Luanda - O tribunal do Huambo começou na sexta-feira o debate instrutório do caso da seita “A luz do mundo”, cujos fiéis e polícia se envolveram em Abril deste ano confrontos mortais, mas a defesa abandonou a sessão em protesto.

Fonte: RE/Lusa

A posição foi transmitida à agência Lusa pelo advogado David Mendes, da associação Mãos Livres, explicando que “mais uma vez” foi negada a pretensão da defesa, desta vez pelo juiz que conduz o debate instrutório, de fazer uma reconstituição dos

crimes no local onde terão ocorrido, no monte Sume, município da Caála, no Huambo.

“Não ocorreu e até agora continuámos impedidos de chegar ao monte Sume, de saber o que aconteceu no terreno. Pensávamos que o juiz tomaria a decisão de ir lá reconstituir o crime, mas lamentavelmente não o fez, não permitiu”, observou David Mendes, que reclama tratar-se de um passo essencial na defesa de José Kalupeteka e mais nove elementos daquela seita acusados pelo Ministério Público (MP).

Kalupeteka, nome pelo qual também é conhecida a seita, de 46 anos, está detido preventivamente na sequência dos confrontos na Caála que levaram à morte, segundo a versão oficial, de nove polícias e 13 fiéis, a 16 de Abril de 2015.

O debate instrutório deste processo tinha sido requerido no início deste mês pela defesa dos arguidos, para “aclarar” dúvidas na acusação.

Contudo, face a esta recusa do juiz, denunciada pelo advogado da associação Mãos Livres, David Mendes confirmou à Lusa que abandonou o debate instrutório, na sexta-feira, desconhecendo se foram marcadas novas sessões neste processo, que antecede a marcação do julgamento e o despacho de pronúncia dos arguidos.

“Não aceitámos [participar na instrução] enquanto não se for ao terreno, é imprescindível este passo. Ninguém pode fazer uma defesa sem se conhecer o local do crime, sem saber o que se passou no terreno, ficando apenas com o que diz a polícia. É contra todas as regras do Direito”, criticou o advogado.

Onde pára a guarda pretoriana de Kalupeteca?

Seis meses depois daqueles tristes acontecimentos que agitaram a sociedade angolana, ninguém conseguiu ainda provar as acusações de que o chefe dessa seita “A luz do mundo” tinha em sua posse um arsenal de armas escondidas, conforme disseram na altura alguns altos responsáveis do poder, como o secretário de Estado do Interior, Eugénio Laborinho, e o segundo comandante-geral da polícia Paulo de Almeida.

Em relação a este assunto, um observador notou que ninguém conseguiu mostrar uma única peça do material de propaganda da UNITA que se dizia ter sido encontrado na base do Kalupeteca. Também não se conseguiu provar as ligações políticas que Kaputeteka teria com o galo negro.

Recordou que o líder da seita religiosa tinha ainda sido acusado num artigo escrito pelo jornalista e analista político Celso Malavaloneke de que tinha uma guarda pretoriana composta por 400 homens.

“Até hoje nada se sabe do destino de tais homens, se é que eles existiram” Dá para perguntar: Como foi possível Kalupeteka manter em segredo durante esse tempo centenas de homens armados? Como é que esse pequeno exército conseguiu sobreviver, sabendo-se que para mantê-lo vivo era necessário possuir uma retaguarda logística: alimentos, vestuários, medicamentos, campos de treinos, armas, etc. Será que os supostos homens armados viviam de saques e emboscadas aos carros. Estarão eles ainda a monte?