Luanda - O País foi apanhado de surpresa com a notícia Bomba do anúncio da possível saída do presidente da República José Eduardo dos Santos em 2018. As vozes não se deixaram esperar certos de que vai realizar a promessa e outros preferem ver para crer pois já ouviram isso mais de uma vez. Mas uma coisa é certa; todos concordam que José Eduardo dos Santos cumpriu a sua missão, fez a sua parte, e tem o direito de descansar e deixar o espaço para a nova geração pois, entrou na política aos 18 anos de idade como ele próprio afirmou no dia 11 de Março último na reunião do Comité Central.

Fonte: Club-k.net

Enquanto uns festejam nos pequenos circuitos (no coração e em grupos restritos) e outros fazem contenção de emoção, o trabalho restou agora para os estratégas do MPLA com o auxilio dos pensólogos políticos versados em análises científicas desapaixonadas para definir possíveis caminhos na tarefa de encontrar o futuro subistituto de José Eduardo dos Santos quer na direcção do MPLA como nos destinos do País uma vez que o presidente Dos Santos criou seu espaço político que requer análise política séria para uma transição pacífica desejada.

Possíveis Cenários

São (3) três cenários que são possíveis para a substituição de Jose Eduardo dos Santos que requerem um estudo apropriado dentro do contexto actual.

Io Candidatar­ se à presidência do partido e concorrer à presidência da República

Este é o mais provável pois, uma vez candidato, o partido pode indica­lo como cabeça de lista e concorrer à presidência da República nas eleições gerais de 2017. Um ano depois em 2018, abandona a vida política activa deixando em aberto duas possibilidades: primeiro, ser substituído pelo segundo na lista a ser apresentada pelo MPLA às eleições, segundo, convocar eleições gerias antecipadas em 2018 para se eleger um novo presidente da República. Mas tanto para uma quanto para outra, o congresso extra­ordinário do MPLA será inevitável 2018.

Este cenário é benéfico para o partido pois não terá que trabalhar uma outra figura o que é difícil devido o tempo que já escasseia; mas ao mesmo tempo pode ser prejudicial uma vez que pode levar os eleitores a não votar no MPLA sabendo que o seu candidato abandona a vida política activa no ano seguinte. De igual modo também pode ser negativo para o País se o candidato José Eduardo dos Santos cumprir com a sua palavra e o país optar pela segunda possibilidade de realizar eleições antecipadas, que é pouco provável, cria ainda mais despesas financeiras que a nossa economia não pode suportar

IIo Candidatar­ se apenas à liderança do MPLA

Este cenário aparece com menos complexidade. Apesar de parecer utópico, é aquele com poucas dificuldades de implementação porque acautela a maioria dos interesses tanto dentro do partido como no aparelho do Estado.

Pondo este em prática, estaremos a dizer que o presidente candidatada­se à liderança do seu partido e este, terá de encontrar um cabeça de lista a apresentar nas eleições de 2017 que terá o apoio do Ex­presidente da República.

O risco deste cenário é mais para o partido que terá apenas um ano para preparar o substituto de José Eduardo à presidência o que em boa verdade, não é tarefa fácil pois a oposição partirá em vantagem pelo facto de os seus candidatos serem conhecidos já a muito tempo. E se for alguém já conhecido? Uma coisa é ser conhecido como político ou alguém que ocupou um cargo importante no aparelho do Estado e outra é ser conhecido como candidato à presidente da República que pode levar muito tempo. A possibilidade de o MPLA perder as eleições neste modelo é maior.

IIIo Não candidatar­ se à liderança do partido

Este é pouco provável e já foi demonstrado pelos membros reunidos no pretérito dia 11 de Março de 2016 na 11a Reunião Ordinário do Comité Central do MPLA.

A decisão tomada no final desta reunião transparece duas realidades distintas: a de que o partido, não dispõe de alternativas, porque o tempo de preparação é pouco ou que o cidadão, Eduardo dos Santos, não tem o direito sair livremente ou seja tem que ser o partido a decidir o seu futuro e não ele. O outro entendimento é o que alguns militantes com alta responsabilidade dentro do partido governante apresentam. Aquele de que o país e o partido já não têm pessoas capazes para substituir o actual inquilino da cidade alta. Esta forma de pensar é muito perigosa e desvaloriza o trabalho do Presidente José Eduardo dos Santos. Dá a entender que o presidente governou mais de 30 anos o país e o partido e não formou ninguém e que os cidadãos angolanos todos de Cabinda ao Cunene, não pensam não estudaram etec. É um certificado de incompetência que se pode passar a um homem que governa o País durante quase quatro décadas.

E quem será substituto de José Eduardo?

Com a saída do presidente, perfilam os possíveis presidenciáveis tanto para a presidência do partido como para a do país. Mas quem será o primeiro a levantar a voz neste deserto político? Que vai atirar a primeira pedra? Ou seja quem tem coragem?

O silencio coloca muitos especialistas entendidos nestas matérias de política a diferentes interpretações.

A primeira é que o presidente não é uma pessoa de fácil substituição mas sim de possível, como ele mesmo disse na sua primeira intervenção em 1979 quando substituiu o Dr. António Agostinho Neto e associado a isso, está o facto de ser o elo de estabilidade para muitos militantes com certa crispação internamente.

A outra das várias análises é a de que ninguém quer repetir o que aconteceu com o actual ministro da Defesa João Lourenço, que foi quase que ostracisado depois de ter mostrado uma opinião favorável à saída do presidente em tempos idos quando, este havia mostrado a mesma intenção.

Este sentimento de dúvida para uns e de medo para outros, leva a que a longa lista dos presidenciáveis fique estagnada e que estes prefiram ter certeza esperando que se concretize primeiro o que o ele anunciou. (Deixar a vida política activa em 2018).

O presidente vai cumprir mesmo a promessa?

O contexto político e econômico que o país vive, não permite ao presidente desonrar a sua palavra, pois, pode prejudicar o seu prestigio político enquanto presidente. Mas também outras interpretações são possíveis como a de que o presidente face a actual conjuntura política a que chamou de crítica na Reunião do Comité Central do ano passado, associada à casos judiciais como os de José Julino Kalupeteka, caso dos 17 jovens revolucionários, caso Manuel Vicente (Vice­Presidente da República), Febre amarela , crise financeira, só para começar, pode utilizar uma estratégia para medir a reação da sociedade face a uma eventual saída ou ainda desviar a atenção da sociedade em relação a estes casos enquanto o executivo se ocupa com a tarefa de preparar as eleições de 2017. Esta seria uma forma de evitar que fosse pressionado por grupos da sociedade civil e política a deixar o poder pois já antecipou­se, evitando assim, as manifestações e outro tipo de pressão social e política. Isto permitiria governar mais folgado e criar condições para o próximo mandato que já mostrou ser um desafio para qualquer cidadão que almeja o poder neste país.

A outra interpretação, prende­se com a eventual preparação do futuro substituto que ao que se especula pode ser um do ciclo presidencial ou seu filho mas este último tem poucas chances para 2017 pelo amadurecimento político dos militantes do MPLA que, alias, em 2012 diz­se que houve resistência em relação a figura de Manuel Vicente à Vice-­Presidente da República.

Seja como for a conjuntura política actual não está a favor de um eventual recuo do presidente e favorece­o se continuar a sua decisão de deixar a vida política activa em 2018, o que vai permitir considera­lo uma figura de referência em muitos domínios e uma reserva moral se não haver mais nada que atrapalhe no meio. Desta forma o presidente sairá sem contestação e de forma responsável.

Mas o presidente já perdeu uma grande oportunidade de ouro para sair. Foi quando terminou a guerra em 2002 depois da morte do Dr. Jonas Savimbi no Moxico. Mas ainda tem tempo pois os mais velhos dizem mais vale tarde que nunca.

Qualquer um que venha substituir o presidente da República não terá o trabalho facilitados a contar com grandes desafios que se avizinham e um deles é manter a mesma filosofia de aquartelar os interesses dos militares em todos os níveis e desfazer ou manter a UGP que é a guarda presidencial.

Luanda aos 14 de Março de 2016