Luanda - Quatro funcionários angolanos afectos à Comissão Sindical da empresa italiana de hidrocarbonetos ENI‐ antiga AGIP‐ foram recentemente despedidos por defenderem reajustes salariais, à luz da crescente desvalorização da moeda nacional.

*Ilídio Manuel
Fonte: Club-k.net

Os  visados, alguns dos quais com mais de 20 anos de serviço, fizeram chegar em Outubro do ano passado um documento ao director‐geral da empresa, o italiano Guido Brusco, no qual vinha expressa a vontade dos cerca dos 200 trabalhadores angolanos verem os seus salários melhorados, que estão indexados ao dólar norte‐americano.

Fontes do Club‐k dizem que o pedido dos funcionários da empresa italiana em Angola era «justo e legítimo», visto que as demais multinacionais que actuam em Angola no mesmo segmento do mercado, nomeadamente a Exxon, Chevon e Total já efectuaram os respectivos reajustes salariais.

Após várias semanas de espera, e devido ao silêncio a que se terá remetido a direcção da empresa, os funcionários em causa entenderam encaminhar as suas reivindicações à sede da empresa em Milão; um gesto que, entretanto, viria a custar‐lhe a instauração de vários processos disciplinares, como resultado da sua atitude «insolente de procurar falar directamente com o Papa», ironizou uma das fontes deste jornal.


Consta que os visados, depois de terem sido ouvidos, em meados do mês de Dezembro, em sede dos processos disciplinares, terão sido humilhados, a ponto de terem sido «escoltados» até à porta de saída da ENI por efectivos da empresa de segurança privada que presta serviços à empresa italiana. «Foram tratados como vulgares criminosos, além de escoltados, não lhes foi dada a oportunidade de irem desligar os seus computadores», descreve um funcionário, que pediu o anonimato por razões óbvias.


A mesma fonte denunciou o facto de o director‐ geral adjunto da ENI, assim como a directora dos Recursos Humanos da mesma empresa, ambos angolanos, não terem movido uma única palha durante todo o processo contra os seus colegas, «quanto mais não fosse no sentido de acautelar o DG da empresa sobre a ilegalidade do seu acto».


Há informações de que os quatro sindicalistas «rebeldes» foram despedidos no dia 28 de Dezembro, o que, no entender das fontes do Club‐ K, a medida terá sido feito de forma «calculista e fria», visto que as atenções dos funcionários estavam na altura viradas para a quadra festiva, e devido às férias judiciais dos tribunais nesta época do ano.


Soube‐se que as autoridades ligadas ao Ministério dos Petróleos, assim como à Inspecção‐Geral do Mapess não foram comunicadas do sucedido. Guido Brusco, que está há seis meses à frente da empresa italiana em Angola, é acusado de levar a cabo uma «gestão autoritária» e de supostamente dar cobertura a actos discriminatórios e de racismo de que estarão a ser vítimas os funcionários angolanos na empresa transalpina em Angola. O Club‐k tentou nesta terça‐feira ouvir, sem sucesso, a versão da Direcção dos Recursos Humanos da empresa, tendo recebido a informação de que a sua responsável se encontrava reunida. Uma funcionária da área garantiu por pessoa interposta que o articulista seria contactado tão logo a directora tivesse disponibilidade, pelos vistos, não a arranjou, até à conclusão desta peça, nesta quinta‐feira.