Luanda  - É preciso ter coração de pedra...As 19 horas do dia 09 de Março de 2016, quarta­-feira, acompanhei com bastante preocupação e apreensão os comentários apaixonados e paternalistas de um conceituado analista da Rádio da ocasião 91.7 quando tecia em volta da cerimónia de tomada de posse no Palácio de Belém, do 5o Presidente da República de Portugal, o Catedrático, reputado Constitucionalista e mui respeitado Dr. Marcelo Rebelo de Sousa. Uma cerimónia que no nosso caso teve como destaque a ausência premeditada de um dirigente angolano, oficiosamente por terem declinado o convite, ou na maior das hipóteses por não terem sido convidados. Se este último justificativo é o certo, advém mais preocupante, o que subentendido, aflora a gravidade dos últimos acontecimentos que implica o Vice­-presidente de Angola, Manuel Vicente e a filha do Presidente da República de Angola, Isabel dos Santos.

Fonte: Club-k.net

O digníssimo especialista – comentarista da Rádio 91.7, copiosamente numa embrulhada entre elogios ao Presidente de Portugal, as relações Angola/ Portugal e os injustificáveis argumentos quanto à ausência de uma autoridade angolana a Tomada de Posse de Marcelo Rebelo de Sousa (claro, não obrigatória, mas diplomáticamente recomendável e susceptível a múltiplas interpretações nos cânones das Relações Internacionais), destratava os dirigentes, os políticos e na enfiada os portugueses na generalidade, por supostas ingerências aos problemas internos de Angola que na sua lógica só dizem respeito aos angolanos. Rotulou e catalogou na meada a imprensa portuguesa de hostil a Angola e outros dirigentes como saudosistas do tempo dos 500 anos de colonialismo.

Eu pessoalmente, me interrogo e me espanto depois de milhares de kilómetros andados nas avenidas dos 40 anos de independência de Angola e muitos corredores da morte transpostos, em que, Grosso­modo, a maioria absoluta dos angolanos não beneficiou patavina alguma e muitos, aqui sim, pela vida negra que levam, preferiam um volte­face ou regresso ao passado para tudo recomeçar.

Daí, como possível um compatriota, mesmo que seja a coberto de um fictício patriotismo, tenha hoje a hombridade profissional e coerência intelectual de defender o balanço do Consulado deste Governo de José Eduardo dos Santos que 40 anos depois, só espalhou a fragrância nauseabunda da pouca vergonha e humilhou estarrecidamente o seu próprio povo?!

Então, com esta situação de miséria que se arrasta há 40 anos e que ontem só era encoberta pelo factor Guerra­ UNITA ­Jonas Savimbi, triunvirato que finalmente fazia as benesses do actual Regime e de certo modo, até impediu o pior: “Um Esclavagismo Moderno com a reabilitação das Roças de contratados da Gabela e do Uíge”, na medida em que, o Saque aos bens e dinheiros do Estado, só começou a definir e deliniar exactamente os seus contornos com a morte de Jonas Savimbi e o consequente fim definitivo da Guerra fractricida.

A partir do dia 22 de Fevereiro de 2002, José Eduardo dos Santos, Presidente de Angola e o MPLA – Governo, sairam do coma e obtiveram o Xeque em Branco para colocar de joelhos os Angolanos na condição de subservientes, delapidando sim o que é pertença dos agora mais de 22 milhões de concidadãos, ontem indígenas analfabetos e ignorantes.

Com a morte de Savimbi e a Capitulação da UNITA, José Eduardo dos Santos e sua filha Isabel dos Santos, tiveram aquilo que na giria se costuma dizer: “A faca e o queijo nas mãos”, pois nada, absolutamente nada os impediu de afundar os angolanos neste lodo pestilento onde, ou se morre fisicamente, ou se vive aterrorizados socialmente.

Tem alguém de bom senso, pleno das suas faculdades fisico­anímicas, a coragem ou veleidade de condenar ou abominar quem critica a moral e conduta dos governantes angolanos, nestas condições de vida, com provas materiais e factuais em sustentação, com os altos dignitários envolvidos em escândalos sucessivos de vária índole e acusações bem fundadas?

Tem hoje um angolano, inserido na Nova Ordem Mundial com acesso a evolução das sociedades e que se revê no Estatuto Civilizacional Humano­ moderno, conhecedor dos tratados dos Desafios do Milémio, o desplante e o fervor dito patriótico de acusar, repito acusar a Imprensa Portuguesa ou outra qualquer no mundo ou mesmo a interna em Angola, de hostil, aversa aos angolanos por denunciarem roubos, desvios, peculatos, insensibilidade e irracionalidade de homens e mulheres ‘governantes’ que teriam o dever de cuidar dos seus concidadãos pela incumbência das obrigações de Estado em função da Constituição reinante, mesmo sendo ela em grande parte contextada?

1 – Reparem, e só para citar este facto: Marcelo Rebelo de Sousa, que hoje toma posse, é o 5o Presidente de Portugal, desde 1976 contra 1 de Angola, de seu nome: José Eduardo dos Santos. Quer dizer que, com o presente cenário, mesmo se advogarmos os periodos de guerra, somos forçados a considerar os portugueses mais humanos e mais cidadãos do que os angolanos;

2 – Não é verdade que, os milhões de Dólares roubados ou abusivamente mal aplicados serviriam para salvar milhões de angolanos que só morrem porque esses dinheiros injustificados são animalescamente roubados? Não é verdade que os milhões de angolanos, desalojados das zonas urbanas para as zonas áridas e de riscos, como nas anharas do Calomboloca e outras por Angola, os milhões de Dólares assambarcados serviriam para proporcionar­lhes condições mais dignas?... etc. E para não mais citar a imundicie dos hospitais...

3 – O irlandês Bob Geldof, que já em Maio de 2008, depois do escritor Agualusa, alertou que Angola estava a ser gerida por criminosos, ou a Euro Deputada Ana Gomes que denunciou as amarras da ditadura angolana com a corrupção e sistemáticas violações dos Direitos Humanos com o caso Mavungo em Cabinda e os 15+2 e outros que alertam as injustiças e a precariedade de vida, estes são inimigos dos angolanos, somente por denunciarem o que é verdade?

4 – E Querem os senhores a coberto do patriotismo_ não se sabe bem de que Pátria, insinuar que deveriam outros povos deixar­nos devorarmo­nos uns aos outros, entre as quatro fronteiras de Angola?

5 – Tal como disse um dia um confrade: “O que se passa em Angola, podem crer, só os angolanos consentem, um outro povo teria reagido de outra forma”.

Por isso, quando somos chamados a comentar, a emitir uma opinião pública sobre a realidade de Angola, deviamos no mínimo ser racionais.

Minhas senhoras, meus senhores, donos do saber e do conhecimento, tenham compaixão e respeito pelas mulheres, pelos velhos e pelas crianças que acreditaram noutra coisa, e não nesta que lhes é oferecida pelo MPLA e o Presidente José Eduardo dos Santos.

Félix MIRANDA