Luanda - Estava-se em 1975, numa tarde de sol contido, mas de calor evidente, próprio como de um mês de Novembro. A ansiedade misturava-se com o receio. Era o último dia da “Província de Angola” ao mesmo tempo, que se ouvia o ribombar de canhões, vindos de S. Pedro da Barra, assinalando combates de tropas da FNLA, que se investiam contra as Fapla, para entrar em Luanda.

Fonte: Club-k.net
Felizmente, a primeira sensação suplantava a segunda e permitia esboçar um sorriso, de que a Independência aconteceria passadas algumas horas. O areal do largo “Primeiro de Maio”, emprestava o seu espaço para que as arquibancadas e os palanques fossem instalados para a festa da Dipanda. As pessoas esperavam de todas as formas – ansiosas, apreensivas, assustadas, duvidosas ou contentes – os carros militares abertos que até ali rodeavam as ruas da cidade, tinham deixado de o fazer, os soldados portugueses, que antes faziam parte das partrulhas, rarearam e mostravam agora, semblantes tristes e zangados.

No bairro da Vila Alice, a azáfama era imparável. Nem a noite que escurecia fez reduzir o frenesim. As bancadas foram sendo ocupadas enquanto as horas cresciam. Amigos e convidados que tinham apoiado este nascimento, juntavam-se ao desejo dos angolanos, até que finalmente, um dos que se obstinara em pretendê-la livre, avançou no centro do palanque. Agostinho Neto, discursou e disse bem alto para o mundo, que proclamava a República Popular de Angola! Surgia assim a alegria desejada de todos os angolanos.
Era o dia 11 de Novembro, era a Independência de Angola!

Caminhos sinuosos

Há quarenta anos nascia assim, o país com o nome de República Popular de Angola. Seguiria a orientação socialista, tendo Cuba e ex-União Soviêtica, como os principais aliados. Agostinho Neto, médico político e também poeta, foi o primeiro presidente.

Desde esse dia, Angola trilha uma existência, que iniciara já turbulenta, ainda no processo da sua independência, que a forçou a viver sob uma Guerra Civil dupla. A primeira, de 1975 até 1990, (momento em que desistia da via filo-socialista, para seguir a democracia ocidental);

A segunda, mais violenta, deflagrada depois de dois anos de uma convivência política pacífica entre os principais oponentes, por causa do resultado das primeiras eleições, naquele país, realizadas em 1992.

Atualmente, José Eduardo dos Santos, é o presidente de Angola, que tomou o lugar de Agostinho Neto, depois da morte deste, por doença em Moscovo, para onde fora levado de urgência em 1979. Depois de uma entrada da guia duma nação, Eduardo dos Santos como o mais jovem na época da empossadura, ao longo das três décadas, consolida o seu governo, temperado sob o calor da guerra e adquire finalmente, a tranquilidade de um poder, sem mais o incômodo de Jonas Savimbi, o seu rival histôrico.

Reconquista a simpatia do mundo ocidental, retirado durante a vigência da aliança socialista e o ôbvio interesse desses, nas oportunidades oferecidas pelas potencialidades econômicas que o país possui: - Angola É segundo produtor de petróleo, além de diamante, ferro, ouro e outras riquezas agrícolas, como café (que em 1973, fazia com que Portugal fosse considerada segundo exportador mundial, pela sua colónia) além de cana de açúcar, algodão, sisal e oleoginosas) e uma extensão marítima de mais de 4 mil quilómetros.

Apesar das pontes, escolas e casas destruídas; as milhares de minas espalhadas pelos terrenos que serviram para guerra cerca de 30% do território; milhões de mutilados e desalojados e forçados a se mudarem para novas terras; o presidente Eduardo dos Santos, considerou em 2002 “O ano da paz” e decidiu mostrar que o país podia ser vistoso, se não tiver que enfrentar guerra. A China concedeu um empréstimo de 10,5 bilhões, para a reconstrução do país, a ser garantido por petróleo bruto e em uma quantidade fixa de barris.

Sem mãos a medir e muitos chineses para dispô-las, Angola tornou-se um canteiro de obras de todo o tipo - grandes e pequenas: pontes, viadutos, torres de cimento e empreendimentos imóveis modernos de vulto, começaram a gravitar sobretudo na capital e nas principais cidades do país - como Benguela, Huambo ou Lubango.

Este renascimento físico do país despertou mais atenção dos investidores estrangeiros. Os portugueses, são os primeiros da lista, absorvendo mais de 60%. Seguidamente vêem os brasileiros, desfrutadores de uma fraterna e simpática amizade com os angolanos, desde 1975. Juntam depois: libaneses, espanhóis, franceses, nigerianos e malianos.

O El Dorado foi economicamente, inaugurado. O seu trem marcha com as misturas que entram nesse processo: tecnologia de ponta, esquemas do comércio global, insaciabilidade capitalista e uma selvática competição para a classe rica nacional. O presidente de Angola alega publicamente, não possuir bens e riquezas e limitar-se unicamente aos honorários e privilégios de um chefe de Estado. Contudo localmente, os setores opositores e imprensa livre insistem permanentemente uma contradição: Isabel dos Santos sua filha mais velha que tem apenas 42 anos, é a primeira mulher bilionária em África, na lista Forbes.

É ela que contemporaneamente lidera o grupo dos mais ricos em Angola, que se escalonam em bilionários, milionários e outros compondo classe denominada de “novos ricos”. Uma classe constituída principlamente por dirigentes ou figuras afectas à esfera política dominante.

Após o fim da Guerra Civil em 2002, o governo lançou um ambicioso programa de liberalização financeira.

No fim da década os ativos totais do sector financeiro subiram de menos de USD 3 000 milhões em 2003 para mais de USD 57 000 milhões em 2011, enquanto o número de bancos a funcionarem no país passava de 9 para 23. Entretanto a expressiva evolução financeira, não tem correspondido a um usufruto social tão satisfatório. A vida das populações desfavorecidas e daquelas que vivem no interior e na periferia das cidades, continuam esperando por condições básicas de saúde, educação e habitação.

O paradoxo da abundância e os desafios

Os recursos naturais de Angola continuam sendo a força motriz da economia e as reservas petrolíferas do país podem apoiar um rápido crescimento do PIB no médio prazo. No entanto, a questão de política talvez mais importante com que Angola se depara é como converter a sua riqueza de recursos naturais em desenvolvimento económico e social sustentável fora do sector petrolífero. O Governo de Angola criou para isso, em 2012, o Fundo Soberano de Angola (FSDEA) No entanto, o mandato principal do FDSEA não está ainda muito claro uma descrição detalhada dos objetivos do FSDEA nem das regras de funcionamento.

Trend Político-Social

Angola continua mantendo uma razoável estabilidade política. A democracia que vigora é intervalada com cautelas de rigor governamental, que remete os cidadãos a incômodos efeitos de procedimentos judiciais e policiais; ou às implacáveis práticas de salvaguarda da lei e da obediência, que levam à limitação da liberdade de expressão.

O momento atual, vive um clima de marcada tensão, caracterizada, por manifestações sociais de setores da sociedade, em desacordo com governo. A crise parece estar simbolicamente representada na detenção do grupo dos 16 jovens detidos que aguardam julgamento, pela acusação de “preparação de rebelião e atentado contra o presidente da República”, (adicionado da greve de fome, de um deles, que reclamava das autoridades a libertação de todos) que provocou uma nítida divisão nacional dos sentimentos e da opinião.

O Status-Quo concede naturalmente um ambiente inóspito, para a harmonia nacional, a necessária tranquilidade social e que deixa inevitavelmente ensombrado o futuro político de Angola.

O aniversário de 40 anos, vem assim curiosamente, assinalar também, uma fase em que a rota tomada até agora por este país, mostra que os intricados e complexos factores da sua condução, inevitável e naturalmente se alterem. A data impõe urgências!

Dois desafios basilares e inalianáveis

- O primeiro desafio centra-se na afirmação da sanidade na atitude moral e ética, a ser tomada pelos sectores dirigentes, como a base vital que permite moldar eficaz e positivamente a atitude política, para que esta não seja, meramente uma cartilha de procedimentos teóricos distanciados da função principal de que todo o serviço deve ser encaminhado para o bem da sociedade e do país.

Filosoficamente enunciada, é esta a pedra angular, para que a roda do progresso, que vai sendo movido nos indesmentíveis benefícios do fim da guerra, se evolua sem as reticências provocadas pela insaciabilidade das ambições individuais ou de grupos, pela incúria, pelos desvios de todo o género, pela perversidade do intercâmbio de interesses particulares e sem o cancro da corrupção.

- Outro desafio, consiste na erradicação da “Mania” política. Ou seja, aquela que desenvolve invariavelmente o preconceito de simpatia ou antipatia ideológica negando a expontaneidade da existência de pensamentos e opiniões diferentes nos cidadãos. É preciso ter-se em conta, que o desenvolvimento do conceito de unidade nacional, só pode ser efectivamente realizado, eliminando o conflito, mesmo velado, que leva a consideração ou a rejeicção dos cidadãos em função das bandeiras ou das posições ideológicas que trazem consigo.

É preciso que a Independência tenha o usufruto pleno, geral, equo e justo. A paz deve manter-se, porque é o único elemento que torna isso possível. É necessário no entanto, que se acrescente a boa vondade real, relevando-se primeiro a vertente humano-patriótica, para que o resultado político seja indiscutivelmente positivo.