Luanda - Ensinar a estudar é um desafio aos professores do século XXI.

Fonte: Club-k.net

“Se os alunos não sabem estudar, uma das tarefas prioritárias de qualquer professor responsável é ensinar a estudar. Só assim se garante o sucesso do ensino e da aprendizagem. Cada professor deve ensinar estratégias de estudo adaptadas à disciplina que lecciona, promovendo a partilha de experiências entre os alunos, em trabalhos de grupo e em debates na turma. Com um bom método, os alunos conseguem melhores resultados. Desse modo, reforçam a sua própria motivação”. O ensino será tanto mais eficaz quanto mais depressa o aluno conquistar a sua autonomia (autodidatismo) e dispensar o professor no processo de aprendizagem. A capacidade de aprender por si mesmo é fundamental para vencer os desafios da escola e adaptar-se às mudanças do futuro. A motivação (querer estudar) é o primeiro segredo do sucesso escolar. Sem motivação, não há truques eficazes: aprende-se pouco e esquece-se depressa (memória), (António Estanqueiro, in Aprender a Estudar, 13a Edição, Texto Editores, Lda, Lisboa, 2008).

1. MOTIVAÇÃO

Motivação (querer estudar)

Método (saber estudar)

2. APRENDIZAGEM E MEMÓRIA


Aprendizagem e memória são inseparáveis. Um bom processo de aprendizagem consiste em relacionar as novas informações com outros conhecimentos já adquiridos. É aqui que reside o débil background académico (base) dos nossos alunos, razão pela qual queixamo-nos, com frequência: esses alunos não estudam; esses alunos não rendem nada...

No acto de aprender não existem compartimentos estanques. Mais vale uma “cabeça bem-feita” que uma “cabeça bem cheia”, segundo Edgar Morin, in A Cabeça bem-feita. Uma “cabeça bem-feita” é uma cabeça apta a organizar os conhecimentos e, com isso, evitar sua acumulação estéril, enfatiza. Na “cabeça bem-feita”, o sujeito cognoscente apreende com fidelidade o objecto conhecido, num processo holístico intencional, evitando-se “saltos” e “buracos”, verdadeiras ervas daninha que conspurcam ou maculam o conhecimento.

Portanto, no acto de aprendizagem há que fazer-se “links” do novo e do velho e, inversamente, não é mentira. Não foi em vão que Jesus Cristo mantivesse o velho testamento e o revisitasse, amiúde. HÁ QUE INTEGRAR ACÇÃO, PENSAMENTO E EMOÇÃO PARA PRODUZIR RESULTADOS, COMO DIRIA VIRGÍLIO VASCONCELOS VILELA, IN COMO EXPANDIR SUA INTELIGÊNCIA, BRASÍLIA, DEZEMBRO/2008. Há que reformar o pensamento mesmo que o pensamento se recuse a reforma-se...

A questão “APRENDIZAGEM” é, sem dúvidas, uma vexata quaestio (questão muito controversa, assunto polémico) que colocou já em aceso conflito, durante séculos, racionalistas versus empiristas. Enquanto aqueles davam primazia à razão, sem descurar os sentidos, os empiristas eram opositores do racionalismo, que consideravam a experiência como a única fonte de conhecimento válido.

Enfrentar a questão de “como se ensina”, bem como, de “como se aprende”, é o nosso desafio, hoje. E é isso que a escola raramente se outorga questionar. “Não sabemos o que acontece e é isso que acontece” como diria Ortega Y Gasset, lapidarmente. Se aprender é uma acção complexa e fascinante; então, aprender sobre como se aprende é uma tarefa ainda mais complexa e merecedora de cuidado. Para além de inúmeros problemas que enfermam a nossa educação, ensinar a estudar, é um dos condimentos que a carece, acção que deve contar com o concurso da família, do Estado e da sociedade, em geral, sendo o professor o pináculo piramidal desse processo.

Saber ensinar a estudar é algo que deve ser promovido desde o ensino básico, desde o berço... É imperioso, portanto, saber-se estudar; saber-se ensinar a estudar. Não adianta ensinar Química sem ensinar a estudar Química sob pena de colher-se resultados catastróficos...

Face ao conhecimento, segundo António Estanqueiro, cada um de nós pode encontrar-se numa das seguintes situações:

  1. Incompetência inconsciente: não sabe que não sabe.

  2. Incompetência consciente: sabe que não sabe.

  3. Competência inconsciente: não sabe que sabe.

  4. Competência consciente: sabe que sabe.

    Eu, costumo enquadrar-me na segunda. Julgo ser Incompetente consciente que sabe apenas que nada sabe. E tu, colega? Qual é a tua condição gnosiológica? É a consciência da fome que nos impele à comida. É a consciência da ignorância que nos move ao conhecimento. A competência consciente é a situação ideal, mas, muitas vezes, perigosa, pois produz incompetentes inconscientes petulantes que presumem saber quando nada sabem.

Como educadores, entendo, modéstia à parte, que deveríamos nos ‘surpreender’, a cada instante, enquadrando-nos em cada uma das quatro situações supra elencadas.

A necessidade de criação de novas disciplinas na escola hodierna angolana, como: Ensinar a Estudar, Educação Financeira e Como se Aprende, não só é urgente como de vital importância.

Esta recatada alocução é uma gota no oceano e, certamente, um “Pai-Nosso ao Vigário” que serve tão só como aperitivo a uma reflexão que se impõe, no limiar do ano lectivo que desabrocha de mansinho, longe de ser uma receita acabada e condimentada aos egrégios colegas de que rendo preito e vassalagem dada comprovada experiência didáctico-docente de que são portadores...

Destarte, estou apenas em crer que cada um de nós, de lés a lés, fará uma introspecção consentânea, a fim de, oportunamente responder, com justeza, a três perguntas seguintes, que, deve(ria)m dominar o cardápio lexical de todo o educador responsável:

1. A ESCOLA ENSINA A ESTUDAR?
2. A ESCOLA ENSINA COMO SE APRENDE?

3. A ESCOLA ENSINA SOBRE O DINHEIRO?

Que este não seja mais um ano lectivo, mas o outro ano lectivo. São votos singelos de vosso colega, Fernando Kapetango, a partir da sombra amena de uma acácia rubra.

Benguela, 27 de Janeiro de 2016