Luanda - Hoje não acordei muito bem. Desconfiava tratar-se de paludismo. Tinha dores de cabeça, nas articulações e muita fadiga. O quadro fez-me solicitar os Serviços Prisionais para fazer exames médicos para saber o que exatamente tinha e fomos às 12h20 ao Hospital São Paulo.

Fonte: Facebook

Fui atendido e os resultados foram todos negativos ou estáveis. Apenas baixo nível de plaquetas. Passaram-se uma receita, a farmácia não tem remédios.

Depois de me atenderem, foi quando cruzei com o mano Nuno Álvaro Dala na sala de espera do consultório.

Logo que dei com ele, grande foi o meu espanto. O mano está muito abatido, quase irreconhecível, mas firme e determinado na sua posição.

O Nuno decretou uma greve de fome em protesto ao constante abandalho médico, fez mais de 10 exames dos quais não teve resultado nenhum.

A situação financeira da sua família está péssima. Está a viver na casa da irmã, tem uma filha de 1 ano, até para comprar fraldas ele precisa viver de braço estendido.

Como muitos outros ativistas funcionários, tem dinheiro nas suas contas, mas os seus multicaixas continuam presos e não lhe são restituídos, o que resolveria em definitivo o seu problema financeiro.

Foi por essas duas razões principais que decidiu não mais comparecer a nenhuma sessão de julgamento a menos que tudo isso fosse resolvido.

Em conversa hoje esclareceu que a sua greve tem razões mais profundas ainda. Não se trata da mera devolução dos seus pertences e os respectivos resultados dos exames médicos.

O Nuno está a protestar contra aquilo que chamou de "manobras dilatórias" quanto ao desfecho do caso em que é arguido. Diz que o regime tem uma agenda de provocação, de desgaste, para que através da nossa reação tomar atitudes draconianas como a que tomou consigo e com o Nito.

"Eu estou a protestar contra isso, parem com as manobras dilatórias e a política de desgaste. Olhe o que o juiz fez com Dr. David Mendes, é um autêntico absurdo! Tendo prescindido dos declarantes, não sei da onde tirou a fundamentação para impedir o nosso advogado de nos representar como tal, ocasionando mais esse adiamento que se enquadra ipsi verbis naquilo que estou a dizer, manobra dilatória."

Procurei saber sobre o resultado da ida da sua irmã com a advogada Marisa ao SIC para reaver alguns dos seus meios.
"São todas medidas paliativas. Cansaram apenas a minha irmã. Foi tudo um faz de contas apenas, pois veja:

1 - A minha irmã não conhece os meus meios, não saberá identificá-los. Como levá-la para buscá-los? Ela pode até trazer o que não é meu e tornar fácil que lhe dêm material estragado pois não sabe do estado de tudo antes da prisão. Não há cá meias palavras, tenho de ser eu em pessoa a ir reavê-los e por isso estou em greve.

2 - A polícia nega-se a assumir que havia dinheiro na minha mochila, quando eles sabem que os únicos meios sobre os quais se fez um inventário foram os apreendidos nas nossas casas, os apreendidos em "flagrante" nenhum deles foi registado. Daqui a nada virão dizer que nem sequer carteira tinha.

3 - Dos 7 multicaixas que possuo apenas dois foram apresentados (mostrados) a minha irmã. O pior nem é isso, é que nos últimos tempos (em junho de 2015) comecei a andar com os cartões multicaixas e os respectivos códigos. Na altura da detenção, eu estive com os cartões e os códigos todos. Nem quero imaginar o que significa o sumido desses 5 cartões.

4 - Os meus HDs (discos externos), computador e outros meios informáticos, disseram à minha irmã que se encontram no laboratório de criminalística. Como explicar isso? O processo já está noutra fase os meus meios continuam no laboratório de criminalística?

Como podes ver, não passa de brincadeira de mau gosto. Nós não podemos permitir que eles façam o que bem entendam e concretizem cada um de seus intentos. Por isso estou em protesto."

Disse-me também encontrar-se no antigo bloco de 6 celas onde já esteve antes da medida da prisão domiciliária, bloco onde eu, Hitler, Arante, Nito e Benedito estivemos também. Com a diferença de que está sozinho neste bloco e numa cela muito fedorenta, a cela onde o Benedito Jeremias esteve durante algum tempo e só foi com protestos que o removeram dela.

Há 5 outras celas à disposição mas foi justamente nesta em que o colocaram. Os Serviços Prisionais sabem do mau cheiro dessa cela e já tomaram muitas medidas paliativas para tentar corrigir o problema (uso de creolina), e sabem que o problema persiste.

Disse-me também que durante todo esse tempo que se encontra na prisão, está sem mosquiteiro. E os mosquitos são insuportáveis.

Depois disso, fui solicitar à reeducação sobre a necessidade de providenciarem um mosquiteiro. Disseram-me que o Hospital Prisão está sem mosquiteiros mas que aceita que venha de casa.

Em suma foi essa a conversa que mantive com o Nuno.

Apesar de muito abatido e de continuarem os seus problemas de gastrite ele está determinado e firme. Vai manter a sua greve até que tudo quanto mencionou se resolva.

A única coisa que está a tomar é água e chá.

Ele encoraja a todos nós dizendo que quanto a si, está forte e determinado.

M'Banza Hamza