Lisboa - Exatamente no dia da comemoração dos 40 anos de Independência de Angola, 11 de Novembro, a comunidade africana, em geral, e angolana, em particular, ganha mais um Doutor. Trata‐se de José Vilema Paulo.

Fonte: Club-k.net

José Vilema, como é frequentemente tratado na esfera académica, é o mais novo Doutor em Teoria Jurídico‐Política e Relações Internacionais pela Universidade de Évora. É o primeiro africano, por sinal angolano, a doutorar‐se nesta área académica. Os júris aprovaram o candidato, por unanimidade, com Distinção e Louvor e obteve a classificação final de 19 (dezanove) valores.


A discussão da Prova Pública (defesa de tese) decorreu na Sala dos Actos da Universidade de Évora, às 14h30, e durou aproximadamente 3 (três) horas. Os membros do júri constituídos por: José Alberto Simões Gomes Machado (presidente), Professor Catedrático ‐ Universidade de Évora; José Adelino Maltez (Vogal), Professor Catedrático ‐ Universidade de Lisboa (Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas); José Manuel Marques Silva Pureza (Vogal), Professor Catedrático ‐ Universidade de Coimbra; Silvério Carlos Matos Rocha e Cunha (Orientador), Professor Associado ‐ Universidade de Évora; Isabel Estrada Carvalhais (Vogal), Professora Auxiliar ‐ Universidade do Minho; Marco António Gonçalves Barbas Batista Martins (Orientador), Professor Auxiliar ‐ Universidade de Évora, foram unânimes em aprovar o mais novo Doutor. 


José Vilema defendeu a tese subordinada ao tema: “Política e Fragmentação da Sociedade Moderna. A Propósito do Pensamento de Ulrich Beck”. Na sua tese de doutoramento, José Vilema sustenta que “vivemos num mundo cada vez mais complexo, desordenado, complexificado nas Instituições, nas teorias, nos ordenamentos e normas, cada vez mais inseguro, incerto, pelo contrário, mais desculturado, embora muito mais complexo e diante de problemas característicos de um modelo político e social pós‐industrial”.


Numa tese compacta e inovadora, onde de maneira analítica, crítica e hermenêutica, questões como Estado‐nação, terrorismo, modernidade, cosmopolitismo, soberania e os desafios a estes associados, José Vilema conjuga as teses de Ulrich Beck (1944‐2015) numa perspetiva teórico‐política e as aplica às Relações Internacionais. Defende também que “o naufrágio das esperanças e certezas tecnológicas, políticas, jurídicas e científicas que se edificaram na Europa, em primeiro lugar, e, depois, nos demais continentes, configuraram uma época que alcançou a sua temporalidade”. Para ele, “a fragmentação da sociedade moderna pressupõe que já não se vive seguramente num mundo que se pensou alcançar a plenitude do bem‐estar político e social”.

José Vilema manteve várias discussões (académicas) com Ulrich Beck e com Albert Groeber ambos da Ludwig‐Maximilians – Universität München. Ulrich Beck mostrou‐se surpreendido e satisfeito com a profundidade de pensamento e coerência do jovem investigador angolano. Recorda‐se que Ulrich Beck lecionou na Universidade de Munique e na London School of Economics e era considerado um dos mais influentes sociólogos da atualidade, uma referência da teoria política e social contemporânea. Faleceu repentinamente no dia 1 de Janeiro de 2015.


José Vilema, conclui na sua tese, no que diz respeito ao Estado‐nação, que, hodiernamente, “a dimensão étnico‐cultural vai além das normas jurídicas, ou seja, com a globalização, os povos tornam‐se mais próximos e essa proximidade resultou numa mestiçagem irreversível; a convicção de que é necessário mais capital financeiro para salvar as controvérsias da sociedade moderna, isto é, dos Estados, é irreal. O capital financeiro está fora do controlo dos Estados, está associado às multinacionais que detêm igualmente os maiores benefícios e isenções fiscais”. Identificou que “a prevalência de estruturas burocráticas modernas, presas às velhas categorias, coadjuvaram para a criação e multiplicação de organizações excessivamente eficientes constituídas por indivíduos literalmente alheios à moral, capazes e dispostos a pôr em prática quaisquer objetivos, incluindo propósitos desumanos, com uma simplicidade e competência inéditas”.


Portanto, José Vilema propõe que: “é fundamental que o Estado, para estancar esta “hemorragia”, opte por cooperações entre Estados, reduza a carga fiscal aos que menos possuem e a aumente aos que mais detêm capital financeiro com o intuito de reduzir as desigualdades sociais. O aspeto primordial, entretanto, é a ação mais direta do Estado às funções pela qual foi constituído. Conservámos, contudo, a esperança de que se consiga construir ou reconstruir, uma “utopia” que ajude a progredir. Cada vez estamos menos confiantes na possibilidade de dar início à equidade e à justiça social. A desigualdade é antiutópica, está presente, é factualmente o mais mortal de todos os vírus deste declínio da sociedade moderna”.


José Vilema nasceu aos 4 de Fevereiro de 1984, é formado em Filosofia e em Direito pelas Universidades Católica e Agostinho Neto. Possui duas pós‐graduações designadamente em Direito dos Contratos pela Universidade Óscar Ribas e o Instituto de Cooperação Jurídica da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa e em Ética, Direito e Pensamento Político pelas Faculdades de Direito e de Letras da Universidade de Lisboa. É mestre em Relações Internacionais e Estudos Europeus pela Universidade de Évora cuja dissertação de mestrado para obtenção do grau intitulou‐se: “A União Africana e o Tribunal Penal Internacional – Os Desafios Humanitários em África” da qual, em discussão pública, por unanimidade, obteve 17 (dezassete) valores. Nos últimos anos tem‐se dedicado a investigação, pois é igualmente Investigador e colaborador do CICP (Centro de Investigação em Ciência Política). Tem publicado em Revistas Científicas em Portugal, Brasil e Espanha e apresentado diversas comunicações nos mais variados Congressos, Workshops e Colóquios Internacionais. É autor de vários artigos e capítulos de atas e livros. É cofundador e editor da Revista Científica Fronteira Política.


O jovem angolano entra, assim, na história da Universidade de Évora, uma Universidade Secular, fundada em 1559, onde africanos como Léopold Sédar Senghor, em 1980, Graça Machel Mandela e Malangatana Valente Ngwenya obtiveram solenemente o grau de Doutor Honoris Causa.