Luanda - Já é um dado adquirido, o OGE de 2016 tem como preço de referência de base os 45.00 dólares o barril. Qualquer oscilação abaixo deste preço, o economista nacionais unanimemente acreditam que haverá um colapso total da economia com consequências nunca antes vistas para a economia angolana.

Fonte: Club-k.net

Eu porém, acredito com base nas evidências técnicas, e até mesmo empíricas, que o preço de referência de $45, é conservador e o Executivo poderá ver o preço do crude a atingir $80 em 2016.

Dentro de um cenário depressivo, e com poucos trunfos, o Executivo mesmo assim garantiu que o OGE proposto para 2016, vai cumprir com as funções básicas do estado, tendo cabimentado para o sector social uma dotação de 43% do OGE que na sua totalidade está avaliado em 4.6 bilhões de dólares.

Os preços das commodities, como o crude e outros, continuam a deteriorar‐se no mercado internacional. Alguns economistas internacionais, têm alertado aos Países Produtores dentro da OPEP e fora, para olharem para as pressões que são parte da subida dos preços desta “commodity”. Estas indicam que só será possível verificar‐se uma subida dos preços nos próximos dois anos. Estes, altura em que o a procura e a oferta possivelmente poderá começar a aproximar‐se do equilíbrio desejado.

Mesmo sendo evidente que este sector sempre experimentou “booms e busts “, tem sido norma para o sector na última década, um preço entre $ 90 a $100 por barril.

Para os críticos do OGE para 2016 por causa do preço de referencia de $45 o barril, pressuposto de planificação ( planning assumption), tento aqui descordar convosco e deixar uma mensagem positiva para o futuro de todos nós

O primeiro argumento em questão e em defesa da subida do preço para $80 em 2016, sustenta que o abrandamento ou mesmo a redu;ao na produção e nos estoques de crude pelos países não membros da OPEP, vão fazer com que o preço do ouro negro, chegue ainda no primeiro trimestre de 2016, a $80 o barril. Quando isto acontecer o Executivo angolano vai ter sua proposta de orçamento geral vindicada e estaremos de regresso as vacas gordas ou seja a um superavit nas receitas provenientes das exportações do crude. Este cenário será possível se as seguintes condições forem atingidas:

  1. Um balanco do inventários de crude a nível mundial sem excedentes,
  2. Uma demanda do crude na curva ascendente e ao mesmo tempo o fornecimento do crude pelos países não membros da OPEP a diminuir,
  1. Os altos custos de exploração nas águas profundas e ultra profundo desestimulando investimentos das multinacionais nas regiões ondem operam,

4. Os altos custos de exploração do petróleo das rochas no Estados Unidos e Canadá versus os custos de exploração entre os maiores produtores constituindo um estrangulamento dos CAPEX de muitas empresas no ocidente,

  1. Possível decisão da OPEP na sua próxima reunião de Dezembro em reduzir as suas quotas de produção, com efeito mágico no mercado do crude imediato.

Essas cinco condições, podem acontecer em simultâneo, colocando assim o mercado do crude bem abaixo do fornecimento atual permitindo assim que a demanda mundial situe/se abaixo da linha do equilíbrio já no último semestre de 2016. Fazendo uma rápida correlação estatística, o mais inteligente é preconizar o crude angolano a vender a $80 o barril no próximo ano.

Sempre defendi que para o bem de Angola, na próxima reunião da OPEP marcada para 4 de Dezembro de 2015 em Viana, Áustria, o nosso Ministro dos Petróleos, devia ser mais assertivo, firme e até mesmo intransigente em dizer bem claro ao cartel que a Arabia Saudita deve dar exemplo e reduzir a sua produção para pelo menos 7 mil barris dia. Isto porque esta nação com mais 2 triliões de reservas em PIB acumulado da época das vacas gordas, pode financiar o seu PIB a longo prazo, sem grandes sobressaltos.

A guerra do Yemen, e as rivalidades com os produtores do petróleo das rochas e o Irão, não podem prejudicar nem justificar a razão da intransigência deste membro em cortar a sua produção e causar esta crise que para muitos países membros como a Venezuela, Nigéria e Angola alimenta a instabilidade politica e social.

Sabe‐se também que a Arabia Saudita não vê o retorno do Irão como produtor e exportador. Segundo Roqneddin Javadi, da companhia nacional de petróleos do Irao, o pais espera voltar aos níveis de exportação de antes das sanções. Note‐se que este nível antes das sanções situava‐se em 2,5 milhões de barris dia.

Olhando para a economia angolana para 2016, sabe‐se que ela vai continuar a sofrer as consequências da baixa do preço do crude, com um crescimento do PIB a desacelerar a 3.8% em 2015 e 4.2% em 2016, uma baixa de 3% em relação a 2014.

Para sermos mais equilibrados, há a necessidade de reconhecermos que os custos de exploração em Angola, nos campos das aguas profundas, e ultra profundas, nas camadas de sal e pré sal obriga a custos muitos altos e apontam para um efeito de NPV negativo, que as petrolíferas não aceitam. Estamos aqui a falar do segmento chamado Upstream que consiste na explora; ao e produção do crude e gas ou também chamado E & P. Se falarmos do downstream, que é o segmento de refinação, as petrolíferas ainda continuam a ser veículos de exploração ilícita de crude nos países como Angola. Senão vejamos:

  1. As multinacionais sediadas em Angola ( BP, Total Chevron, Exxon Mobil, etc,) estão sim a experimentar altos custos de exploração e produção dentro PSA angolano. Isto porque o retorno dos seus investimentos não estão a render tanto assim por cada barril produzido,
  1. Mas para o segmento da refinação do crude tal como gasolina, gasóleo jet fuel, lubrificantes e outros petroquímicos para fazer coisas como tinta e plásticos, os preços atuais são uma bênção para as multinacionais,
  1. Neste sector, os lucros durante este período da crise têm sido extraordinários considerando que os custos dos Inputs, que são o crude, são baixos, levando a uma margem de lucros muito altos que não beneficiam os países Produtores. (O litro de combustível é muito mais barato no Zimbabwe que não produz crude do que em Angola).

Em suma, estes gigantes não sabem e não gostam de perder. Eles beneficiam do nosso crude de alta qualidade como é o caso do campo Girassol, que compete com o Brent do mar do norte, em seguida eles refinam este crude e vendem‐nos os produtos provenientes de suas refinarias a preços exorbitante e proibitivos.

Não podemos aqui crucificar as operadoras internacionais pelos lucros que eles obtêm apos a refinação do nosso crude. As cadeias de valores servem mesmo para fazer sinergias e criar valor no mercado. O problema de falta de capacidade de refinação em Angola, é culpa pura e simplesmente do Executivo que em tempos de vacas gordas, não conseguiu iniciar e concluir o projecto da refinaria do Lobito e efetuar a ampliação da refinaria de Luanda.

Lembro‐me ainda em 2006 trabalhando para a BP em Londres como expatriado a assistir reuniões de alto nível. O consenso geral que pude retirar entre as operadoras ocidentais baseadas em Angola, era de que o projecto da refinaria do Lobito não era viável já que os indicadores económicos do projecto eram todos negativos (‐NPV).

Passados 10 anos, com indicadores negativos ou não, houvesse responsabilidade e rigor da parte deste Executivo, teríamos hoje uma refinaria a beneficiar‐se dos preços baixos do crude em 2015 e a produzir mais de 200 mil barris dia dos produtos refinados provenientes do Lobito.

Certamente teríamos um vasto mercado da SADC e do continente a abastecer. Angola estaria a exportar para a SADC e Africa, maximizando assim as opera;oes do porto do Lobito e o CFB. O Executivo não pode hoje penalizar os consumidores em pensar em aumentar mais uma vez os preços de combustível.

Até agora, não há provas de transparência e responsabilidade fiduciária a quanto ao uso das receitas provenientes das duas subidas consecutivas dos preços dos combustível. Como tudo em Angola, questionar os destinos destas receitas pode ser uma atitude antipatriótico.

Angola precisa de lideres patrióticos, com cabeças e cérebros de homens e não de crianças como podemos constatar com a crise artificial que o País vive.

 Com a prisão dos 15+1, o Executivo a meu ver, convidou a si mesmo o criticismo de todo mundo para a sua governação e suas politicas económicas. Os indicadores macroeconómicos da nossa economia, deterioram‐se a cada trimestre. Há carência de tudo, o deficit para o OGE de 2016 já ronda na casa dos 5.5%. Não há divisas para aqueles que precisam mais a economia paralela dirigida por estrangeiros libaneses e norte africanos, esta tem divisas até para vender aos angolanos.

Angola na década passada foi considerada como um exemplo brilhante de um País Africano em franco crescimento, ou como uma das economias que mais crescia no mundo. Tudo devido ao seu crude a experimentar um grande “boom” e que foi possível até mesmo socorrer a economia do antigo mestre colonial – Portugal.

Prender jovens cansados deste tipo de gestão e acusa‐los de golpistas, no mínimo é uma falacia muito embora, Angola conheceu já vários golpes de estado no decorrer dos seus 40 anos de independência e todos eles bem‐sucedidos. Eis a cronologia dos golpes de estado em Angola:

  1. A Declaração da Independência de Angola em 1975 pelo Dr Antonio Agostinho Neto em nome do MPLA, foi um golpe de estado se olharmos para aquilo que estava plasmado e estabelecido nos Acordos de Alvor será difícil negar este facto.
  2. O 27 de Maio, foi um golpe de estado pelo MPLA contra os angolanos que muitos deles se estivessem vivos hoje, também estariam presos entre os 15+1 (os ressentimentos de outrora, são os mesmos em 2015),
  3. As Primeiras Eleições Gerais de 1992 e a consequente constituição do Pais, não obedeceu os Acordos de Paz de Bicess, houve aqui um golpe de estado perpetrado pelo MPLA e com sucesso,
  4. Manter alguém na liderança da nação por 36 anos e em si um golpe de estado.

Em suma os golpistas deste País já estão identificados. Agora brincar com o futuro de todos nós, terá que encontrar o ponto final muito em breve.

Falar do barril a $80 dolar é falar de crescimento económico em dois dígitos de que Angola precisa para ocupar o seu lugar no ranking das economias Africanas. Angola só tem a ganhar com o regresso do crude a esses preços.

A linha vermelha a observar tem a ver com um mercado internacional que atualmente tem um excedente de 2 milhões de barris de crude dia. Quando se concretizar a entrada ao mercado muito em breve de mais 2.5 milhões dia provenientes do Irão, se a Arabia Saudita não liderar por exemplo em produzir menos crude, ai sim o prospeto de vermos o crude a $20 dólares, será real e um colapso da economia angolana será uma realidade. Assim sendo, estará terminado o “ balumuka “a que este executivo está acostumado.

Os agente económicos e os recursos humanos angolanos, têm sido vitimas durante os tempos em que o barril rondou nos $100 dólares e agora abaixo de $50. Como é possível que os Chineses façam da Via Expressa de Luanda, seu centro de negócios. Desde a lavagem de carros, a venda de automóveis, shopping centres, tudo ai é negocio chines. Os Chineses não param de vir para Angola, e diga‐se abertamente que eles estão a retirar os postos de trabalho de Angolanos em coisas simples que os nossos aqui podiam fazer. Certas actividades económicas executadas pelos Chineses, faz‐me questionar que tipo de vistos estes possuem? Se somos um pais serio, não podemos dar vistos de trabalho para um chinês vir ate aqui lavar carros.

O País ganhou novas infraestruturas devido as boas relações com a China. O nosso crude fez milagres, proporcionou‐nos as centralidades, caminhos‐de‐ferro, portos, estradas, pontes, aeroportos. Mas o Executivo não consegue assegurar a transferência do Know‐ How para os angolanos poderem manter a continuidade destes projetos. Depois de biliões de dólares investidos no CFB, só agora está‐se a pensar em uma oficina no Huambo para prestar o apoio técnico as locomotivas. Aqui falhou o próprio grande Chefe a quem se atribui sempre todos os feitos desta magnitude. Afinal, ele também é um mortal falível.

Podemos assim dizer que com o barril em alta ou baixa, enquanto o Executivo não olhar para aquilo que é gestão seria das riquezas desta nação, as crises económicas e os “Revus” serão o nosso dia‐ a‐ dia.

Finalmente devo estar sozinho a vaticinar um cenário de preços do crude a $80 o barril para o próximo ano. A verdade é que para se atingir um desenvolvimento politico e económico sustentáveis em Angola, a paciência e tolerância, deveram ser os elementos importantíssimos da conduto do Executivo e dos angolanos em geral.

A reconstrução do nosso País depois de tanta destruição pela guerra, e a criação de um estado mais justo onde os líderes políticos são responsabilizados pelos seus atos, não é coisa rápida e fácil. Assim, um cenário otimista do mercado do crude parece‐me ser o mais desejável e esperamos que desta vez as vacas gordas do crude tragam verdadeira prosperidade e democracia para todos nós.