Luanda – Como se trata de contar histórias vividas por mim, permitam-me, mais uma vez, escrever na primeira pessoa do singular. Em 1980, eu, Makuta Nkondo, na qualidade de jornalista da Agência Angola Press (ANGOP), efectuei uma reportagem na província do Moxico, que durou cerca de três meses.

Fonte: Club-k.net
A minha chegada ao Luena, capital da referida província, apresentei-me ao Departamento da Educação Ideológica (DEI) do Comité Provincial do MPLA. Naquela época, a Informação dependia do DIP (Direcção de Informação e Propaganda) que faz parte da Esfera Ideológica. Não havia Ministério da Comunicação Social.

O comissário provincial (hoje governador) de Moxico era Marques Monakapui “Basovava”, o comissário adjunto (vice-governador) era Paulo Wime e o coordenador do DEI era Baltazar da Silva “Missoji”. O comissário provincial residia nas instalações da agência local do Banco Nacional de Angola (BNA), o Palácio estava em obra.

Missoji apresentou-me ao comissário provincial e fui acomodado num dos quartos do BNA.
No dia seguinte, o DEI traçou um itinerário da minha reportagem ao Moxico que incluía entrevistas aos dirigentes de empresas estatais na capital, visitas a barragem hidroeléctrica em construção pelos soviéticos no Dala, um município que separa as províncias do Moxico e da Lunda sul.

O programa previa também reportagens aos municípios longínquos de Luau e de Alto Zambeze. As autoridades colocaram a minha disposição uma avioneta, que tinha a inscrição província do Zaire com seu piloto.

O Sr. Aleixo Gonçalves, se não me engano do nome, secretário do comité provincial do MPLA para os Assuntos Sociais e a Saúde, foi indicado para me acompanhar durante a minha estadia no Moxico.

Um dia, quando nos dirigíamos de avião ao Cazombo, capital do município do Alto Zambeze, em pleno voo, eu solicitei ao Aleixo para que me levasse as aldeias dos pioneiros Augusto Ngangula e Zeca.

Eu disse-lhe que queria entrevistar os familiares destes pioneiros, Ngangula e Zeca, fazer reportagens sobre as suas comunidades, os seus ascendentes maternos e paternos - bisavos, avos, pais, tios, irmãos, etc.

Aleixo me escutava atentamente. Expliquei-lhe que - para mim - os familiares de heróis também o são (heróis). Mesmo os membros das comunidades destes pioneiros, são heróis.
Também são heróis o(s) testemunha (s) que assistiram a cena destes pioneiros quando foram capturados pela tropa portuguesa, quando estes se dirigiam a escola, e recusaram denunciar ou mostrar as bases de guerrilha do MPLA, e reportaram a história ao movimento.

Insisti dizendo ao Aleixo que mesmo se todos estes já morreram, gostaria de conhecer as suas campas e os seus descendentes que podem estar em vida. Todos estes merecem uma grande reportagem, para o povo conhecer as verdadeiras origens dos seus heróis.

Ainda estávamos em pleno voo com destino ao Cazombo, quando Aleixo me olhou respondendo que “se não queres fazer a última reportagem da tua carreira jornalística, vamos ao Cazombo”.

Fomos ao Cazombo onde fui acomodado na residência do comissário municipal do Alto Zambeze. No dia seguinte, fui levado a visitar a ponte sobre o rio Zambeze, alguns arrozais e, ao regresso, a Rainha Nyakatolo.

Em Cazombo, eu pedi ao Aleixo que queria fazer reportagens sobre as Zonas A e B do MPLA, pelo menos sobre os seus vestígios se não encontrarmos resistentes. A minha surpresa, Aleixo levou-me a visitar a sede da Comuna de Kalunda, onde me foi oferecida um cinzeiro escultado em pedra de Kalunda.

Aleixo não respondeu ao meu pedido de me levar aos quartéis de guerrilha do MPLA nas zonas A e B e não me explicou nada. Em seguida, fui levado a visitar Caripande, um posto fronteiriço situado junto a fronteira da Zâmbia, que estava em reconstrução.

Karipande e nome de um riacho que separa Angola da Zâmbia. Aqui encontramos um senhor que disse chamar-se Canivete, como chefe de obra. Este mostrou-me os escombros de um edifício colonial onde, segundo explicou, o Comandante Hoji ya Henda e Emílio Mbidi, sindicalista da UNTA, tombaram, em ataques separados.

“A bala que matou Hoji ya Henda entrou pelas costas e saiu a frente, o que quer dizer que ele foi assassinado por um companheiro seu”, explicou.

Eu (Makuta Nkondo) conheci Emílio Mbidi, um senhor de estatura baixa que vestia casaco grande sem gravata e tinha “cicatrizes” na nuca. Lhe conheci em Kinshasa, quando ele frequentava um Bureau da UNTA (União dos Trabalhadores de Angola) que funcionava num quintal onde eu fui criado, na rua de Baraka, nº 63, zone de Kinshasa.

Nos anos de 1962/63, antes de se transferir para o lestes de Angola, Hohi ya Henda, tentou sem sucesso abrir uma frente militar nas Lundas, entrando por Kamasilu, em Angola. OMPLA ainda tinha a sua sede em Kinshasa, quando Hoji ya Henda se deslocava Baptista Pedro, mais conhecido por Paroão-a, o efeito com destino a cidade de Kikwit, capital da província de Bandundu.

Em Kikwit, Nzinga Baptista era o representante do MPLA e Hoji ya Henda, o comandante do EPLA (Exercito Popular de Libertação de Angola, o braço armado do MPLA). E estranho que Hoji ya Henda seja considerado herói pelo MPLA e Nzinga Baptista – ainda em vida – vive abandonado e desempregado, anda a pé e de andrajos.