Luanda - Introdução: Muitos de nós, jovens activistas cívicos independentes (vulgos revolucionários ou abreviadamente revús) involvemo-nos em política há 4 anos, de maneira inocente, convictos da força da expressão do sofrimento que nos é imposto pela ditadura de José Eduardo dos Santos.

Fonte: Facebook

Porquê tanta infiltração?

Temos contestado a ditadura violenta, sangrenta e assassina do MPLA, simplesmente com as nossas vozes e no pacifismo absoluto, na crença de que um dia as nossas lamentações farão eco na consciência do ditador e da ditadura, e irá força-lo a concretizar reformas ou mudanças profundas que possam florir justiça, liberdade, enfim, a democracia para o nosso povo.

Desde princípio, nutrimos a teoria de um mundo melhor e embarcamos numa revolução de maneira apaixona, acreditando que mesmo intencionados a derrubar o nosso oponente, nesta guerra a regra não era do "vale tudo", e que o nosso adversário, a ditadura de José Eduardo dos Santos, tinha a consciência e humanidade de enxergar que somos apenas um grupo de miúdos, que de forma pacífica e legítima reivindica mudanças e reformas necessárias para a nossa Pátria Angola.

Estávamos enganados, pois para José Eduardo dos Santos, nós não sofremos, não estamos desempregados, temos bons sistemas de saúde e educação, temos um país justo e democrático mas em contrapartida, somos ingratos e frustrados que não se saíram bem na vida acadêmica e consequentemente profissional.

Não importa quantas licenciaturas, mestrados ou doutoramentos tiveres, para José Eduardo dos Santos e MPLA, se não és a favor da ditadura, és contra, és frustrado, és fracassado, és confusionista, és incapacitado, és indisciplinado, és ingrato, és incompetente, não és patriótico, és um inimigo a ser aniquilado.

Para José Eduardo dos Santos, não importa o quanto sofremos, pois se reclamarmos, somos considerados de inimigos da Pátria, jovens da UNITA, agentes dos imperialistas que querem desistabilizar Angola e depilar as riquezas dos Angolanos.

Para José Eduardo dos Santos, não importa a crise em que vivemos, o país está estável, e quem ousa criticar, é inimigo da paz, estabilidade em Angola.

Para José Eduardo dos Santos e MPLA, não existe tolerância ou lugar para os críticos e opositores, porque embora que a ditadura é o único que tem armas, exército e toda força de inteligência do Estado Angola, as críticas não devem ser permitidas porque podem levar o país à uma nova guerra.

Portanto, na nossa ingenuidade, ignoramos que o MPLA e José Eduardo dos Santos fazem o jogo do "vale tudo", onde por exercício de cidadania, o cidadão é intimidado, perseguido, caluniado, difamado, espancado, seqüestrado ou detido, julgado arbitrariamente, condenado injustamente, preso politicamente, ou assassinado barbaramente.

São políticas que a ditadura de José Eduardo dos Santos executa para a sua manutenção no poder à todo o custo.

Desenvolvimento:

Quando um cidadão ou um grupo de cidadãos manifesta-se crítico a ditadura, não se constitui automaticamente em uma ameaça.

Constitui uma ameaça para a ditadura do MPLA e de José Eduardo dos Santos aquele cidadão ou grupo cujas ações críticas influenciam e mobilizam seguidores e povo.

Por mais que a pessoa crítica ao regime seja intelectual e famosa, se as suas ações não mobilizam pessoas, este não é uma ameaça e é habitualmente tolerado à certo ponto, para legitimar a falsa idéia da existência da democracia em Angola.

COMO A DITADURA ATUA CONTRA OS SEUS CRÍTICOS:

1 - ADVERTÊNCIAS: No momento em que um indivíduo ou grupo é tudo como crítico, é abordado, aconselhado e desencorajado para não mais continuar a tomar tais posições.

O que mais mata o florir da democracia em Angola é o medo imposto pela ditadura.

As advertências ou censuras, na maioria dos casos, surgem do interior do próprio indivíduo (auto-censura), de familiares, amigos ou de pessoas conhecidas, e somente vêm de pessoas estranhas em casos de impactos maiores das ações críticas.

2 - INTIMIDAÇÃO: A intimidação surge quando se nota uma certa resistência ou desacato aos conselhos. Note que este também é um método de medir a força e coragem da pessoa.
A intimidação acarreta pontos sensíveis e fundamentais da vida do indivíduo, como: a família, a relação amorosa, a vida acadêmica, a carreira profissional e etc.
A intimidação não surge apenas de agentes da ditadura, que ameaçam tirar o seu emprego, dificultar a tua empresa, inviabilizar seus estudos, tirar a sua vida ou outras formas de chantagem... Surgem também por parte de familiares, que tiram a mesada, expulsam-te de casa (como foi o caso do meu irmão Adolfo Campos e doutros revús), recusam-se a continuar a pagar pelos seus estudos, etc e etc.

3 - SUBORNO: Se o indivíduo não é intimidável, então passa-se para a fase do suborno. A ditadura investiga e estuda os pontos fracos do seu alvo e sabe das insuficiências da pessoa. Desta feita, surgem propostas de empregos, bolsas de estudos e outras oportunidades, na condição de que o indivíduo deve parar de criticar a ditadura.

Por exemplo: O jovem infiltrado entre os revús, no período de 2011 e 2012, Benilson Tukayano, muito antes de ser descoberto e ter levado à morte dois activistas, Isaías Cassule e Alves Kamulingue, tivera feito a proposta de emprego na Sonangol para os revús. Para isso, solicitou Curriculum Vitae dos interessados, dizendo que um tio seu é que fez a proposta.

Um outro exemplo: Em vésperas de uma manifestação que organizamos em 2013, surgiu um senhor que pediu que abortássemos a manifestação, e que todo revú que domina francês ou inglês poderia ganhar emprego na Sonangol, com um salário mensal de 15 à 18 mil dólares.

Tendo em conta as dificuldades das pessoas, muitos têm se vendido a ditadura.

4 - PERSEGUIÇÃO E ATUAÇÃO: Após várias tentativas dos métodos anteriores, a resistência do indivíduo força a ditadura a usar a força, em seus mais variados métodos.

O indivíduo em perseguido e são impostos vários entraves em seu caminho. As armadilhas incluem agressões por estranhos, invasões ao domicílio, infiltração em sistemas de informação e no seio familiar ou de amizade ou vizinhança, etc.

Nesta fase, a ditadura aproveita-se de qualquer oportunidade para neutralizar e aniquilar o seu alvo.

Passados 4 anos de resistência e luta, a ditadura chegou à este extremo de uma maneira mais abrangente, prendendo 15 dos 17 revús em julgamento.

Foi nesta fase em que os serviços de inteligência nacional e a polícia, a serviço do MPLA e de José Eduardo dos Santos, assassinaram os revús: Cassule e Kamulingue, um morto à tiro e outro por asfixia e atirado aos jacarés no rio Dande, província do Bengo, a cerca de 70 Km da capital, Luanda.

(Farei mais abordagens sobre a infiltração de pessoas e em tecnologias, em outros artigos).