Luanda - Um mês depois do arranque do novo modelo de recolha de lixo na província, na hora do balanço os resultados não são animadores. A cidade está sem contentores, a Elisal sem capacidade de resposta e o lixo amontoa-se em toda a cidade de Luanda Montanhas de lixo por toda cidade de Luanda.

Fonte: O País
O director de operações e fiscalização da Elisal- EP, António Lucas Rodrigues fala em “balanço não muito agradável” e escuda-se no facto de no momento estar-se a a dar os primeiros passos, alegando que “todo o modelo no início tem erros e entraves, não existe nada feito acabado no começo”.

Enquanto isso, estão à vista de todos as montanhas de lixo, ante a chuva de reclamações que ecoa nos quatro cantos da cidade. Os pessimistas começam a receiar pelo fracasso do modelo.

No mercado estão apenas duas operadoras com experiência, nomeadamente em Viana e no Cacuaco, e o resto da cidade está a ser limpa pela própria Elisal. Cacuaco, apesar de ter a sua operadora, a empreitada também está a ser executada pela Elisal-EP, porque a empresa responsável diz não ter condição financeira para reatar o trabalho.

Luanda já chegou a ter cerca de 20 operadores nos últimos anos. Destas, apenas duas aceitaram retomar o trabalho à luz das novas regras. As outras dizem que depois de fazerem contas chegaram à conclusão de que o negócio não compensa, pelo que se retiraram do concurso realizado para adjudicação das empreitadas de limpeza em Luanda.

No passado recente, a cidade de Luanda consumia o equivalente a 30 milhões de dólares/mês para assegurar a sua limpeza, hoje o valor foi reduzido a um terço, ou seja, o equivalente a 10 milhões de dólares/ meses.

O valor é repartido pelos municípios da província. Ao município de Luanda coube a maior fatia, mas de 113 milhões de Kwanzas/mês, a segunda maior fatia coube a Viana, 54 milhões de kwanzas, Belas com 55 milhões, Cacuaco 37 milhões e a mais pequena das fatias foi atribuída ao Cazenga, pouco mais de 35 milhões de kwanzas.

Deste valor cabe ao operador do município 55% e os restantes quarenta e cinco devem ser repartidos entre as empresas de pré-recolha e às micro-empresas.

Até agora ainda não foi pago um único tostão deste novo serviço. Entretanto, para se candidatar a prestar serviço no sector, o caderno de encargos para a prestação de serviços de limpeza pública em Luanda estabelece uma série de condições “bastante onerosas para as operadoras” segundo uma fonte familiarizada com o dossier que pede o anonimato.

Só para ilustrar, a título de exemplo, são necessários cerca de meia centena de veículos entre camiões colectores compactadores, poliguindastes, camiões rol, camiões tipo multibine, camiões com rampa e grua, camiões de varredura, pás carregadoras duplas, tractores, carrinhas pick-up, autocarros, centenas de contentores de variados tamanhos, dentre outros.

As operadoras estão encarregues da varredura manual de centenas de quilómetros de ruas e calçadas, varredura mecânica, lavagem mecânica de ruas, varredura de feiras e locais de eventos, recolha dirigida, limpeza de praias e capina.

Segundo a nossa fonte, para acondicionar este parque de máquinas e meios seria necessário um investimento nunca inferir a 9 milhões de dólares. Adiciona-se a este investimento outros custos, como salários, seguros, material gastável e imprevistos, e porque o contrato é celebrado por 5 anos, o “negócio não compensa”.

Diz ainda a nossa fonte que os mentores “do novo modelo de recolha de lixo em Luanda” não estão a ser honestas consigo mesmos e nem com as autoridades. “Se antes Luanda consumia 30 milhões/mês e mesmo assim nunca esteve limpa, ao reduzir o valor a um terço não é necessário ser-se economista para prever o fracasso”.

A Elisal-EP admite que está a fazer o possível, mas reconhece não estar à altura “da grandiosa empreitada”. Vê-se a braços com a falta de contentores, depois das operadoras desistentes terem retirado os seus meios. Neste momento a empresa recorre ao aluguer de meios e de máquinas para assegurar os serviços mínimos.

Enquanto isso, o lixo amontoa-se às toneladas no chão em toda extensão de Luanda, num quadro em que algumas estradas da cidade vão ficando estreitas por força das numerosas montanhas de lixo que nasceram e algumas zonas são vitimas do seu cheiro nauseabundo e outras ainda estão inacessíveis devido à obstrução das respectivas vias.

A Empresa de Limpeza e Saneamento de Luanda, fala em “mão oculta” que esta propositadamente a concentrar lixo nos principais eixos rodoviários com “propósitos desconhecidos”. A nossa fonte tem outra explicação. Para ela as pequenas operadoras tiram o lixo do interior dos bairros e o colocam na primeira lixeira que encontram. “No modelo actual não existe um sistema de controlo que obrigue as operadoras a levarem o lixo ao destino final que seria o aterro sanitário” afirmou.

Como alternativa, a população está a queimar o lixo, o que na verdade não é solução, porquanto o ar poluído é outro perigo, tal como é a mistura de vários artigos no lixo, incluindo químicos, que com o aquecimento pode provocar explosões. O maior temor de momento é o aproximar das chuvas, altura em que se prevê que pela via da contaminação das fontes de água e a insalubridade da atmosfera se propicie o surgimento de variadas epidemias.

A Elisal – EP apela à população a colaborar nesta fase transitória em que a cidade ficou sem contentores. A população deve “acondicionar correctamente o lixo em sacos de plástico. Amarrá-lo, para facilitar a recolha, tornar mais célere a limpeza e diminuir o desgaste dos meios técnicos e humanos em serviço”.

A gestora do sistema de limpeza pública de Luanda, reitera que continua “empenhada em inverter o actual quadro, estando neste momento a repor os meios técnicos nas áreas abandonadas pelas operadoras do antigo modelo”.

A nossa fonte acredita que o modelo pode até ser válido, mas o valor financeiro para a limpeza da cidade tem de ser incrementado, “pode não voltar aos 30 milhões de dólares/ mês, mas com 10 milhões também ninguém limpa Luanda”, sentenciou. Para ele, apesar de se estar a atribuir culpas à população, os moradores de Luanda sempre levaram o lixo aos pontos de recolha, aquilo que chamamos lixeiras. Acredita que se este elemento fosse bem aproveitando, incrementando um sistema organizado e ouvir os intervenientes no modelo podia-se obter melhores resultados.

Toma como exemplo o facto de cada casa na cidade ser limpa pelo próprio munícipe e família todos os dias. “De manhã as pessoas limpam as suas casas, combate insectos e ruminantes. O problema começa no espaço público, ou seja da porta para fora”. Sugere, que no espaço público deve actuar uma entidade que compreenda e dialogue com as pessoas e adapta-se ao comportamento da mesma.

Por enquanto o essencial é afastar o lixo das zonas residenciais, processálo em local apropriado e garantir salubridade às comunidades. Posteriormente terão de ser equacionadas outras soluções, como a reciclagem, o combate do excessivo recurso ao plástico e às embalagens de cartão, entre outras acções.