Luanda  - À COMISSÃO ORGANIZADORA DO 40o ANIVERSÁRIO DA INDEPENDÊNCIA NACIONAL

Nestes dias ouvindo o Hino Nacional recordamos logo uma memória saudosista, a proclamação da Independência Nacional. Lembramos de todos os antepassados e contemporâneos, jovens e mulheres que se mobilizaram para que essa empreitada magistral se realizasse. Tudo isso poderia representar um instante na corrida pela vida, neste frenesi das faculdades e dificuldades, onde os que mais reclamam por Direitos são considerados frustrados de toda a ordem e espécie. Mas não!

Fonte: Club-k.net
Esse instante é um infinito que sobressai quando se ouve os acordes do Hino Nacional, o Içar da Bandeira Nacional e na mais popular das emoções, nas competições desportivas internacionais, quando nos resvalamos em lágrimas por perder e ao mesmo tempo por ganhar uma partida. E o grito estridente que enaltecem a Pátria em momentos de euforia e satisfação. São esses sentimentos hibernados em nós, que no momento certo despertam a consciência de soberania e no caso de invasão, interna ou externa, forma uma das armas mais temíveis que pode existir “O sentimento pátrio ultrajado”. Aí o estimular do “Participacionismo” – o conceito que engloba todos a se mobilizarem, acontece. Desde o Rico ao Mendigo, do Soldado ao General, do Manso ao Intrépido, do Lumpene ao Católico, assim, se arma a pátria para o que der e vier! Até os dementes se elevam a esse espírito, entram em juízo perfeito e balbucia em tons arrojados a palavra “Pátria”, com “P”. Por mal que pareça, numa sintonia bastante audível. Por assim ser, bastante estruturado e coeso o grito de Liberdade. O 11 de Novembro de 1975 é a data de aniversário de uma mãe, data da Independência Nacional de Angola, mãe pátria, que gerou filhos e com o cordão umbilical de todos construiu uma teia que nos liga genética e afectivamente de Cabinda ao Cunene e do Mar ao Leste.


Aprendeu­ se muito e errou­ se muito. Não obstante, a política fazia sentido. Acreditávamos que poderíamos mudar as nossas vidas e a de Angola – e muitos mudaram apenas as suas vidas e hoje é difícil nos reconhecermos entre irmãos, camaradas e companheiros da marcha triunfal. Fazendo de Angola uma pátria “p” que se desfaz do patriotismo.


Uma das características da militância política nesta fase é que, ela dizia respeito ao nosso dia a dia. Até mesmo de uma criança em estado de gestação no ventre da sua mãe. Ninguém tinha como se restringir a isso. Acreditávamos que construíamos a sociedade nova, o novo homem, a nova mulher, na proeminência de assegurar as futuras gerações. Foi assim desde o primeiro momento que nos mobilizamos. A utopia da sociedade justa e igualitária se tornou numa sociedade que coabita entre a perseguição e a tolerância, onde se mistura o sagrado e o profano. E isso se concretiza a partir das coisas pequenas às coisas mais simples. Muitos compatriotas pensam que, pelo facto de irem ao Maqui, para a luta, são reis, e que podem pôr os pés em cima de quem quer que seja. A sua honra é digna de ser. Mas não é digna de excessos. Esses compatriotas enganam­ se. Porque estando na mata ou fora dela a nossa luta foi feita em comum, com todos e para todos. Foi isso que motivou e inspirou o primeiro Presidente de Angola, Dr. Agostinho Neto a lançar a palavra de ordem: “Cada cidadão é e deve sentir ­se necessariamente um soldado” isso é que faz a nossa igualdade comum e automaticamente a diversidade de mérito entre nós.


Os efeitos desta exclusão aberta e vergonhosa são desmascarados com a demagogia de Unidade Nacional. Porquanto, onde está tudo quanto é mais sagrado, se promove a perseguição. Sabemos todos ou senão alguns, que só extremistas assim procedem.

A prova disso tudo, que parece pouco ou simples é que mesmo sendo nós, filhos da mesma mãe, somos alguns convidados para o Aniversário da nossa própria Mãe. Isso é inconcebível. Acrescenta­ se ainda a essa antipatia gratuita, a comparação de, quando há festa, irmãos a uma grande dimensão são estranhos. Nem mesmo na vulgar chamada continuação, lhes são dados, pelo menos, o Direito a mendicidade, as restas de uma fatia do bolo! Agora deu­s e a “Crise” – instala­ se o óbito – irmãos a grande dimensão somos todos obrigados a chorar baba e ranho. Outros, não sei se irmãos, indiferença total face a quão propalada “Crise”. Fica assim o adágio: “Quando há festa só para uns. Quando há óbito choramos todos”.

A grande e louvável divulgação do 40o Aniversário da Independência Nacional, não faltou quem sabotasse e lhe usasse como arma de arremesso político com um pendor altamente eleitoralista. As grandes personalidades políticas do país accionam o gatilho do protagonismo, narrando a história em torno de uma só franja, quer dizer unilateralmente, como que os únicos heróis, os únicos libertadores da Angola colonial, só são os do MPLA. Um protagonismo esdrúxulo que fragmenta a esperança da construção de um Estado Nação. Não há pluralismo muito menos comunhão de feitos. Essa intolerância é a mesma que afunda os partidos políticos e barram a sua entrada nas instituições do Estado para o exercício da Democracia e no espírito de Unidade Nacional promover o diálogo que produz paz e fraternidade. Como se pode falar de unidade nacional se assim nos deparamos com a perseguição!? Muitos para a cerimónia solene, a data sagrada, já receberam os convites. Partidos políticos, personalidades eminentes, membros da sociedade civil, músicos e celebridades, o entusiasmo positivo que os conduz nesta data de celebração é merecedor, mas escapa­lhes a visão de que, aí presentes, só fazem o papel de material de propaganda do partido no poder.


Se o acto solene fosse organizado pelo Estado, isso englobaria todos. Pois o Estado é indissolúvel, onde todos fizemos parte e estaríamos para o efeito, acoplados em comissões de trabalho, por sermos rebento da mesma mãe. Estando a fazer por Ela um dever sagrado.

Mas, como está a ser organizado pelo governo do MPLA, com a hegemonia da ditadura, pressuposto da maioria, amputa o Direito de maternidade do Estado. O governo é usurpador, ressalta­ se aqui o profano. A festa é a tolerância. Mas entretanto, a separação do acto solene do Estado, que inclui todos, é a perseguição. Concepção Propriamente talhada para classificar de estranho os compatriotas. Com essa manobra política, nos tornamos estranhos, apenas convidados, no aniversário da Nossa mãe pátria.

Companheiros, camaradas e irmãos! Compatriotas honrados por juramentos da pátria, ninguém deve ficar de braços cruzados! Não temos mais nada senão, como mais fazer, vincar a Constituição, o seu princípio Uno e Indivisível, há muito postergado, e corrigir essa atitude e em tempo recorde construir uma Mesa da Fraternidade, onde nos sentamos todos, sem rancores, sem cores partidárias, depurar as vinganças históricas que se arrastam até o poder judicial, onde acabam por afectar juízes, advogados, e a sociedade no geral. Os juízes não são máquinas que facturam sobre dados introduzidos. Os juízes são personalidades que têm uma mundividência impar e, por lisura não se desmancham da consciência jurídica.


Pois da Independência Nacional deriva a independência do Poder Judicial, Executivo e Poder Legislativo. Por conseguinte, como é um instituto que não separa, é o imperativo de interdependência consequente, nas nossas vidas, e na vida das instituições.

Neste 40o aniversário da mãe pátria, muitos sonhos podem se realizar, nem que for por um instante: viver a real Democracia sem perseguições; separar o sagrado do profano; enaltecer o direito de opinião; promover o valor dos homens competentes, sem qualquer discriminação. E aos jovens lhes transmitir que não importa de que árvore genealógica pertencem. Se são filhos de competentes ou incompetentes ou mesmo filhos de homens de passados violentos, o que importa é sermos todos filhos de Angola. Pois, por isso, estamos condenados a coexistir juntos e edificar uma Angola livre, dos filhos livres, que decidem e deliberam.
E numa hora de evasiva, ali sim, podemos juntos como todos, apegados a herança dos nossos antepassados, lançar uma palavra de paz e Unidade Nacional.

Viva a Independência Nacional!

Sotto Mayor