou cadeira de rodas para o engenheiro, nem sequer uma ambulância. O mesmo foi levado no assento trás da viatura de marca Hyundai Tucson, de novo sem poder apertar cinto segurança e tendo que segurar a sua perna e equilibrando a medida que o carro se ia movimentando para clínica Sagrada Esperança.

 

O engenheiro Loe Chipindu foi operado às 00 horas de 16 de Março 2014, e colocaram-­lhe parafusos de fixação óssea. Sem que a anestesia tivesse passado, foi levado para a clínica da Chevron, onde teve que subir escadas para ser internado numa enfermaria no primeiro piso. Dia seguinte, ainda com muitas dores, foi enviado para Malongo, Cabinda, para trabalhar, tendo subido e descido escadas do avião sem auxílio, apenas com um pé.

 

Em Malongo foi colocado no quarto B11 em condições extremamente desumanas para a sua condição de saúde precária no momento. Ficou mais de 10 dias sem poder tomar banho, num quadro descrito como “muito humilhante e degradante”. Para fazer as necessidades ele tinha que fazê­las por via da queda livre e pousar na pia porque não podia fazer carga no pé. A sanita e o quarto eram inadequados para pessoas com limitações físicas. Para minimizar a imundície a que esteve, forçadamente, sujeito, ele apoiava­se num pé segurando no lavatório, e com uma toalha molhada fazia a limpeza nas axilas e partes íntimas. Foi assim que Loe Chipindu foi sobrevivendo. No quarto passava os dias deitado e com a perna elevada sobre três almofadas.

 

Segundo as mesmas fontes, mesmo nesta situação o engenheiro angolano ainda foi induzido a trabalhar, por Tom Sheeran, director das operações de perfuração de poços, que lhe colocou um computador portátil e várias pastas de arquivo em volta da cama. O superintendente americano Doug Dace foi ao quarto discutir com o engenheiro sobre o PMP (plano de avaliação de desempenho) de 2013, tendo lamentado as condições o mesmo se entrava ­ deitado com dores, com a perna elevada e a trabalhar no computador.

 

No dia 27 de Março 2014, o engenheiro Loe Chipindu saiu de folga e, voltaram a repetir­se os mesmos atropelos, como falta de cadeira rodas ou transporte para leva­lo à casa. Depois de 28 dias as dores continuavam e a perna permanecia inflamada. A Chevron em nenhum momento permitiu o acesso a alta médica ou outro qualquer relatório, deixando o engenheiro refém desta. Não tendo esta documentação não havia forma de justificar a ausência no trabalho por doença. O engenheiro Chipindu também solicitou ao médico, Dr. Pedro Miguel Arcanjo Essaca, que o operou, um atestado mas este recusou passar alegando ser competência dos médicos da Chevron.

 

O director do Departamento de perfuração, Steve Hassmann, sem nunca se preocupar com a saúde do engenheiro, enviou um computador portátil com o senhor Ronald Guillord para a casa deste para que o mesmo iniciasse obrigatoriamente a trabalhar, alegando que o médico ortopedista, Dr. Pedro Miguel A. Essaca , não havia dado nenhum repouso nem baixa médica, para Loe Chipindu.

 

Cansados das manobras, desumanismo e falta de resposta da Chevron, e com uma segunda opinião médica da clínica Girassol, que indicava a possibilidade de necrose do pé esquerdo, a família do engenheiro decidiu que ele partisse para o exterior para que tivesse melhor acompanhamento médico. Já em Portugal, cidade do Porto, fizeram­se tratamentos e as dores continuavam. Os parafusos causavam­lhe dores e limitação na articulação do próprio tornozelo. Como o problema persistia, passado mais de um ano, os médicos em Portugal decidiram operar­ lhe para retirar os parafusos no dia 22 de Abril 2015. O engenheiro encontra­se em recuperação da cirurgia finda a qual seguir­se­á um período de fisioterapia.

 

A Chevron, segundo informações, nega­se a pagar as despesas do tratamento médico derivado do acidente de trabalho em Cabinda. Cortou também o salário com o qual o engenheiro angolano pagava o tratamento e todas as despesas relacionadas com a assistência médico­ medicamentosa a que tem estado sujeito.

 

O engenheiro Chipindu tem tido solidariedade por parte de muitos trabalhadores nacionais e alguns expatriados, e trabalhadores da Chevron em Houston, Nigeria e Brasil que tiveram o conhecimento do vergonhoso episodio. Não só houve violação da dignidade da pessoa humana, mas também dos princípios da própria Chevron (Chevron way), para não falar da inobservância das normas, regras e leis de segurança no trabalho a que a Chevron está obrigada a cumprir escrupulosamente.

 

Os funcionários angolanos da Chevron, consultados alegam que uma das razões que faz com que os responsáveis da empresa não assumam com honestidade o acidente de Loe Chipindu, serve para evitar que o caso seja contabilizado na estatística dos acidentes de trabalho prejudicando assim o bónus do fim do ano para os diretores. Os mesmos afirmam que tem sido uma prática recorrente a manipulação dos acidentes de trabalho, sempre que envolvam trabalhadores nacionais. Os médicos fazem parte deste esquema macabro.