Luanda - O aparente abandono de várias viaturas afectas ao Censo Geral da População e Habitação, no antigo parque do Instituto Nacional de Estatística (INE) tem estado a causar uma certa indignação aos olhos dos transeuntes.

Fonte: Club-k.net

Há dias correram imagens nas redes sociais dos referidos veículos, quase que atirados à sua sorte. Trata‐se de jipes Toyota Land‐crusier, que fazem parte de um lote de centenas de carros que, há cerca de ano e meio, foram comprados à representante desta marca em Angola. Profundamente revoltado com o triste cenário, alguém no facebook sugeriu que o melhor seria converter os referidos jipes em ambulâncias, a fim de servirem os distintos hospitais públicos que se encontram à míngua de meios rolantes.


Soube que o nível indignação aumentou em função da recente publicação de notícias que davam conta da existência de dívidas não honradas por parte do INE/Xand Food a pequenos comerciantes da província da Huíla que, no ano passado, forneceram milhares de refeições aos brigadistas do Censo. Como resultado da falta de pagamento dos passivos, um bom número dos comerciantes não tiveram outra saída senão encerrar os seus pequenos negócios, com a agravante de terem ainda de pagar dívidas pelos empréstimos contraídos aos bancos comerciais, assim como a distintos fornecedores de bens e serviços.


Lamentavelmente, os comerciantes da Huíla não foram os únicos burlados pelo Censo, havendo também outros tantos lesados no Kwanza‐Sul. Suspeito que haja mais agentes económicos ou prestadores de serviços na mesma condição, ou seja, atolados em dívidas e na bancarrota. Em vésperas da realização do Censo, tive a informação de que uma boa fatia do dinheiro para a realização da gigantesca empreitada teria sido destinada à compra de viaturas. Segundo as minhas fontes, mais de 50 dos 200 milhões do equivalente a dólares norte‐americanos alocados ao INE teriam sido “queimados” na compra de carros.


Em meu entender, não fazia sentido o INE comprar uma enorme frota de carros, quando bem poderia recorrer ao seu aluguer, dada a natureza sazonal do trabalho que se aprestava realizar.


Procurei saber junto do director‐geral do INE se tal informação correspondia à verdade, mas não obtive nenhuma resposta por parte de Camilo Ceitas, mesmo depois de lhe ter feito várias chamadas para o seu telemóvel e enviado uma mensagem (SMS). Arrisquei e divulguei a notícia com os dados que tinha em mão, embora isso me custasse mais tarde alguns “recados” menos simpáticos por parte de alguns dos seus colaboradores.


Semanas depois, o DG do INE, como que apanhado em contra‐mão, acabaria por responder a um questionário que lhe enviara por correio electrónico. Na pequena entrevista que me concedera e que fora publicada no Semanário Angolense, Camilo Ceita acabaria por confirmar que a sua instituição tinha adquirido 600 viaturas, mas por um “valor inferior” ao que tinha avançado. Não revelou quanto foi gasto em carros.


Em relação à opção pelo aluguer de viaturas e não pela sua compra, defendeu‐se dizendo que não havia no mercado empresas com capacidade para satisfazer às necessidades do Censo. Não engoli a justificação, não fosse Angola um dos países do mundo com muitos automóveis, sobretudo jipes por quilómetro quadrado...Passe a ironia.


Questionado sobre se a compra dos carros tinha sido objecto de concurso público, ainda que limitado, respondeu que o processo de aquisição dos mesmos tivera sido sancionado pelo Tribunal de Contas.


Hoje, volvido ano e meio após a realização do Censo, questiono‐me se não teria sido mais económico e prático ter‐se optado logo pelo aluguer das viaturas, ao invés de comprá‐las, para depois deixá‐las entregues à sua sorte ou, melhor, servirem interesses menos nobres...


Já agora pergunto: Quanto custou o Censo aos cofres do Estado? Será que foram mesmo gastos os duzentos (200) milhões de dólares nessa empreitada? Quanto se consumiu em carros? Por que a existem ainda de dívidas por saldar? Há ainda ordens de saque nas Finanças por pagar? Quando serão pagas as dívidas dos pobres comerciantes da Huíla, KS, etc.?