Lisboa - Afinal era possível: os activistas angolanos acusados de “actos preparatórios” de rebelião e atentado contra o Presidente José Eduardo dos Santos estão desde ontem nas suas próprias casas, em prisão domiciliária, enquanto prossegue o julgamento. Porque não foi isto feito antes? Porque alguém quis ser teimoso, numa teimosia que esteve a um passo de provocar mortes. Depois de presos em diversas cadeias, passaram ainda pela prisão-hospital de São Paulo, onde foram concentrados em Novembro.

Fonte: Publico

Nesse período fizeram duas greves de fome, durante as quais dois deles (primeiro Luaty Beirão, depois Sedrick de Carvalho) estiveram em risco de vida. Não era necessário, como agora se viu, impor tal regime aos presos, até porque o julgamento, iniciado em 16 de Novembro, ameaça eternizar-se. Interrompido agora, será retomado em 11 de Janeiro, depois das festas. E para esse recomeço está já convocado um “exército” de testemunhas: militares, investigadores policiais, responsáveis dos serviços de segurança, o general que chefia o Serviço de Inteligência e Segurança Militar e dezenas de “declarantes”, entre os quais os componentes do muito falado “Governo de Salvação Nacional”, embora seja claramente uma brincadeira posta a correr nas redes sociais (basta ver a composição declarada de tal “governo”, que teria por “Presidente da República interino” José Kalupeteka, líder de um grupo milenarista dissidente da Igreja Adventista do Sétimo Dia).


A manutenção dos activistas em prisão domiciliária mobiliza agora mais de 150 elementos da polícia e dos serviços penitenciários.


Tudo isto para provar um golpe que tudo indica nunca ter existido. São os presos contra o governo e a eternização de José Eduardo dos Santos no poder? Naturalmente, já todos o disseram. Ora isso é matéria de opinião, não é crime nem faz deles golpistas. Se a justiça angolana funcionar como tal, há-de absolvê-los.