Lisboa - O antigo primeiro-ministro angolano Marcolino Moco disse não acreditar que o Presidente José Eduardo dos Santos abandone a política ativa em 2018, como anunciou hoje, e afirmou que a declaração visa "baixar a tensão".

Fonte: Lusa

"A situação [do país] não é boa e normalmente é nestas situações que são feitas estas declarações, provavelmente para baixar a tensão", disse o ex-governante angolano. Em declarações à Lusa após o anúncio do Presidente angolano de que se afastará da vida política ativa em 2018, ao fim de 39 anos no poder, o antigo primeiro-ministro disse reagir "com uma certa incredulidade".


"Não acredito. Tanto porque já aconteceu no passado e sobretudo pela própria articulação da declaração", disse Marcolino Moco, atualmente advogado e crítico do poder em Luanda.


No anúncio de hoje, José Eduardo dos Santos disse: "Em 2012, em eleições gerais, fui eleito Presidente da República e empossado para cumprir um mandato que nos termos da Constituição da República termina em 2017. Assim, eu tomei a decisão de deixar a vida política ativa em 2018".

 


Para Marcolino Moco, as datas mostram que a intenção não é verdadeira: "Se temos eleições em 2017 e ainda está [na agenda] do Comité Central, segundo informações dos media, um ponto em que se vai falar da candidatura do cidadão José Eduardo dos Santos, como é que se explica isso".


Para o antigo político angolano, que foi também o primeiro secretário executivo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), "o problema não é a saída do José Eduardo dos Santos, é o regime que ele construiu".


"A mim importa-me saber se nós, angolanos, somos capazes de superar este regime cheio de injustiças, algumas maiores do que aquelas que o colonialismo efetivou, ou se continuaremos assim, com quem quer que seja [no poder]", salientou.


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Marcolino Moco defendeu que a solução para Angola é "a sociedade civil juntar-se aos partidos políticos sérios da oposição e apresentar uma alternativa de um país que não dependa só de uma pessoa".


Referiu-se em particular a partidos como a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), a Convergência Ampla de Salvação de Angola - Coligação Eleitoral (CASA-CE) ou o Bloco Democrático, e "inclusive pessoas dentro do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA, no poder) que cada vez mais se têm oposto a este sistema inaceitável a todos os títulos".


Mas foi mais longe: "Gostaria que o próprio Presidente, em vez de fazer estas declarações espetaculares, contribuísse para, antes da sua saída, realmente fazermos esta transição para um país que deslize normalmente".