Luanda - O secretário-geral do Sindicato de Jornalistas Angolanos (SJA), Teixeira Cândido, disse a OPAÍS que a sua instituição apoia o último Decreto Presidencial que impede os jornalistas do exercício de assessoria de gabinetes ministeriais.


Fonte: O País

Teixeira Cândido disse que a determinação presidencial é “bemvinda”, uma vez que o exercício da assessoria de imprensa, nos termos da lei, quer da Lei de Imprensa, quer do Código de Ética e Deontologia profissional e do próprio estatuto é incompatível.

“O jornalismo é incompatível com a assessoria de imprensa, de propaganda, de relações públicas e publicidade, e entendo que este decreto não faria sentido se nós, jornalistas, cumpríssemos com a deontologia e com aquilo que estabelece o código de ética”.

O sindicalista disse tratar-se da satisfação de uma antiga reclamação do sindicato e de outras associações profissionais no sentido da criação de “mecanismos eficazes para elevar a própria actividade profissional”.

Teixeira Cândido diz que quem quiser fazer jornalismo deve estar comprometido com a profissão e que quem quiser fazer assessoria de imprensa deve estar comprometido com ela. “Ganha o assessorado por um lado e ganha o jornalismo, porque o assessor de imprensa não é simultaneamente jornalista. “O que às vezes acontece é que um assessor de imprensa exerce, simultaneamente, a função de jornalista e, depois, nunca sabemos quando é que ele está na condição de fonte de informação ou quando é que ele está na condição de alguém que trata a informação. Às vezes a fonte de informação é a mesma que trata a informação”, disse.

Ele concluiu que tem havido um conflito de interesses, um conflito ético que viola a deontologia profissional e que faz com que a qualidade da informação nem sempre seja a melhor. Outra voz autorizada do jornalismo angolano ouvido por OPAÍS, é o jornalista Siona Casimiro que considera positivo o decreto que proíbe o exercício do jornalismo por parte dos assessores de imprensa. Ele disse que o mesmo está em linha com o Estatuto do Jornalista. Citou por exemplo os jornalistas que por inerência de funções viraram adidos de imprensa e que é incompatível o exercício das duas actividades, pois considera que os adidos têm a sua própria ética.

Para ele, o decreto exarado pelo Titular do Poder Executivo é um ganho para a classe, porque vem clarificar as incompatibilidades existentes na profissão, embora mantenha alguma compreensão em relação aos colegas, pela indigência da classe. Siona Casimiro disse ser urgente a instituição da Comissão de Carteira da classe que terá como missão a punição dos prevaricadores. Por seu turno, o jornalista Júlio Silva disse que a medida é oportuna porque, no mínimo, vem balizar as questões éticas e deontológicas, cria mais empregos e permite que os quadros se especializem em diversas áreas.

jornalista Fonseca Bengui, do Jornal de Angola, diz que este é o primeiro passo dos vários que a classe precisa de dar para disciplinar o exercício da profissão de jornalista e para se acabar com certa promiscuidade.

Em declarações a OPAÍS, ele considerou ter sido bom o Estado dar o primeiro passo, pois o decreto refere-se exclusivamente a jornalistas que vão trabalhar nos Gabinetes de Comunicação Institucional e Imprensa dos ministérios e governos provinciais ou noutros órgãos da Administração Pública.

“Na verdade, estas incompatibilidades já estão previstas no Código de Ética aprovado em 2004 pelas associações da classe, mas ninguém cumpre”, lembrou.