Luanda - Este ano fomos escolher a imagem de uma girafa a devorar a copa de uma árvore em plena paisagem africana para ilustrar os tradicionais e positivos votos que se endereçam aos amigos e conhecidos por ocasião de mais um Ano Novo que se avizinha, mesmo quando o horizonte está carregado de nuvens.

Fonte: VIDA

É claramente esta a situação que estamos a viver, restando saber que tipo de chuvas se anunciam com as nuvens já perfiladas.

Com o seu porte físico avaliado em mais de seis metros, a girafa é a espécie mais alta que habita o reino animal ao qual os humanos também pertencem por direito, mas com uma categoria muito especial.

São considerados os únicos seres possuidores de razão/inteligência o que explica em grande medida todos os conflitos que se conhecem desde que o planeta terra começou a ser povoado pela raça humana.

Foi com base nesta faculdade que o humano que vos escreve escolheu a girafa para dissertar um bocado sobre ela nesta etapa final, o que acontece pela primeira vez, pois o escriba não se lembra de já o ter feito anteriormente com tamanha elevação e perspectiva.

Foi exactamente por causa da girafa ter esta extraordinária capacidade física de observar de bem alto a imensidão e a profundidade da paisagem, sem ter necessidade de se colocar em bicos de pés, que a convidamos a estar presente nesta última crónica do ano que aqui damos a estampa na Vida/Secos e Molhados.

Olhando para o calendário, reparamos que já vamos a caminho do quarto ano, desde que em Junho/Julho de 2012 abrimos esta “Tenda” que não sendo bem a dos “Milagres” do Jorge Amado, sempre teve e há-de continuar a ter a legítima pretensão de furar/questionar alguns bloqueios mentais da nossa época, que depois se transformam em puros estados de negação.

Estes bloqueios por vezes aparecem-nos certificados com o carimbo da verdade, que não passa de uma estratégia momentânea para fazer prevalecer determinados interesses.
O que se passa hoje, também aconteceu no passado na “Tenda dos Milagres” original do escritor baiano, onde o autodidatismo e a perspicácia de Pedro Arcanjo chegaram e sobraram para desmontar as teorias académicas do mais famoso catedrático da cidade, um tal de Nilo Argolo.

Desconfiados de todas as estatísticas e previsões e com a razão do nosso lado diante de algumas evidências, decidimos este ano ignorar toda a informação disponível fazendo recurso exclusivo à girafa para ela do alto da sua soberba anatomia nos dizer o quê que está a ver lá mais para frente já em 2016, sem outras considerações, do tipo o pior já passou.

O ano em curso nada mais parece ter para nos surpreender, a não ser que seja pela negativa, o que também já não queremos saber para evitar mais algumas angustias, que não fazem nada bem ao sistema cardiovascular, mesmo aqueles que ainda não sofreram os primeiros abalos da idade.

O ano que se prepara para nos abandonar definitivamente corre o sério risco de ficar na história do país como tendo sido mais um “Ano da Hiena” entre vários outros com as mesmas características morfológicas que já passaram por nós nestas últimas quatro décadas.

Tendo em conta o seu miserável modo de vida a todos os níveis, incluindo o alimentar e o sexual, ninguém percebe porquê que a hiena se ri tanto a noite.
É a partir desta constatação nada simpática mas verdadeira, que depois se fazem as analogias da hiena com as pessoas/sociedades/países e se contam todas as conhecidas piadas que alimentam o anedotário de vários países.

Ao solicitarmos a intervenção da girafa para ela nos ajudar a perceber o que nos trará 2016, estamos desde logo muito receosos com a sua resposta.

Tudo indica que vem aí mais um “Ano da Hiena”, a ter em conta o caminho descendente que o preço do petróleo tem vindo a galgar, tendência que se agravou ainda mais nestes últimos dias com a matéria prima a quebrar alguns mínimos históricos, o que também já era mais ou menos previsível.

Não sendo a girafa portadora de razão/inteligência, acreditamos piamente que ela só vai mesmo dizer-nos o que está a visualizar, sem qualquer tentação, e muito menos capacidade, para manipular os dados da sua observação, que é o que agora mais vamos tendo por aí.

In Secos e Molhados/Revista Vida/O País (25-12-2015)