Luanda - Desde há algum tempo que Angola tem vindo a viver um ambiente de muita tensão social, de medo, um ambiente que “talvez vise criar alguns factos que não ajudam o espirito de paz e o clima de democracia que todos nós queremos viver”, disse o arcebispo do Saurimo D. Manuel Imbamba.

Fonte: VOA

O arcebispo, que é também o vice presidente da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (Ceast), falava no programa “Angola Fala Só”, durante o qual respondeu a perguntas sobre os mais diversos assuntos, de religião, à história e política.

Reconhecendo as diversas dificuldades, políticas, sociais e económicas que o país ainda atravessas D. Manuel Imbamba frisou a necessidade de todos os problemas serem resolvidos pelos angolanos num clima de paz e diálogo.

Em Angola, ainda “são visíveis as assimetrias sociais, culturais” e outras, disse D. Imbamba, afirmando que os ganhos da independência do país “não se devem limitar a um grupo, mas que todos devem estar envolvidos”

“É verdade que Angola está no caminho da paz, da justiça, do desenvolvimento, mas ainda são visíveis as assimetrias sociais, culturais, politicas e formativas”, reiterou.

D. Imbamba foi questionado por alguns ouvintes sobre a prisão dos jovens activistas acusados de conspirarem para derrubar o Governo por meios violentos.

Ele respondeu que deve haver “liberdade de consciência, de expressão e de reunião de associação e de informação”.

O convidado do Angola Fala Só recomendou esperar pelo julgamento e frisou que “a justiça tem os seus parâmetros” pelo que se Angola quer criar um Estado de Direito “seria bom que os casos de justiça não fossem politizados”

“Tem acontecido no nosso país que todos os casos mesmo criminosos tendem a ser instrumentalizados e a serem politizados”, o que leva a que depois “não se saiba se há crime ou não, se há intolerância ou não, se são presos políticos ou não”, considerou o arcebispo.

Mais adiante, D. Manuel Imbamba disse acreditar na justiça angolana “desde que não seja politizada”.

“É preciso que o direito não esteja a reboque da politica, é preciso que o direito se faça sentir”, defendeu D. Imbamba recordando que Angola é um país que “saiu de muita violência, de uma cultura de intolerância, de de matanças, de rancores”.

“É preciso que nós façamos a nossa história com os pés no chão”, disse lamentando “atitude imediatistas que não nos ajudam a caminhar e a ler os sinais da nossa história para podermos tirar aquilo que de facto nos convém”.

O religioso acrescentou haver efectivamente violações de direitos humanos e a Igreja tem denunciado esses casos, “mas é preciso que todos nós sejamos educadores, para corrigirmos tanto os governantes como os governados naqueles excessos que não ajudam ao respeito da dignidade da pessoa humana”.

D. Imbamba frisou também a necessidade dos angolanos se comprometerem com o processo eleitoral.

“Se um dia decidirmos que é altura de termos um outro Presidente então é nas urnas onde deveremos fazer esta eleição e esta escolha”, disse.

“A alternância não se faz com violência, não se faz com armas na mão, com desmandos ou desordens”, afirmou D. Manuel Imbamba, recordando a importância das eleições de 2017, pois “é lá onde devemos exprimir a nossa vontade”

No que diz respeito à autorização do Governo para a Rádio Ecclésia transmitir em todo o pais, o arcebispo do Saurimo disse que “a bola está no lado do Governo” já que a Igreja já fez o que o que lhe foi requerido para obter essa autorização.