Luanda - Os importadores avisam que os medicamentos podem começar a faltar, porque não conseguem pagar devido ao problema de transferências de dinheiro. Outros ameaçam cortar o fornecimento aos hospitais públicos, porque há um ano que não recebem. O Ministério da Saúde admite que a ruptura poderá ser iminente. Ontem estava marcada uma reunião de emergência com o Ministério das Finanças e fornecedores para travar ‘cortes radicais’. Nalguns hospitais públicos e clínicas a falta de medicamentos já se começa a fazer sentir. Pelas redes sociais, chovem denúncias de falta de luvas descartáveis, medicamentos, anestesias e outros equipamentos.


Fonte: Nova Gazeta


Central Farmacêutica em "kilápi"

Apesar de a importação de medicamentos ter sido definida pelo Banco Nacional de Angola (BNA) como o segundo sector prioritário na venda de divisas, a orientação não tem sido cumprida. Várias empresas que vivem desse negócio têm tido ‘dores de cabeça’ no pagamento aos fornecedores. E prevêem “sérios problemas” e o possível corte de medicamentos.


Alguns produtos já começam a escassear, em algumas empresas, como é o caso da Central Farmacêutica. Tem “falhas” no abastecimento de artigos de puericultura, fraldas descartáveis e papas para bebés. Segundo uma fonte da empresa, se a situação prevalecer, daqui a um mês, começam a faltar os medicamentos que abastecem hospitais e farmácias.


O director nacional de Medicamentos e Equipamentos do Ministério da Saúde, Boaventura Moura, admite ter conhecimento das dificuldades enfrentadas pelas importadoras. A situação é tão preocupante que o próprio Ministério da Saúde marcou uma reunião urgente para ontem (quarta-feira) em que juntou fornecedores e o Ministério das Finanças. Boaventura Moura justifica o problema como uma “consequência conjuntural” do contexto do país. “As entidades farmacêuticas estão com muitas dificuldades”, admitiu em declarações ao NG, reconhecendo que há processos nos bancos desde o ano passado, mas que os bancos não conseguem satisfazer. E reconhece ainda que algumas importadoras estão a conseguir manter-se devido a “câmbios esquemáticos”.


Boaventura Moura admite que poderá haver rupturas de ‘stocks’ de medicamentos, mas promete que o Governo tudo fará para evitar esse cenário. A situação começa a ficar difícil para quem vê o ‘stock’ a esvaiziar-se. O responsável da Prince Farma, Aziz Rahemani, prevê, para breve, “sérios problemas” no abastecimento aos hospitais devido a “rupturas”. A Prince Farma fornece medicamentos aos hospitais de Luanda, Benguela, Huambo, Malanje e a outras províncias. “Nesse momento não faltam medicamentos”, assegura, mas avisa que, “talvez em dois meses teremos dificuldades e rupturas no ‘stock’.


Em ‘kilápi’


A Central Farmacêutica ainda tem mercadorias graças ao seu “bom nome”, que permite que os fornecedores aceitem ‘kilápis’, esclarece um dos responsáveis da empresa. “Alguns fornecedores continuam a enviar algumas mercadorias a crédito”, afirma a fonte da empresa, apesar de reconhecer que é uma situação que “não vai durar para sempre”. A empresa deve aos fornecedores cerca de 3,4 milhões de dólares e teme ver a imagem da empresa “suja” por “incumprimento” no pagamento. Além disso, enfrenta outra dificuldade: não recebe do Estado, desde o ano passado, pelo fornecimento de medicamentos. “Fornecemos aos hospitais do Estado e organismos estatais e até agora não recebi nenhum centavo.”