Luanda - “As diferenças sociais sempre existiram e referem‐se a processos relacionados na sociedade que têm o efeito de limitar ou prejudicar o status de um determinado grupo, classe, e/ou círculo social. As áreas de desigualdade social incluem o acesso à educação, saúde, habitação de qualidade, viajar, ter transporte, férias e outros bens e serviços sociais. Além de que também pode ser visto na qualidade de vida familiar e de vizinhança, ocupação, satisfação no trabalho e acesso ao crédito. Se estas divisões económicas endurecem, elas podem levar a desigualdade social...”

Fonte: Club-k.net

“ As diferenças sociais devem existir ...” já dizia Adolf Hitler. Mas o que acontece quando ela é bem evidenciada, não por culpa dos amaldiçoados “socioeconómicos” mas por culpa de terceiros? Defendo com as garras do pseudónimo que me caracteriza que cada um deve se beneficiar do seu esforço, usufruir do seu trabalho, colher o que plantou mas sem atamancar qualquer digno ou não digno cidadão. Mas agora me pergunto: será que por mais sabedoria que tenhamos, por mais fundamentos académicos que possuamos, estratégias financeiras, poderemos sempre obter fundos e mundos sem passar por cima de outrem? A lei do mais forte prevalece sobre o mais fraco quase sempre. Em meios familiares com o mínimo de educação quando o pai fala todos escutam. No jango onde a tradição predomina quando o soba fala todos devem escutar com cuidado. Deve ter sido assim que nasceu o ditado popular: “Quando um burro fala os outros baixam as orelhas”. Se existe a riqueza sempre existirá a pobreza que para além de ser um status social existente também é resposta da ambição de uma certa minoria para com uma maioria ainda superior. Não devemos ter ambições desmedidas mas ninguém está proibido de sonhar em ter um pouco sequer. Sabe‐se que o que não se ganha com sacrifício pouco valor se dá e facilmente se esbanja. O pouco gerado pelo sacrifício próprio tem mais valor que aquela “micha” ou aquele “bizno” que resolvemos na primeira esquina da sorte. Prefiro percorrer distâncias para alcançar satisfações duradouras do que as momentâneas e pondo em causa as minhas virtudes morais que por culpa do mundo corrompido ficam camufladas só para confundir a opinião pública. O dinheiro do salário tem peso de hino nacional: Um gajo lacrimeja ao gastar!

Os poderosos devem estar a dizer: “És muito jovem para falar de força e poder”. Se calhar sou mesmo por culpa do coração inocentado que (ainda) tenho.

Quando era mais novo, andei aos murros com o meu irmão porque sempre via maior o pedaço de pão dele servido pela nossa mãe ao vulgo mata‐bicho. Pura ambição e que por sinal na altura inconcebível mas entendida pela falta de noção. Com o passar do tempo fui aprendendo e vendo com os meus próprios olhos, que é fruto da natureza humana ver sempre maior e melhor o que pertence ao outro. “A dama do outro é sempre a mais boa”; “ O jardim do vizinho é sempre o mais verde”, sendo tudo parte da natureza humana, comparar para melhorar. Querer sempre ter o melhor e ser o melhor poderá se transformar em obsessão e que poderá ser compulsiva. Quando do muito que temos ainda temos a coragem de subtrair do pouco que o outro tem ou nada tem, já é preocupante. Passamos de seres humanos a devoradores de humanos. Acabamos por perder ou deixar evidenciado o pouco bom senso que se precisa. Muitas vezes esquecemos de onde viemos ou para aonde vamos cegados pela ambição desmedida com a agravante de ainda querer surripiar o miserável. Sede de viver o momento satisfazendo‐se com o derrapar alheio. Viver a cada momento como se do último se tratasse, ainda bem que com a noção de que a morte nos espera aleatoriamente. Esta nem sempre avisa quando chega.

Mas já imaginaram se a imortalidade fosse negociada e que o preço da troca seriam os pobres, os desgraçados sociais e académicos (vulgo analfabetos)? O que seria desta maioria mundial caso fosse possível? Imaginemos cada pobre miserável destruído, maltratado por culpa de um endinheirado a troco de mais 20 anos de vida? Seria o desmoronar literário do Morro do Moco e todos os outros que vivem na montanha jamais de lá sairiam para que não fossem vítimas.

Acho eu que ninguém escolhe ser pobre. Todos pretendemos ter um pouco para a sobrevivência tendo em conta o meio e a cultura. O suficiente para a satisfação pessoal. Dizem que a riqueza é a fonte de muitos problemas mas ainda acho que mais vale ter problemas com dinheiro na conta do que problemas sem ele. Se não desejamos ser rico queremos ter pelo menos o suficiente para alimentar as nossas necessidades básicas. Então quando até isto nos é retirado pelos detentores do poder financeiro, “as sanguessuga”, os “monstros da democracia”, segundo o já falecido poeta Eduardo Galeano, poderá causar uma determinada violência que poderá culminar em desacatos em meios sociais, revoluções e um certo descontentamento. Simplesmente porque uma certa maioria acha que uma maioria ainda superior (os pobres) nada merecem. Esquecem‐se que são chamados de ricos porque os pobres existem. Foi graças a pobreza que todo o ser humano desenvolveu. A necessidade gerada pela pobreza foi um impulsionador da roldana do cérebro do homem primitivo para assim começar a acreditar na mudança.

Renuncio‐me a ser pobre nas duas vertentes: material e intelectual. Só uma me basta e já é bem patente. Devemos ter cuidado com a pobreza que nós próprios causamos em nós. Aquele que se aceita pobre e nada faz para melhorar é pior que um parasita. Pobreza extrema contagia. É considerado cadáver andante todo o ser humano que nada faz para se desenvolver.

Os tais endinheirados estão atentos à questão da imortalidade em troca de qualquer pobre miserável. Se fosse possível adquirir a imortalidade em cada pobre que se desgraçava, até já sei quem seriam os imortais.

Edson Nuno a.k.a Edy Lobo, Licenciado em Língua e Literatura Inglesa

 

 

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