Luanda - A subida galopante dos preços dos principais produtos da cesta básica, o desaparecimento no mercado formal de divisas e as oscilações “mais para baixo” do preço do crude estão a testar a capacidade governativa do país, sobretudo no que concerne a comunicação/informação.

Fonte: Club-k.net

Foi nesta esteira que o governador de Benguela Isaac dos Anjos (IA) respondeu via telemóvel (parou por alguns instantes a caravana que se dirigia ao município da Ganda para “visita de inaugurações”) a Rádio Benguela que fazia abordagem da “crise dos preços” e do aparente descontrolo das autoridades locais. Pois, que IA tentou esclarecer alguns pontos obscuros:

“Os grossistas fecham cedo os seus armazéns porque atingem o limite do número de facturação mas atendem até o último cliente que estiver no seu interior, porque têm que ir depositar o dinheiro no Banco.

- Que há retalhistas que querem comprar aos grossistas mais que o habitual para escpecularem o mercado.
- A população de Benguela não deve preocupar-se, há stocks alimentares suficientes e o problema está identificado”. E, mais, “a população deve mudar os seus hábitos alimentares os nossos gados todos morreram? Os nossos cabritos todos morreram? Já não há milho? Benguela já não tem mais peixe? E a nossa banana? Não podemos comer a banana fervida com peixe?”.

É sempre louvável quando os nossos governantes dão à cara e respondem sem tabus os problemas que nos tocam. Porém, o que parecia ser um simples esclarecimento tornou para os “detractores” de IA mais uma pedra de arremessa ao seu consulado, deturparam e descontextualizaram o seu conteúdo (só falaram do peixe e da banana, há aspectos positivos no conteúdo da sua intervenção).

A comunicação de IA é oportuna e deve ser encorajada. No entanto, o seu maior pecado foi o facto de transmitir aos ouvintes/benguelenses arrogância e alguma autoridade excessiva, porquanto o tom da sua voz e uso de algumas expressões revelaram-nos que não gostou da maneira da abordagem e reagiu a quente muito mal. Este tipo de comportamento é totalmente desaconselhável para um chefe, e ainda por cima nesta fase dificílima da vida dos angolanos.

Aliás, amiúde nos bastidores fala-se de que IA é “reincidente” sobretudo no descontrolo que tem no uso das palavras. Há defeitos que todos nós temos, devemos saber identificá-los e corrigi-los, chama-se auto-crítica.

Pensamos que faltou elaborar um bom “Direito de Resposta” com rigor, objectividade, cuidado, responsabilidade e respeito aos destinatários da mensagem, pois é uma sociedade heterogénea. Portanto, a situação é precária para muito boa gente, há os que apenas perderam o poder de compra, há os que estão reduzidos a quase nada e não sabem como matar a fome, a luta é de comida.

Há pais e encarregados de educação que não matricularam os seus filhos (IA reconheceu que os lugares são poucos para todos aquando da abertura do presente ano lectivo). E os que matricularam, alguns fizeram ginástica financeira para adquirirem o material escolar mas lamentavelmente, crianças vão à escola com as barrigas vazias.

Por outro lado, IA aconselha o consumo da produção nacional, é uma “visão visionária”. Contudo, parece que “esqueceu” o que disse o Senhor Presidente da República José Eduardo dos Santos na mensagem do fim do ano passado, “falamos durante muito tempo na diversificação da economia, mas fizemos muito pouco, mesmo assim mais vale começar tarde do que nunca começar”.

Ora, o chefe JES afirmou “ fizemos muito pouco” o que é verdade, então o gado, o peixe, a banana e outros produtos nacionais que existem e que IA nos mandar comer não chegarão para todos. E mais, é um erro grasso pensar em consumir de forma directa os produtos do campo sem pensar na transformação (agro-indústria). Logo o Executivo falhou-se imperdoavelmente a “diversificação da economia”.

É urgente, o momento exige ponderação e pacificação dos espíritos com palavras de encorajamento, força e de alento, e não de arrogância de quartel.

Haja juízo!