Luanda - Oito sobas do município do Curoca, na província do Cunene, escreveram recentemente ao Presidente da República e ao titular da Agricultura advertindo para a degradação da situação humanitária, resultante da seca que afecta a região desde 2011.

 

Fonte: O País

Então como vamos votar no MPLA?”, reclamam os peticionários ...


Na carta, as autoridades tradicionais pedem apoios para mais de 700 cidadãos muitos dos quais actualmente refugiadas nas fazendas da República vizinha da Namíbia, para onde se deslocaram à procura de alternativas para a sua subsistência.

 

Na carta dirigida ao Chefe de Estado em Novembro último, os signatários pedem, para além da assistência humanitária, apoios técnicos. “Centenas de pessoas estão em desespero e fogem para a Namíbia trabalhar para fazendas perto do rio Cunene, ganhando alguns kg de milho e feijão para acudir as famílias deixadas na parte de Angola”, lê-se na carta, onde os sobas manifestam igualmente preocupação com as eleições gerais de 2017.

 

“Não sabemos o que vai acontecer com tantas pessoas a ir para outro país, então como vamos votar no MPLA?”, reclamam os peticionários, que revelam ainda a fuga para a sede municipal do Curoca de milhares de pessoas vindas de comunas duramente atingidas como a de Oncócua. Entretanto, das alternativas que a população vai procurando tem estado a resultar na destruição da fraca vegetação devido ao abate indescriminado de árvores para a feitura de carvão para a comercialização.

 

Os sobas admitem que tal atitude pode concorrer para o desequilíbrio do meio ambientes e, por consequência, retardar a chegada das chuvas na região. “Os animais estão muito debilitados, mesmo que comece a chover vão continuar a morrer. A sua reprodução irá demorar muito”, lêse na carta.

 

Uma outra preocupação expressa na missiva tem a ver com uma proposta da subida da comuna do Chitado para a categoria de município e o facto de circularem rumores segundo os quais as fazendas adjacentes ao rio Cunene, com características agrárias excelentes, estariam a ser privatizadas por governantes.

 

Por estas e outras razões as autoridades tradicionais escreveram ao Presidente da República, José Eduardo dos Santos, e ao ministro da Agricultura, Pedro Canga com o fito de ver resolvidos os problemas apontados.

 

O pedido terá experimentado dificuldades em chegar ao destinatário, o que levou os signatários a se deslocarem a Luanda. Embora não obtivessem resposta até ao momento, dizem: “fomos lá várias vezes com o apoio da senhora Filomena de Oliveira mas mesmo assim nunca nos foi dada uma resposta”, disse o soba Tyihaka Kapika.

 

Contudo, os pedidos apresentados estendem-se ao desejo da titularidade das terras, sobretudo da Fazenda 16, localizada ao longo do rio Curoca onde se pode criar mecanismos para abastecer os campos a partir do rio. Na missiva vem expressa a necessidade de assessoria para a organização das comunidades em cooperativas para facilitar o acesso a créditos e assim como o envio de técnicos para interagir com as famílias camponesas sobre novas práticas e métodos de maximização da produção alimentar.

 

Fazem parte do grupo de sobas signatários da região do Curoca, o soba grande, Tyihaka Kapika, soba de Oncocúa, Joaquim Mutchila, soba da comuna de Chitato, Wavitoma Tyialambi, soba de erora, Mutiri Mbendula, Mbatira Kopika, Hangaida Gopo, Manaindongo Muhimba e Kalicumbo Beuliapia. Não foi possível ouvir a versão do ministro da Agricultura sobre o assunto, mas da parte da Comissão Multisectorial criada para o efeito, o discurso é de optimismo, tal como disse João Baptista Kussumua, membro da referida instituição. Disse também terem já a noção da real situação e que os apoios vão continuar para acudir aquelas populações.

 

Há cerca de cinco anos que a região Sul tem estado a ser fustigada pela seca. A situação agudiza-se dia após dia. Os números de pessoas atingidas é expressivo, estimase em cerca de 1 milhão. O município do Curoca é considerado um dos mais atingidos e onde se estima existirem perto de cinco mil pessoas em desespero padecendo de fome e o gado a morrer.