Luanda - Desde o inicio do último semestre deste ano que temos vivenciado inúmeros acontecimentos a nível nacional e que além do interesse que os mesmos suscitam, têm despoletado a manifestação de opiniões das mais variadas e distintas franjas da sociedade angolana. Quando tudo indicava que a crise do petróleo e posteriormente do lixo na nossa urbe fosse continuar a ocupar espaço nas redes sociais e na média “pública” e privada e quiçá internacional interessada pelos acontecimentos cá. Eis que surge o caso 15+1 (Agora 17) – em alguns sectores identificado como o caso “golpe de Estado” ou “Revu”, destacando-se não só por ser um caso já na esfera judicial, mas pela sua contextualização.

Fonte: Club-k.net

É nessa perspectiva que ouso em prestar algum contributo, a medida que tento compreender a natureza deste caso. Estávamos no ano de 2011, quando ouvi pela primeira vez o uso da expressão arruaceiros e com um certo pendor desprezível, para retratar os elementos adstritos ao "Movimento revolucionário" - vulgo Revús e a todos, embora em menor número, quanto haviam aderido a mais uma manifestação desse movimento, contra o então governo de Angola.


O maior espanto foi sobretudo, porque encontrávamos num espaço onde pressupunha haver maior abertura para o diálogo e compreensão ao contraditório, bem como a diversidade e formação de opiniões. Estávamos num espaço académico e o pronunciamento acabava de ser proferido por um(a) docente universitário(a), cuja idoneidade era inquestionável até então. Questionei-me sobre a razão e a motivação de tal pronunciamento e apenas percebi quando horas depois a mídia pública vinculava a mesma expressão aos manifestantes. Daquela data adiante, fui acompanhando com maior interesse todo o “episódio que envolvia os Revús e a reacção do executivo ”, que julgo estar num dos capítulos de maior interesse e que levou-me a seguinte reflexão:

Como podem arruaceiros – àqueles que causam ou tendem a fazer arruaça; que fazem parte de arruaças, que participam ou gostam de participar de brigas de rua; que são valentes em brigas de rua – serem constituídos em co-arguidos em processo de Querela, num crime de actos preparatórios para a prática de rebelião e atentado contra o Presidente da República ou outros membros de Órgãos de Soberania de um Estado?


Acredito que a abordagem inicial foi feita fora do contexto da situação e do tratamento que os “arruaceiros” mereciam. Pois nem mesmo o Fórum Nacional da Juventude, que visou à auscultação e diálogo com os jovens por parte das autoridades angolanas, processo que decorreu ao longo de dois meses em todo o país e no exterior, realizado em Setembro de 2013, impediu a “transumância” dos “arruaceiros” à “golpistas”

Entendo que, deve haver um novo formato de diálogo com a juventude, pois a mesma não circunscreve-se aos círculos partidários, tão pouco aos Revús. A discussão desse problema deve acautelar as reais motivações da juventude e não podemos esperar que os mesmos resolvam-se a partir de sentenças judiciais. Pois o day-after ao “caso 15+1” pode ter repercussões mais alarmantes, quando nem mesmo a “casa de Deus” serve de conforto para os que buscam reconciliação e paz para os seus espíritos.

N’junjulo J. António.

Jurista.