Luanda - Uma dezena de jornais independentes estão em risco de não serem publicados nos próximos dias devido à falta de condições técnicas da gráfica Lito Tipo, a única que ao longo dos anos tem imprimido as publicações com pendor mais crítico. Nesta terça-feira, as redacções do jornal O Crime, Terra Angolana, Grandes Noticias, Folha 8, Manchete, entre outras, receberam um e-mail que informava sobre o problema que gráfica está a enfrentar.

Fonte: RA
O assunto já preocupa os leitores, jornalistas, ardinas e os proprietários dos jornais. Nas redes sociais, meio pelo qual muitos tomaram conhecimento da informação, há quem suspeite que a decisão da gráfica visa censurar as publicações, tendo em conta a situação actual do país e a sua proximidade ao período de eleições.

Contactado por este portal, o director do Grandes Noticiais, Valter Daniel, confirmou ter recebido um e-mail com informações de que “por falta matéria prima, o jornal não devia ser imprimido na Lito Tipo até que a situação fosse resolvida”.

Valter Daniel diz que desconhece outras razões que levaram a empresa a tomar esta decisão, mas salientou que o teor do documento criou constrangimento para a direcção do jornal e aos funcionários, uma vez que foram apanhados de surpresa.

“Acho que uma empresa com a dimensão da Lito Tipo, quando nota que o stock está a terminar, devia avisar com antecedência os clientes. Nunca nos avisaram de nada e agora, de um dia para outro, dizem que já não podem imprimir os jornais, assim fica complicado para nós”, reagiu.

Na sexta-feira, segundo o director do Grandes Noticias, o jornal vai estar nas bancas. “Os nossos leitores que estejam tranquilos porque o Grandes Noticias amanhã vai estar nas bancas”, garantiu.

De forma a solucionar o problema, algumas redacções tentaram contactar outras gráficas que prestam o mesmo serviços, mas não foram a aceites. As empresas Edições Angola e a Damer foram contactadas pel’O Crime, e alegaram não terem condições técnicas para a impressão dos jornais.

O director d’O Crime explicou que a Damer, gráfica que tem estado a imprimir o jornal O Pais, República, A Capital e o Novo Jornal, negou reproduzir a publicação que trata das matérias sobre a criminalidade no país. Mariano Brás disse que, primeiro, a direcção de Marketing prometeu que haveria de enviar o orçamento. Em seguida, o funcionário já não atendia o telefone, depois de muita insistência afirmou que a gráfica estaria sem condições para a responder às necessidades dos clientes.

“Contactei outra gráfica que me informou que recebeu orientações para não imprimir os ‘jornais agressivos'”, afirma.

Mariano Brás não acredita na justificação de que falta matéria-prima. O jornalista entende isso como sendo uma censura, considerando isso o fim dos jornais independentes em Angola. ” Os jornais que eles proibiram foram o Folha 8, O Crime, o Terra Angolana, são os jornais que fazem uma avaliação realista do país em detrimento dos outros, porque também estes jornais não estão nas mãos de alguns elementos do governo como os outros. Isso indica claramente que há uma mão invisível nesta atitude”, explicou.

“Todos os jornais dominados por elementos do governo são impressos na Damer. Estes jornais vão manter-se, é o que está acontecer. Agora os jornais que são independentes estão numa guerra fria e automaticamente está a ser violada a liberdade de expressão e a liberdade de imprensa”, alertou Mariano Brás.

Ana Margoso, a directora do Terra Angolana, afirmou que o jornal foi informado sobre a situação no fim da tarde da terça-feira. Neste momento, a direcção não sabe se vão publicar ou não, mas Ana Margoso garante que está a procurar alternativas para o jornal continuar a informar. “Não vamos desistir, a nossa missão é informar. Podemos não sair esta semana, mas na próxima sairemos, estamos á procura de alternativas”, assegurou Ana Margoso.

Em declarações ao Rede Angola, o contabilista da gráfica Lito Tipo, David Mendes, disse que a actual situação financeira do país obrigou a empresa a deixar de imprimir os jornais. “Por causa da situação económica e financeira do país, não conseguimos importar, não temos matéria-prima, não tendo assim como imprimir os jornais. E tudo indica que, se a situação continuar assim, a gráfica terá que fechar”.

David Mendes nega a tentativa de censurar ou mesmo acabar com os jornais. O responsável da gráfica revelou que se continuassem a reproduzir os jornais a empresa poderia fechar porque as publicações consomem a maior parte da matéria-prima.

“Diante da situação, para a empresa não fechar no curto-prazo, devem entender que os jornais consomem a maior parte da matéria-prima, se continuássemos a imprimir jornais, num prazo muito curto a empresa fecharia. Quando a situação estiver restabelecida, não teremos nenhum problema em imprimir qualquer jornal”, conclui.