Lisboa - O general angolano e alto dirigente do MPLA Bento dos Santos "Kangamba" elogiou, esta segunda-feira, a eleição de Marcelo Rebelo de Sousa para Presidente da República de Portugal, apelando ao seu papel como "mediador" nas relações entre os dois países.


Fonte: Jornal de Noticias

"Neste momento não temos que ter dirigentes com muito fogo-de-artifício entre os dois países e sim com calma e paciência para ultrapassarmos os problemas. Portugal não pode ser o país onde se criam problemas a Angola, mas onde se resolvem os problemas de Angola, espero esse papel de mediador dele", disse o general e sobrinho do Presidente angolano, José Eduardo dos Santos.

Bento dos Santos "Kangamba", secretário do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) em Luanda, falava aos jornalistas à margem de uma visita de campo ao município de Belas, na capital angolana, tendo destacado a "política muito madura" em Portugal, que "beneficia a democracia" do país, tendo em conta as eleições presidenciais de domingo.

"Vamos bebendo a experiência de Portugal, de democracia aberta", apontou, deixando desde já o desejo de ver Marcelo Rebelo de Sousa realizar a Angola a sua primeira visita enquanto chefe de Estado português, fora da Europa.

"Seria um muito bom sinal. Não tem como os portugueses estarem contra Angola, não tem como os angolanos estarem contra os portugueses. Nós estamos condenados a viver juntos, a estar juntos, é a mesma língua, vivemos juntos, sãs as mesmas famílias, os nomes são iguais", recordou.

Angola e Portugal têm vivido vários momentos de tensão nas relações bilaterais nos últimos anos, que levaram mesmo o Presidente angolano a anunciar, em 2013, o fim da intenção de estabelecer uma parceria estratégica com o país.

"Quando se ganham umas eleições em Portugal, a primeira ligação que se tem de fazer é conversar com os dirigentes angolanos e criar aquele ambiente muito forte entre irmãos", disse ainda o general "Kangamba".

Numa altura de crise financeira, económica e cambial em Angola, decorrente da quebra da cotação do petróleo no mercado internacional, o alto dirigente do MPLA, partido no poder desde 1975, garante que a situação no país é "estável" e desvaloriza os recentes alertas internacionais sobre alegadas ameaças à segurança de estrangeiros em Luanda.

"A situação está sob o controlo de um Governo democrático. O poder não se vai à força, o poder é aquilo que aconteceu em Portugal, quem ganha governa. Mas alguns partidos em Angola têm levado uma má-fama, mensagens negativas de Angola, fora do país e têm de rever as suas políticas", criticou.

Marcelo Rebelo de Sousa foi no domingo eleito Presidente da República com 52% dos votos, uma percentagem acima dos 50,5% conseguidos na primeira eleição pelo seu antecessor, Cavaco Silva, em 2006.

O ex-líder do PSD e comentador político tornou-se no quinto Presidente da República portuguesa desde o 25 de Abril de 1974, numas eleições em que se registou uma abstenção de 51%.

Segundo os dados do Ministério de Administração Interna, Marcelo obteve 52%, seguindo-se Sampaio da Nóvoa (22,89%), independente apoiado por personalidades do PS, Marisa Matias (10,13%), apoiada pelo BE, Maria de Belém (4,24%), militante do PS, Edgar Silva (3,95%), apoiado pelo PCP, Vitorino Silva (3,28%), Paulo de Morais (2,15%), Henrique Neto (0,84%), Jorge Sequeira (0,3%) e Cândido Ferreira (0,23%).