Luanda - Delírios - crenças em fatos irreais que não possuem base alguma na realidade; Alucinações - ver ou ouvir coisas que não existem; e Pensamento Desorganizado - incapacidade da pessoa formar uma linha de pensamento coerente. Estes são alguns dos vários sintomas da esquizofrenia.


Fonte: Club-k.net

Desde a reafirmação do posicionamento de esquerda do MPLA pelo seu presidente, passando pela mudança da Constituição da República que atribuiu super poderes ao Chefe de Estado, até a acusação de tentativa de golpe de Estado por parte de uma dúzia de jovens e repressão de vigílias silenciosas, as atitudes do executivo têm se aproximado cada vez mais a estes sintomas. Porque só em delírio é que o governo de Angola é de esquerda; não seria difícil atribuir as contradições das atitudes do partido no poder com a nova Constituição da República por si elaborada a um padrão de pensamento desorganizado; e afirmar que a apreensão dos jovens presos políticos foi feita em flagrante, nas circunstâncias em que foram detidos e com a acusação de intenção de destituir o Presidente da República, só não beira a loucura se tal for decorrente de uma alucinação!

Estas, dentre muitas outras falhas, só vêm evidenciar cada vez mais o estado em que o nosso governo se encontra. Atitudes que têm vindo a por em risco a própria saúde do Estado Angolano, pois as instituições que o definem são constantemente desrespeitadas e tratadas como propriedade de um grupo de pessoas, que aparentam sequer ter noção de Estado.

Como cidadão angolano, sinto o governo vigente cada vez mais distanciado da realidade do país. Sinto-o alheio a verdadeira condição do povo. Sinto-o desconhecedor dos problemas que verdadeiramente assolam a sociedade que rege. Contrastando essas observações, temos os órgãos afilhados do regime retratando uma verdade onde Angola é o país africano com melhores infraestruturas; maior crescimento económico-social; nível de desenvolvimento estonteante, comparável ao dos maiores países do mundo e tudo o resto que é bradado aos quatro ventos; e que qualquer oposição, até quando manifestada pelos mecanismos aprovados na lei (elaborada por estes mesmos órgãos) remete ao país o regresso da guerra, que é sem dúvida a objectificação de todos os medos de todos os angolanos.

A arma do medo é a mais conhecida do governo, pois ele mesmo tem sido sua vítima, antes mesmo do início do Estado angolano. A repressão, intimidação e até a execução foram, desde a implementação de um governo no país, armas usadas contra esta ameaça aparente. Ameaça que, como é comum nos casos de esquizofrenia, são impostas a quem rodeia o paciente. O medo é-nos imposto, e nós o perpetuamos nas nossas casas, escolas, postos de trabalho... No nosso dia-à-dia. E cabe a nós quebrar esse ciclo. Nós que somos saudáveis e partilhamos deste distúrbio, que não é nosso, de forma indirecta.

E é isto o que esta nova vaga de jovens, que contam com Luaty Beirão como cabeça de cartaz, tem vindo a tentar fazer. Sem querer entrar no mérito da natureza das suas acções, o facto é que eles se deram conta desta "folie en famille" e movimentam-se contra a mesma, arcando com as consequências que as suas atitudes acarretam. A polémica greve de fome é um exemplo de tais movimentações.

Por mais divergentes que sejam as opiniões que forma, a atitude de Luaty Beirão é mais uma manifestação da luta declarada contra este medo que assola a nossa sociedade. E perante tal, o medo manifesta-se, revida contra os ataques que sofre, evidenciando cada vez mais a sua forma, a sua natureza esquizofrénica. Ele aparece nos jornais, nas televisões, nas rádios; em todo lugar. Retribui ofensivas nunca efectuadas, responde provocações inexistentes.

Mas como diz o ditado, quem não deve, não teme. E Luaty parece conhecer essa verdade de forma profunda. Ele luta contra o medo sem medo, desbravando assim a trilha que convida os seus parceiros e todos os outros que queiram se desfazer desta fobofilia, que nos afecta muito negativamente, a seguir. Ele inspira mentes, que não obstante serem portadoras de ideologias diferentes, unem-se sem medo na luta contra o medo, aumentando o tamanho do círculo.

Visto desta forma, considero Luaty o farol que devolve a esperança a quem já está tão perdido na esquizofrenia que sequer sabe o caminho de volta à realidade. Assim sendo, que transportemos esta luz de forma não leviana. Que nos deixemos contagiar por ela e contagiemos a quem nos rodeia, como o que temos testemunhado nas demonstrações de apoio a Luaty nas redes sociais, na organização de vigílias e até nos pronunciamentos de entidades política e sociais reconhecidas no exterior do país. Mas que não paremos por aí. Que nos moldemos e ajudemos a moldar uns aos outros de forma a erradicar a esquizofrenia do medo da nossa essência, daquilo que nos faz ser[es] humanos.

Não há nada de novo sob o Sol. Quando o povo saudável liberta-se das correntes do medo imposto por um regime esquizofrénico, o medo é derrotado. A história é a mais fiel testemunha deste facto. Portanto, por mais que os cães ladrem, a caravana do tempo continuará o seu percurso. E se esta se mover sem medo, os cães permanecerão na sua insignificância, latindo frivolamente.

Feliciano Amado