Lisboa - O jornalista e ativista angolano Rafael Marques convidou hoje o embaixador itinerante de Angola Luvualu de Carvalho a debater, em Luanda, as questões ligadas aos direitos humanos em Angola assim como a situação económica do país.

Fonte: Lusa

Rafael Marques e o embaixador itinerante António Luvualu de Carvalho participaram hoje na conferência "Perspetivas sobre a Transparência, Direitos Humanos e Sociedade Civil em Angola", organizada na capital norte-americana pela organização National Endowment for Democracy (NED).

Na conferência estão presentes ainda o subsecretário adjunto para os Assuntos Africanos do Departamento de Estado e o embaixador norte-americano Princeton Lyman, conselheiro do Presidente dos Estados Unidos.

 

"Agora, posso desafiar o embaixador Luvualu a discutirmos em Luanda num fórum que convenha ao governo", disse o autor do livro "Diamantes de Sangue" na abertura da conferência sobre Angola que decorre na capital dos Estados Unidos em que destacou a crise económica angolana e enumerou casos de atropelos aos direitos humanos.

 

"As conspirações selvagens são simplesmente para consumo propagandístico e as acusações ridículas são para os tribunais justificarem as detenções dos ativistas", disse Rafael Marques referindo-se aos 15 angolanos presos desde junho de 2015 e que estão a ser julgados pelo Tribunal Provincial de Luanda acusados de rebelião e tentativa de golpe de Estado.

 

"Nos anos 1980, durante o marxismo-leninismo, contava-se uma anedota: se o governo deixasse de transmitir os episódios diários das telenovelas brasileiras poderia haver um golpe de Estado. A combinação entre a repressão e as políticas desonestas funcionam bem para o governo e entretêm as populações urbanas e periféricas", em Angola, acusou Rafael Marques.

 

Para o jornalista, a propaganda que "conseguiu manter" o Presidente no poder durante 36 anos usa como técnica as alegadas conspirações que vitimizam a Presidência acabando por justificar o uso de meios de segurança que anulam os dissidentes organizados e neutralizam os potenciais líderes que podem fazer mobilizar "sentimentos antirregime".

 

"Atualmente, os líderes desonestos que continuam a pilhar o país sem piedade começaram a tornar-se perigosos para eles próprios. A população não se diverte com a desonestidade tal como se divertia no passado com as telenovelas brasileiras. Por isso, o regime tem vindo a adotar medidas preventivas para garantir a sua própria impunidade. A estratégia -- esgotada -- é a apresentação de teorias de conspiração, preparação de atos de rebelião e supostas intentonas", afirmou o jornalista e ativista angolano.

 

Além do caso dos ativistas que estão a ser julgados em Luanda, Rafael Marques mencionou também o processo contra Marcos Mavungo, condenado em 2015 a seis anos de cadeia em Cabinda, por "conspiração", e o "massacre do Monte Sumi", no Huambo, que implicam a Polícia Nacional na morte de membros da seita religiosa "Luz do Mundo", liderada por José Julino Kalupeteka, o qual está a ser julgado no Huambo, centro de Angola.