Luanda - As máscaras de Angola, com maior realce para as da região leste do país (Moxico, Lunda- Sul e Lunda- Norte), têm uma grande relação com a dança, música e as cerimónias tradicionais, capazes de zelar pela comunidade tanto de dia como de noite.

Fonte: Laite Capuita Tito


Algumas máscaras são feitas de madeira, fibra vegetal e resina e para a sua construção são implementadas várias técnicas, independentemente da comunidade, mas há muitos aspectos comuns, como por exemplo, as funções que elas desempenham.

 

Existem distintas formas da sua decoração que reflectem o dia-a-dia cultural das comunidades que representam. Um pormenor interessante das máscaras consiste em apresentarem figuras antropomórficas, outras zoomórficas e geométricas, bem como possuem a sua própria história.

 

As mascaras jogam um papel crucial na afirmação e glorificação de diferentes cerimónias e rituais, tais como fúnebres, entronização, casamento, alambamentos ou de iniciação masculina e feminina, onde cada evento é representado por uma máscara interligada a música e dança especificamente escolhidas para esse tipo de acto.

 

Na vasta cultura da região leste de Angola que engloba às províncias do Moxico, Lunda-Sul e Lunda-Norte consideram as máscaras de símbolos de um poder sobrenatural que consagra as instituições ou pessoas, servindo de mediadoras entre o mundo dos vivos e espíritos dos antepassados.

 

Essa é a razão da existência do segredo da essência que envolve as máscaras ou as pessoas que as usam, pois não é permitido a sua revelação ao público, como é o caso das mulheres e dos não circuncidados. Uma máscara pode ter a face feminina, mas o mascarado é sempre um homem que faz o papel de mulher, assim como os mascarados outrora eram tocadores de batuques e outros instrumentos de sons que efervesce o coração dos bailarinos mascarados.

 

Na maioria dos casos, os mascarados não dançam sem a música e esta (música) não existe sem os seus respectivos instrumentos que produzem sons encantadores e contagiantes, tais como o batuque, a puita, a marimba, o tchikuvuo, o apito, lussango entre outros meios.

 

A troca de uma velha máscara deteriorada obedece a certos rituais importantes. O dançarino que a usou prepara uma cova para enterrar a sua máscara com uma pulseira, símbolo do retorno do “preço da noiva”. Nesse acto, o dançarino profere palavras de ordens em jeito de juramento dizendo: “dancei contigo e ganhei a vida, mas envelheceste e morreste. Aqui tens a pulseira. Não me persigas nem me desejas a doença”.

 

Para o bailarino mascarado que abandona a profissão sem justificação convincente dos anciãos, o ritual exige sessões religiosas. Em tais casos, segundo a tradição dos povos da etnia Côkwe, população maioritária que ocupa o leste de Angola, a sanção ou punição sobre o transgressor pode ser uma doença ou morte que vem naturalmente, pelo que a comunidade comenta dizendo: “kanaiji mumu hetcha kukina nyi mukixi”, em português significa “está doente por abandonar a máscara”.

 

Infelizmente a cultura de usar mascaras em diversos eventos culturais está a ser ultrapassada, pois, as gerações dos últimos tempos, sobretudo as que habitam nas mais novas não conhecem e nunca viram cerimónias onde as mascaras fazem presença.

 

Mwana Pwo, Cikungo, Cihongo, Katoyo, Kalelwa, Kungu, Chikuza e Gondo são as principais mascaras que se podem encontrar na região leste de Angola (Moxico, Lunda-Sul e Lunda-Norte), com características folclóricas diferentes.

 

A máscara Cikunza é policromática e tem características tanto humanas como animais. Esta é a máscara mais importante e patrona da instituição Cokwe.

 

A Máscara Mwana Pwo, etimologicamente as duas palavras significam filho (a) e mulher, logo, Mwana Pwo quererá dizer rapariga, é uma das máscaras mais conhecidas não só nas três províncias desta região como em todo país e no mundo, tendo embelezado muitas exposições etnográficas e ilustrou diversas revistas especializadas.

 

Uma das máscaras mais importantes nas províncias da Lunda- Norte, Lunda- Sul e Moxico é a denominada “Cihongo”, considerada a mascote de todas as técnicas e movimentos de quase todos os bailarinos.

 

Cikungo ou MukiXi Ua Muanangana, a maior das máscaras Chokwe existentes, pertence ao chefe, representando os seus antepassados. Guardada fora do centro habitacional, só aparece quando é necessário fazer um sacrifício para o bem-estar da comunidade. Possui um chapéu imponente, composto de uma estrutura em forma de leque, com asas ou discos largos de cada lado.

 

Cikunza é o protector principal dos circuncidados ou seja o patrono da mukanda (circuncisão). O seu nome designa uma espécie de gafanhoto que simboliza a fertilidade.

 

Cihongo é uma máscara com um chapéu em forma de leque enfeitado de penas e uma saia composta de várias camadas de palha que vibra e oscila para a frente e para trás quando o dançarino movimenta as ancas, representa o espírito que favorece a prosperidade e a riqueza.

 

Realidade actual e resgate da cultura

 

As autoridades do município do Moxico (sede), apontam a globalização e a religião de estar no epicentro do desaparecimento das mascaras nos rituais. Falando concretamente da globalização, os regedores dizem que as pessoas estão a dotar os hábitos e costumes estrangeiros, deixando de lado os ensinamentos de seus antepassados.

 

Quanto a religião, consideram que essas instituições possuem costumes e mandamentos contidos na bíblia sagrada que contrariam certas práticas da tradição angolana, como uso de máscaras em cerimónias e ritos fúnebres, entronização, casamento, alambamentos, entre outros actos.

 

Exemplificaram que um pastor não deve levar o seu filho no Mukanda (Circuncisão) de acordo com as leis da sua religião, acto que ofusca a cultura da região. O regedor afirma que situação idêntica aconteceu na período colonial, pois na altura se proibia o uso de máscaras, falar a língua materna e outras práticas de rituais genuinamente tradicionais.

 

As autoridades tradicionais acredita que para o renascimento de uso em grande escala das máscaras desta região nas celebrações tradicionais deve haver uma união entre os adultos e jovens, independentemente da sua posição social, promovendo continuamente palestras, reuniões para enfocar a importância da cultura nacional na sociedade.

 

“Temos que voltar nas nossas tradições”, frisou um dos regedores do município do Moxico (sede), explicando que identificam como pessoas, prescrevem as origens, ideias remotas, comportamentos, símbolos e práticas sociais, aprendidos de geração em geração através da vida em sociedade.

 

Exaltaram a iniciativa conjunta das autoridades tradicionais, eclesiásticas e governo de Angola que visa traçar diversos planos para resgatar e dinamizar a vasta cultura do país, em particular a da região leste.