Lisboa – Quadros da Casa de Segurança da Presidência da República suspeitam que que o Ministro do Interior, Ângelo de Viegas Tavares, e o Procurador Geral da República, João Maria de Sousa envolvidos no processo de esclarecimento dos assassinatos dos activistas Silva Alvés Kamulingue e Isaías Sebastião Cassule terão ocultado informações ao Presidente, José Eduardo dos Santos respeitante a Alvés Kamulingue, que era colaborador do SINSE (Conferir em documentos anexados nesta notícia).

Fonte: Club-k.net

Tribunal realizou  julgamento manipulado  

De acordo com a “descoberta”, o falecido Silva Alvés Kamulingue foi recrutado pelo SINSE, a 17 de Agosto de 2010, ao tempo em que fazia parte da Comissão Sindical da fabrica de botas da Casa Militar, Textang2. O responsável pelo seu recrutamento é Silva Van-Dúnem, afecto a delegação do SINSE no Município do Cazenga.

 

Alvés Kamulingue teria sido preparado para se infiltrar nos movimentos de protestos ao regime angolano exercendo um papel de co-liderança no Movimento Patriótico Unido (MPU), de Isaías Cassule.

 

Segundo registros devidamente verificados, o último contacto físico que Alves Kamulingue teve com o SINSE, foi no dia 26 de Maio de 2012, na pessoa do então chefe do sector do Cazenga, “Felismirno”, já falecido,  por volta das 20h. Neste encontro foi lhe dado 200 USD de ajuda de custos.

 

Uma outro contacto (não físico) teve na manha do dia em que foi assassinado pela Policia Nacional, quando comunicou ao SINSE que estaria a descer para a cidade, onde teria um encontro com uma cidadã estrangeira no Hotel SKYNA.

 

Os quadros da Casa de Segurança da PR que estão a seguir os rastos deste processo desconfiam que a justiça angolana terá cometido falhas ou que o Juiz da causa, Carlos Baltazar terá sofrido influencia de “forças internas” do próprio regime para produzir um julgamento parcial.

 

A conclusão dos mesmos é baseada no argumento de que se o SINSE tivesse interessado em executar o seu próprio agente teria feito no momento em que ele se reuniu com o seu superior “Felismirno” ou numa outra ocasião isolada e não no dia seguinte (27 de Maio) com a cumplicidade da Polícia Nacional.

 

Ficou-se a saber também que o SINSE, em Luanda, precisava de Alvés Kamulingue para fornecer o relatório do encontro que teve no dia do seu rapto, com uma cidadã estrangeira que a secreta angolana presumia ser Lisa Rimil, ex- pesquisadora da Global Witness. O suposto encontro terá sido com outra pessoa visto que mais tarde veio a saber-se que Lisa Rimil, não se encontrava em Angola naquele período.

 

O Tribunal de Luanda, na pessoa do Juiz Carlos Baltazar condenou como autor moral do assassinato de Alves Kamulingue, o então delegado do SINSE-Luanda, coronel Antônio Manuel Gamboa Vieira Lopes.

 

Porque que o PGR e o Ministro do Interior ocultaram dados ao PR?

 

De acordo com a conclusão dos quadros da Casa Militar, se o PGR e o Ministro do Interior dissessem ao PR que Alvés Kamulingue era igualmente agente do SINSE, dificilmente o Chefe de Estado ficaria convencido que a Segurança de Estado teria executado o seu próprio funcionário. JES, procuraria entender porque o SINSE, executaria um agente que no dia anterior a sua execução reuniu-se com os seus chefes e ainda recebeu dinheiro de ajuda de custos para as suas movimentações.

 

As suspeitas da ocultação dos dados ao Presidente terá servido para exclusão de dois nomes no processo, Dias do Nascimento Fernando Costa, a data dos factos comandante em exercício da PN em Luanda e António Pedro Amaro Neto, diretor provincial do Serviço de Investigação Criminal e geralmente apresentado pela imprensa como afilhado/sobrinho do PGR, João Maria de Sousa.  

 

As referidas suspeitas acerca de uma suposta parcialidade da Procuradoria do general João Maria de Sousa em parceria com o Tribunal Provincial de Luanda  acentuaram ainda mais quando incluíram no processo, os dois oficiais da Polícia Nacional como declarantes e não como arguidos uma vez que os dois pertencem a correia de comando que baixou a ordem que tirou a vida de Alves Kamulingue.

 


No auto de declaração do Tribunal (PROC. N.o 187/14 – B TPL – 6.a Secção), consta que o comissário Dias do Nascimento revelou que por sua própria iniciativa, porque os manifestantes sempre que se deparam com força policial fardada escapam-se, então telefonou ao Director Provincial da Investigação Criminal de Luanda, Amaro Neto, para formar e enviar uma equipa a paisana para o rapto dos manifestantes. (Trata-se da equipa que raptou e executou mais tarde Alves Kamulingue).

 

De acordo publicações anteriores, os agentes da Polícia de Investigação que assassinaram Alvés Kamulingue foram superiormente instruídos a assumirem o crime em tribunal - embora com algumas alterações - com a garantia de que viriam a sua “situação resolvida” (entenda-se soltos mesmo após serem condenados). De entre as orientações, os executores foram instruídos a não implicarem o então comandante em exercício de Luanda, Dias do Nascimento Fernando Costa por se tratar de um comissário que no ver das autoridades causaria embaraços a imagem do Estado. O comissário Dias do Nascimento, conforme dito atrás,   entrou no processo apenas como declarante e não como arguido.

 

Breve cronologia dos factos:

 

No dia 19 de Abril, o Movimento Patriótico Unido – MPU liderado por Isaias Cassule enviou uma carta ao GPL anunciado que realizaram uma manifestação de antigos combatentes desde o Largo da Independência até ao Palácio Presidencial.

 

No dia 26 de Maio, as As forças da ordem (Comando Provincial da Polícia de Luanda e SINSE – Luanda, na pessoa de Dias de Nascimento e Gambôa Vieira Lopes), foram convocadas na Casa Militar na qual receberam orientações para abortarem a referida manifestação e entrar em manutenção do estado de alerta máximo.

 

No dia 27, oficiais da Polícia Nacional, na altura sob liderança do comissário Dias do Nascimento raptaram Alves Kamulingue nas mediações do Colégio Elizangila Filomena e levaram-lhe para a zona do Ramiro, no Benfica, num local usado pela policia para praticas de execução. Kamulingue foi amarrado, colocado de joelhos e um responsável da DNIC, Manuel Miranda, ordenou ao seu subordinado Francisco Tenda Daniel “Kiko” que fizesse disparos contra o activista. Este teria recusado até lhe terem dito que eram “ordens superiores” acabando por tirar a vida de Silva Alves Kamulingue.

 

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