Luanda - O semanário Agora, um dos jornais mais antigos da imprensa angolana, está em vias de encerrar definitivamente as suas portas, depois de uma ausência de há duas semanas das bancas.

*Francisco Ambrósio
Fonte: Club-k.net

A direcção do jornal, assim como os seus gestores não avançaram nenhuma justificação sobre a ausência da publicação que acontece pela segunda semana consecutiva. O desaparecimento deste título, segundo alguns observadores, era mais ou menos previsível, devido à postura bastante crítica à governação que o jornal tinha assumido nos últimos tempos, assim como à crise económica que actualmente afecta a quase totalidade dos jornais privados que poderá levar ao seu encerramento. Nas redes sociais, alguns dos habituais comentaristas já tinham admitido a hipótese do jornal não sobreviver por mais tempo. Há informações de que os prolongados atrasos salariais que se registavam terão já sido ultrapassados, mas pairam ainda sinais de crise e desempregos em massa, algo que é, de resto, extensivo a um número considerável de publicações privadas.


Consta que os irmãos Madaleno, proprietários do referido título, avançaram em tempos com uma proposta de transformar o “Agora” num jornal electrónico, uma ideia que terá sido liminarmente reprovada pelo colectivo de jornalistas.

A iniciativa, na óptica dos trabalhadores, estaria a esconder objectivos pouco claros, havendo mesmo suspeitas de uma “morte suave do jornal”, de forma a levar os seus profissionais a abandonarem voluntariamente a publicação. Esta estratégia, a concretizar-se, livraria, segundo os mesmos funcionários, os seus proprietários do pagamento de indemnizações.


As desconfianças têm aumentado nestas últimas semanas motivadas não só pela falta de diálogo entre as partes, como também pelo facto de não terem sido ainda honradas as dívidas herdadas da anterior gestão, cujo passivo os actuais proprietários ter-se-ão comprometido a pagar aquando da compra da publicação. As perspectivas de pagamento dessa dívida são cada vez mais remotas, pelo menos a «curto prazo», conforme revelou ao Club-k um dos funcionários do “Agora” que falou na condição de não ser identificado.


Os atrasos salariais que se registam na generalidade das publicações, aliados à falta de diálogos ou, antes, aos “diálogos surdos” entre os seus gestores e os trabalhadores têm servido para aumentar as especulações à volta do encerramento dos distintos títulos e a consequente fuga de pagamento de indemnizações. Depois de um período de crispações, com edições interpoladas, o semanário “A Capital” retomou há poucas semanas o seu curso normal de impressões, mas os sintomas da crise continuam ainda presentes nessa publicação. Consta que os trabalhadores estão há três meses sem receber salários, havendo também informações sobre a falta de liquidez para honrar os compromissos com a gráfica.

É quase convicção generalizada que os jornais privados, supostamente alimentados por um “saco azul” , estão condenados ao seu encerramento, a curto ou médio prazo, devido aos elevados custos financeiros da sua manutenção.


A crise, como é de domínio público, já afectou igualmente a estação de rádio privada afecta à igreja católica, havendo informações de que os salários dos radialistas da Ecclésia estarão a ser pagos a meias.

Alguns estrategos do regime são citados como tendo gizado uma estratégia governamental que passaria pela criação de jornais electrónicos, que iriam substituir paulatinamente os jornais escritos. Além dos baixos custos da sua produção, os referidos jornais teriam ainda a vantagem de levar as informações aos leitores em tempo real.