Luanda - O Tribunal Provincial do Huambo concluiu na terça-feira a audição de 38 declarantes no caso da seita angolana "Kalupeteka", envolvida em confrontos mortais com a polícia em 2015, mas com versões contraditórias em julgamento.

Fonte: Lusa

O líder da seita "A luz do mundo" e principal visado neste julgamento, José Julino Kalupeteka, também apelidado de "profeta" pelos seus seguidores, recusou a autoria dos confrontos ou de atos de violência, segundo os relatos da imprensa local.

 

Já a polícia e investigadores chamados a declarar garantiram em tribunal que, além do ataque atribuído aos seguidores, havia um plano de defesa armado organizado pelos fiéis no acampamento em causa.

 

Durante vários dias a Lusa tentou contactar os advogados da associação Mãos Livres, que assumiu a defesa dos dez elementos da seita acusados de homicídio neste processo, mas sem sucesso.

 

Em causa estão os confrontos entre os fiéis e a polícia, cujos agentes tentavam dar cumprimento a um mandado de captura - na sequência de outro caso de violência na província vizinha do Bié e que também está a ser julgado - de Kalupeteka e outros dirigentes e alguns dos seguidores que estavam concentrados no acampamento daquela igreja, no monte Sumi, província do Huambo.

 

Os confrontos levaram à morte, segundo a versão oficial, de nove polícias e 13 fiéis, a 16 de abril.

 

A defesa alegou anteriormente que na zona dos confrontos estariam cerca de oito dezenas de adultos, crianças e bebés, tendo a polícia apresentado em tribunal mais de 80 armas, como mocas e machados, apreendidos no local, suspeitando por isso da veracidade destas provas.

 

Neste processo, Kalupeteka - de 46 anos e detido preventivamente desde abril - é o principal visado dos dez acusados e está indiciado pela coautoria material de nove crimes de homicídio qualificado consumado, crimes de homicídio qualificado frustrado e ainda de desobediência, resistência e posse ilegal de arma de fogo.

 

Os restantes elementos são visados igualmente por crimes de homicídio qualificado consumado e frustrado.

 

Até ao momento, realizaram-se 12 sessões deste julgamento e para sexta-feira estão previstas as acareações finais.

 

A oposição angolana denunciou na altura dos crimes a existência de centenas de mortos entre os populares, naquele acampamento, e pediu uma investigação internacional, acusações e pretensão negadas pelo Governo.

 

A acusação deduzida pelo Ministério Público (MP) do Huambo contra os homens, com idades entre os 18 e os 54 anos, refere que as mortes dos agentes da polícia resultaram essencialmente de agressões com objetos contundentes, inclusive paus, punhais e catanas, às quais alguns polícias responderam com disparos.

 

A seita em causa, não reconhecida pelo Estado angolano, era conhecida por advogar o fim do mundo em 2015 e não permitir a alfabetização ou vacinação dos fiéis, tendo sido criada por José Julino Kalupeteka em 2006, depois de este ter sido expulso da Igreja Adventista do Sétimo Dia.