Luanda - Numa clara violação à nova Lei Geral do Trabalho (LGT), a concessionária de automóveis Toyota de Angola procedeu ao despedimento de várias dezenas de trabalhadores sem aviso prévio.

*Ilídio Manuel
Fonte: VOA

De acordo com fontes da empresa, os funcionários visados pela medida receberam a comunicação do seu despedimento trinta (30) minutos antes de serem mandados para casa, quando a lei prevê 15 dias de antecedência.


«É como se tivessem sido escorraçados!», lamenta um antigo funcionário da casa, que pediu o anonimato por razões óbvias. Diz que os trabalhadores visados receberam cheques referentes às indemnizações a que cada um tinha direito, assim como «ordens expressas» no sentido de «recolherem os seus pertences e abandonarem a empresa no espaço de 30 minutos».


A mesma fonte considera um «total desrespeito e um gesto de ingratidão» a forma como foram dispensados os seus antigos colegas, já que alguns deles tinham «vários anos de serviço e dado o melhor de si em prol da Toyota».

«Vivemos num clima de medo no seio da empresa ou, melhor, um dia de cada vez, porque não se sabemos quando seremos também despedidos», refere um outro trabalhador, que, por razões compreensíveis, preferiu não dar o rosto.

Soube­-se que os funcionários dispensados pertenciam à área da administração e do sector técnico, e que o seu despedimento deveu-­se à actual crise económico­ financeira que assola a maior representante da marca japonesa em Angola.

Há informações de que alguns dos visados estão a movimentar­-se no sentido de obterem uma indemnização junto da Toyota pelo seu despedimento alegadamente ilegal, que terá sido feito à margem da lei. Ao contrário da anterior LGT, a nova lei passou também a responsabilizar os trabalhadores que abandonem os seus postos de trabalho sem comunicação prévia, pelo que poderão incorrer no pagamento de uma indemnização à entidade patronal.

Confrontado há dias com o assunto, um funcionário da área dos Recursos Humanos da empresa confirmou o despedimento de trabalhadores, corrigindo, porém, o número de visados. «Foram alguns trabalhadores que não chegam às dezenas», afirmou.

O mesmo funcionário, que preferiu falar sob anonimato, não confirmou, nem desmentiu a informação de que os trabalhadores tinham sido despedidos em 30 minutos. Crise sem precedentes A Toyota de Angola vive um dos períodos mais críticos da sua existência, à semelhança de muitas outras empresas, tanto do sector público como privado, como resultado da crise económico­ financeira que assola o país. Devido às baixas vendas de viaturas e de acessórios, assim como à redução dos serviços de manutenção técnica dos automóveis, a empresa não só pretende proceder ao emagrecimento dos seus trabalhadores, como também encerrar alguns postos de trabalho. Consta que as instalações da empresa à Cuca e a sua filial no Lobito poderão encerrar, em breve, as suas portas.


«Por falta de clientes, actualmente a empresa procede à manutenção de qualquer viatura de marca Toyota, mesmo aos carros que não foram vendidas pela empresa», disse um dos trabalhadores. Está, no entanto, a criar estranheza o facto da medida ter abrangido apenas os trabalhadores nacionais e não os expatriados que laboram na mesma empresa. Os despedimentos massivos e o iminente encerramento de alguns postos de trabalho no seio de um dos maiores «gigantes» do ramo automóvel em Angola constitui, sem dúvida, um sinal de profunda crise que o sector económico privado e não só vive em Angola, o que poderá culminar com o fecho de muitas empresas.


Dentre as empresas condenadas a desaparecer ainda no primeiro semestre do próximo ano figuram algumas do sector privado que têm sido alimentadas pelo misterioso «saco azul», ou seja, por verbas que não constam do Orçamento Geral do Estado (OGE).