Luanda - Marcou-se hoje o vigésimo terceiro dia das sessões de audiências do julgamento dos 15 + 2. Na cadeira de réu assentou o jovem Benedito Jeremias ´Dito´ Dali de 30 anos de idade, licenciado em gestão de administração pública, funcionário púbico e natural de Luena. Na anormalidade do habitual a sala de audiência esteve menos ocupada, havia 14 assistentes na primeira e 9 assistentes na segunda parte da sessão.

Fonte: Central Angola 7311

"Foi através das redes sociais que ganhei o conhecimento dos debates"

Fundamentalmente o réu respondeu as questões obrigatórias, inerentes a sua identidade. E posteriormente o juiz Januário Domingos questionou-lhe sobre o conteúdo do processo.

Juiz: Quando é que o senhor foi detido, por quem e porquê?
Dito: Fui detido no dia 20 de Junho por agentes dos Serviços de Investigação Criminal e agentes dos serviços secretos do Estado. Não me falaram o porquê...

Juiz: O senhor participou nas sessões dos debates, e leu o livro do Gene Sharp?
Dito: Foi o meu primeiro dia, nem fiz cinco minutos na sala, logo fomos surpreendidos e detidos. Li antes o livro por ter conteúdo ligado a minha formação em política.

Juiz: Quem o convidou a participar, e os debates eram restritos ou públicos?
Dito: Foi através das redes sociais que ganhei o conhecimento dos debates. Meritíssimo! Só de serem publicados no Facebook eis a razão para se dizer que eram públicos, admira-me como é que o juiz não teve o conhecimento dos debates.

Juiz: O senhor é a favor da revolução pacífica e já reivindicou algum direito, quais são os meios pacíficos?
Dito: Sou a favor que o povo reivindica os seus direitos por meios pacíficos. Os meios são a constituição e outras leis vigentes. Já reivindiquei, para mim Angola não é o único país que sofreu conflito, penso que devemos aproximar as pessoas ao amor, a coesão social e distanciar o ódio entre as pessoas.

Juiz: você e outros co-réus apelidaram o Presidente da República de ditador?
Dito: Eu não. O Presidente para mim é um maldoso e muito maldoso por que semeia o ódio, não dá de comer a quem pensa diferente, como prova é a minha presença aqui no tribunal. Não sei se sou preso de pensamento ou então por ler um livro (...).

Juiz: Você é activista, ou que é ser ativista, e o que faz nesta qualidade?
Dito: Sim sou, ativista. Para mim ativista é quase um todo, identifica-se com a comunidade e o país e participa na resolução dos problemas sociais.

Juiz: Você e outros co-réus projetaram mudar o governo e outros órgãos de soberania?
Dito: Eu não. Mas para mim é normal a alternância de governo quando não se atende os interesses coletivos e individuais dos cidadãos por intermédio dum pleito de sufrágio, pode se mudar de governo e outros órgãos de soberania.

Seguidamente o juiz Januário Domingos concedeu o ensejo aos representantes do Ministério Público a fim de interrogarem o réu Benedito Jeremias.

MP: Você e outros co-réus abordaram temáticas políticas nos debates?
Dito: Até aqui excluso-me a responder as questões do Ministério Público.


Consequentemente então o representante do Ministério Público fazia a leitura satisfatória das questões que acabaram solteiras sem respostas.

Na instância da defesa o réu respondeu que no ato da detenção não lhe foi exibido algum mandato de captura, e que detiveram os seus bens tais como: valores monetários que rondam 17.000 mil AKZ, a chave do seu carro, os telemóveis da Movicel e um HTC digital, fora dos outros bens apreendidos em sua casa.

Amanhã voltaremos com o último réu a ser ouvido: Nelson Dibango Mendes dos Santos.

Tema relacionado:

Benedito Jeremias espancado por guardas prisionais do regime