Luanda - A Comissão Multisectorial criada para acudir as populações vitímas da seca no Cunene, anunciada recentemente pelo ministro da Reinserção Social, reunida na manhã de ontem, em Luanda, manifesta- se preocupada com os números que considera desencontrados e diz existir aproveitamento individual de certas pessoas

 

Fonte: OPais

De acordo com João Baptista Kussumua, membro da Comissão Multisectorial para apoiar as vitímas da seca no Cunene, o Governo está preocupado com o número de informações contendo dados que considera “desencontrados”.

 

O também titular da pasta da Reinserção Social não entrou em pormenores sobre o nivél de intervenção do Estado, desde que eclodiu a crise humanitária naquela região do Sul de Angola há cerca de 4 anos. Também evitou falar dos apoios já alocados e os previstos para acudir as populações, tendo dito ser da responsabilidade do coordenador da referida Comissão, o ministro do Planeamento, Job Graça.

 

Porém, o ministro Kussumua admitiu existirem ainda muitas pessoas a precisar de ajuda naquela região. E disse mais: “estamos a ver uma especíe de aproveitamento de determinadas pessoas para fins particulares e que está a criar uma certa confusão”. Kussumua citou como exemplo a intervenção da senhora Filomena de Oliveira que durante a quadra festiva leva a cabo uma campanha de solidariedade para com as crianças do Cunene, com particular atenção para as populações himbas, na região do Curoca.

 

O ministro Kussumua anunciou que a Comissão Multisectorial, enviou recentemente àquela região uma equipa para um levantamento exaustivo do problema das comunidades. “Temos todas as informações para uma melhor intervenção nos próximos dias”, garantiu João Baptista Kussumua, tendo sublinhado igualmente a necessidade de se desconstruir a dramatização que a situação tem merecido.

 

Em reacção, Filomena de Oliveira responsável da Organização Não Governamental “Central de Ideias” disse não estar preocupada com estas acusações ‘descabidas’ naquilo que considerou de ‘politiquisses’. Para ela, “nada a vai fazer parar de cumprir com as suas obrigações enquanto cidadã e membro da sociedade civíl diante da vulnerabilidade à qual estão votadas centenas de angolanos nas comunidades”.

 

A responsável cívica fez questão de alertar que não tem medo nem receio de aceitar os números e a magnitude do problema, pois é ali onde entende residir o primeiro passo para a sua resolução. “Ao invés de ficarmos somente nos gabinetes sentados a criticar boas iniciativas devíamos pensar no sentido de unir esforços para mitigar o problema”, disse.

 

Ela lembrou que “este problema já se regista há mais tempo, mas a intervenção do Governo tem sido paliativa”. Filomena de Oliveira cita como exemplo a Namíbia, que vive o mesmo problema e que, entretanto, não vive uma crise alimentar “desumana”.

 

Activista comunitária criticou também a postura do Governo em tentar “proibir” acções desta natureza, quando, na realidade, devia ser ele a reunir todas as forças do país para, em conjunto, encontrar a melhor saída. “Quando existem pessoas a passar fome, em situação deploravél e o Governo não faz nada temos mesmo que intervir”, ressaltou, intrigada com a situação.

 

Activista de desenvolvimento comunitário, sobretudo na defesa dos Direitos Humanos dos povos Himbas, na região do Coroca , deixou um conselho às autoridades no sentido de perguntarem, em situações de dúvida, procurando reunir as várias organizações, evitando, deste modo, esta situação sobre quem deve ou não intervir, sustentando que está em jogo é a vida de centenas de pessoas. “Já nasci pessoa e não preciso de fazer de conta que o sou. Não estou preocupada com critícas daqueles que nada fazem”, acusou.

 

Oposição defende políticas coerentes

Para a Oposição política angolana, às soluções a serem aplicadas devem passar pela criação de políticas sociais coerentes que visem garantir a autossuficiência alimentar da população afectada.

 

O porta-voz da FNLA, Laís Eduardo, disse que Governo tem de intervir em primeira mão na construção de poços artesianos, criando canais de irrigação de água para desenvolver a agricultura e reduzir a mortalidade de pessoas e animais que são a fonte de riqueza destas áreas.

 

O político realçou a necessidade de se fazer estudos aprofundados para dar solução imediata a esta situação e sobre como as zonas desertas podem ser transformadas em zonas férteis. Laiz Eduardo considera também que a solidariedade nacional é um dos mecanismos imediatos para acudir a população daquela região.

 

Ele sugere ainda que sejam realizados mais colóquios para informar melhor a população. “Com os recursos que o país possui é possível dar resposta a esta situação, visto que Angola não é pobre em águas e muitos países, como Congo Democrático, beneficiam da água cujos rios nascem no nosso país”, disse Laís Eduardo.

 

Por seu turno, o porta-voz da da CASA-CE, Lindo Bernardo- Tito, disse tratar-se de uma situação que já deveria ter sido resolvida há bastante tempo, com a criação de um programa a longo prazo direcionado a estas regiões. O político realçou também a necessidade de se criar canais para fazer circular a água do rio Cunene a estas áreas em benefício da população e poços artificiais para reserva de água.

 

Considerou a situação como preocupante pelo facto de as pessoas ficarem sem água e alimentos para as necessidades diárias. De acordo com Lindo Bernardo Tito, “esta situação pode ser resolvida, dependendo da vontade política daqueles que têm o poder”.

 

A situação da seca no Cunene já motivou no passado uma campanha de apoio humanitário organizada pela Cáritas de Angola que resultou no envio de bens da primeira necessidade às vítimas .

 

Governador local considera a situação como ‘calamitosa’

 

António Didalelwa disse recentemente a este jornal que a situação agravou-se. Muitas são as populações que nem mesmo frutos silvestres têm para minimizar a situação. O governante disse também que a região do Curoca e outras como Ombala yo Mungo, Gambos na (Huíla), Bondo-Cailo(Kuando- Kubango) são as mais preocupantes, onde acima de 700 mil cabeças de gado estão afectadas pelo problema.

 

Números oficiais de pessoas afectadas na região

Província do Cunene mais de 800 mil pessoas carecem de alimentos e água, com destaque para a região do Curoca e Cuanhama.

 

Provincia da Huíla mais de 250 mil pessoas marioritariamente na região dos gambos.

 

Provincia do Kuando-Kubango treze mil pessoas sem ter o que comer e beber, com maior realce para a região do municipio de Cuangar e Bondo-Cailo.