Luanda - A crise que nos assola, tem seu fardo mergulhado em todos os domínios da vida do angolano: nos costumes culturais, na alimentação, na arte, na saúde, na dança, na língua, nos hábitos, no modo de vida, na forma de vestir, na atitude, e sobre tudo na vivência do povo, marcando até mesmo o folclore da angolanidade, de modo indelével, com sua fortíssima audácia, traduzindo o percurso de um novo ethos para o povo angolano.

Fonte: Lusa

A crise de identidade cultural que Angola vive, é das mais difíceis para se transpor, aliás, resultante de uma má absorção dos ingredientes existentes nas fronteiras da globalização, que tal absorção não permitiu ao angolano a conservação do seu folclore, passando a substituí – lo por um horizonte de identidade alheia, cuja mudança, carece de uma pugna intensa que encontre seu foco crucial na família.

 

É neste cenário de crise de identidade, que nós angolanos teremos que lutar de forma incansável na conquista da nossa identidade cultural dormente, sem manchar ou desprezar a língua portuguesa que também é nossa, e nos ajuda acima de todas as línguas existentes, na conquista de uma posição de vanguarda no mundo, uma vez dentro do século XXI, porque o idioma português, presente em todos os quadrantes, é dos mais preciosos e falados no mundo.

 

Com efeito, a crise que a globalização acusou para Angola, constitui uma crise de identidade séria, porque, ao tentar impor o livre mercado sem fronteira para os produtos dos países industrializados, tende a fazer dos povos, meros consumidores de sua produção industrial e tecnológica, com o elevado risco de não podermos antes, nos estruturar para mantermos a nossa identidade como povos de cultura e folclore próprio, como acreditamos e queremos que sejamos.

 

Debalde seria, se apesar das circunstâncias que hoje o país vive, nos esquecêssemos deste grande drama de perda de valores culturais do nosso povo, que nada mais nos torna, senão mesmo num povo sem identidade própria; despindo a sociedade dos seus valores ancestrais que descreveram o modelo de vida dos nossos primeiros Pais no passado e definiram o percurso histórico de suas vidas, de seus hábitos, e sobretudo de suas formas peculiares de existência e de viver outrora.

 

Se a ideia da globalização, é tão antiga quanto a própria humanidade é, o que a história tem por expressar, traduz – se num fenómeno cuja origem advém das guerras de conquista da antiguidade, e da idade média, evoluiu para o descobrir de novos horizontes, não obstante, permitindo desde logo, a manutenção de vastos impérios coloniais, e hoje se transformou no factor decisivo para o domínio dos mercados, em quaisquer dos casos, outrora ao serviço de governos fortes, a seguir de estados fortes e, hoje, a serviço da combinação de estados fortes com corporações económicas fortíssimas, sempre tendo como relevo a lei do passado: “ O FORTE VENCENDO SERÁ SOBERANO”.

 

Por isso, o neo – liberalismo, que se constitui no alicerce da globalização actualmente, e que dita para os países emergentes, como Angola e outros, a ideia de um estado mínimo, incapaz e impotente para regulamentar, democraticamente, as relações sociais e económicas de seus povos e, destes com os demais, não passa de cortinas de fumaça para esconder e proteger novas formas de submissão colonialista daqueles que se dispunham a se tornarem Estados fracos, sociedades fracas, indivíduos fracos.

 

Sem perda dos valores éticos do liberalismo, não podem os países emergentes, e dentre eles Angola, colocarem o seu olhar preso no esquecimento, sobre facto segundo os quais, os grandes Estados tidos como neo – liberais, são Estados máximos, Estados fortíssimos, dotados de uma capacidade de intervenção económica e política autêntica e poderosíssima, capazes mesmo de absorvem interesses alheios para fins próprios, não obstante, estamos a cada dia que se passa, ao encontro da história num novo paradigma: o neo – colonialismo do século XXI.

 

Para que possamos fazer face a tais interesses superiores, urge a necessidade de desenvolver o país em todos os níveis, permitindo – nos uma ascensão que impõe superioridade face às demais nações, fazendo fluir para o nosso povo, um desenvolvimento harmónico que não se resume apenas no desenvolver arquitectónico do betão, mas antes pelo contrário, num desenvolvimento da pessoa humana no seu todo, desenvolvimento este, que torne Angola num estado forte composto por uma sociedade com igualdade de forças evolutivas, e capazes de fazer crescer o país de forma sustentável e imparável.

 

E ao me referir em Estados fortes, não aponto para qualquer expressão como mecanismo ilustrativo da expressão Estado forte, me refiro a um estado forte, enaltecendo uma expressão cujo relevo se traduz num Estado que respeita as liberdades individuais, sociais, colectivas e difusas, que seja capaz de estruturar a cidadania à luz da participação efectiva de todos os membros de sua sociedade para a promoção do desenvolvimento harmónico e sustentável de um povo.

 

E para tal mister, nada mais estratégico que um vigoroso sistema de ensino, engrandecido pelo ensino superior do homem, que se torna numa autêntica tarefa de mudança da personalidade e do “ethos” de um povo no seu todo. Esta tarefe teria como visão, transformar a escola numa oficina da personalidade, onde se concertam as conturbações de que o homem arrasta consigo há anos, transformando de então a Universidade, num verdadeiro canteiro de obras humanas, que somente ilumina e dota o ente humano de fortes virtudes, visando estruturar a pessoa do homem, fazendo emergir para Angola um novo homem, renascido, prestes à servir a um novo mundo, onde o qual constitui um participante conveniente.

 

É necessário saber para agir, mas também é necessário estudar para saber, sem a formação o homem torna – se num reservatório isento de ideias capazes de iluminar o mundo e apontá – lo à evolução definitiva e certa.

 

As nossas Universidades, devem dotar – se de um sistema de ensino que não se cinge no mercantilismo, que nada mais tem por dar senão usar da escola num negócio que apenas preza pelo dinheiro, colocando departe a formação do homem. Uma Universidade que somente presa pelo dinheiro, torna – se desestruturante, capaz de certificar mentes isentas de saber, transformando o ensino num acto supérfluo, que somente serve para dar canudos e papeis a entes desprovidos de saberes. A Universidade deve ser séria, deve ser de carácter rigoroso, que somente presa pelo saber e não pelo dinheiro de propinas.

 

A maioria das Universidades hoje, tornaram – se num mercado de venda do saber, as que ontem detinham um papel crucial que primava pela qualidade do ensino, cada vez mais se vão deixando escapar pelos interesses materiais, Uma universidade séria e rigorosa, é dura, difícil, no entanto, este carácter afasta a clientela estudantil, neste prisma, as Universidades, para atrair mais clientela tendem a ser fragilizadas pelos interesses matérias passando a perder o brio da qualidade que ontem as identificava. Com esse modelo de ensino, a Universidade nada tem por servir ao país, porque um quadro sem saber, torna – se num obstáculo e não numa solução.

 

As nossas Universidades, dos escombros desta nação deveriam tornar – se fortes e rigorosas, capazes de constituir Angola numa estrela cintilante, que iluminará o nosso firmamento de África amanhã perturbada pelo subdesenvolvimento, passando a transformar o ensino como no passado, na era pré – independência e pós – independência, onde o rigor era o cajado do ensino, ou talvez, como em países do primeiro mundo, onde a vontade e a magnitude cognitiva do estudante universitário, não se medem nem a metro, nem a balança.

 

É preciso desmilitarizar a pobreza intelectual, e cicatrizar as feridas do subdesenvolvimento com luzes de uma formação séria, que preze pelo saber e não pela quantidade ou número de pessoas por liberar do ensino, pra tal, seria necessário a redefinição dos paradigmas mestres que definem hoje o ensino superior em Angola. Estamos a formar em número, agora, é necessário optarmos pela formação em qualidade e colocar de parte os números, pois que, não é pelo tamanho que se mede a força de um gigante.

 

A Universidade deve lutar, e procurar sempre que Angola se situe ao pé da evolução acadêmica e científica, com a força do rigor, ciência e saber, sem as quais o futuro que nos espera não pode ser nosso. Senão, seremos forçados sempre, a importar quadros estrangeiros, com maior capacidade técnica e cognitiva, porque os que teremos, nada terão por servir ao país, e aliás, não darão luzes às questões últimas que a razão pode esclarecer.

 

Não convém que as Universidade liberem para o mercado, quadros que somente prometem kms e realizam cms, mas, antes pelo contrário, quadros dotados de capacidade de audácia autêntica e preparados para os maiores desafios que o país vive e espera.

 

A universidade deve iluminar o homem, e dotá – lo de uma capacidade activa, uma capacidade que suporta os maiores sacrifícios e contornos de que a história pode transpor, uma capacidade funcionante e disposta ao sofrimento e ao esforço dinâmico em todas as facetas sociais. O sacrifício do estudante universitário, deve definir – se como modelo capital na busca da ciência e do saber, onde a disciplina, a educação e a honestidade são factores obrigatórios. Para tal, é necessário acertar o passo do ensino, para evitar colisões com os interesses que o país chama, permitir – se criar iniciativas que impõem a realização plena dos interesses sociais do angolano e da angolanidade.

 

Aliás, o que se vê, em muitos grupos do facebook, muitos dos quais auto – intitulados em grupos de universitários, é um descalabro total que deixa a desejar, um acto imundo e lascivo escurece a mente do jovem nestes grupos, com mensagens de prostituição e desvio cívico e moral em todos os níveis de actuação em alguns grupos. É precisamente, contra este tipo de personalidade que desacredita o ensino e martiriza a cultura de que a universidade deve se impor e deve sob todas as circunstâncias lutar, afinal, a escola é uma oficina de virtudes e não um mero mercado de informação e saberes.

 

O modelo de ensino, como se vê, ainda não está a quem da qualidade desejada por todos, disposto a canalizar a aptidão do jovem, para o preparo profissional do futuro, pois que, a integridade de saberes apreendidos ao longo da formação do jovem, é que define e o prepara para o serviço profissional, e estes saberes somente serão capazes, se estiverem bem estruturados desde o ponto de vista de qualidade.

 

Bem - haja a todos os leitores!