Luanda - Dois presos da Comarca Central de Luanda entraram em contacto com o Novo Jornal na tarde de quarta-feira, 16, para reclamar da falta de comida e da superlotação na Cadeia Central de Luanda.


Fonte: NJ

Os dois presos, que disseram chamar-se Tony e Fábio, frisaram que, há já quatro dias, só fazem uma refeição diária e que a mesma não tem qualidade. “Nós estamos a passar mal, só comemos uma vez por dia. O feijão é cozinhado sem óleo e tomate. Muitos companheiros já estão a ter problemas de saúde, e a direcção da cadeia tem conhecimento, mas nada está a ser feito para normalizar a situação”.

Um deles disse ter ligado de dentro da cadeia a partir de um telemóvel e que, antes de contactar a redacção do NJ, já tinha contactado uma rádio, mas a denúncia não podia ser emitida.

Para explicar o uso do aparelho dentro da cadeia, o recluso disse que o aparelho era do chefe da cela e que teve de pagar 300 kz para fazer a denúncia. Acrescentou ainda que está detido há sete meses e a falta de comida é um dos principais problemas que os presos entretanto enfrentam.

Tony, de 28 anos, denuncia que se alimentam de feijão e funje de milho todos os dias. Contactado por este jornal, o Director de Comunicação Institucional e Imprensa do Ministério do Interior, Simão Milagres, disse que a denúncia dos presos não tem fundamento porque a prioridade do Ministério em relação aos presos é a alimentação. “Há comida sim, os presos estão a comer todos os dias” e acrescentou que “pode não ser da qualidade que se pretende, mas há alimentação”.

Condenado há quatro anos por roubo de viatura, Tony recorda que até Março de 2015 eram oferecidas três refeições por dia: arroz, feijão e misturas.

No ano passado, o ministro do Interior, Ângelo da Veigas Tavares, disse que o Estado angolano gasta mensalmente mais de 13 800 000 USD para alimentar os 23 mil presos que se encontram nas diferentes cadeias do País, uma realidade que, de acordo com as reclamações de familiares e de ex-presos, não corresponde à realidade prisional.

Cada recluso custa, em média, 20 dólares por dia, em despesas de alimentação, saúde, ensino e formação profissional, segundo dados avançados pelo ministro do Interior em 2015. “É uma média que se tem mantido constante ao longo dos últimos anos, contrariamente ao que muita gente especula por aí. Os reclusos em Angola, já há alguns anos, fazem três refeições por dia”, afirma. E salienta que “mesmo com a situação actual, o Ministério do Interior considera uma prioridade o abastecimento logístico do sistema prisional. Os presos têm roupas, água, energia eléctrica e formação”.

Contas feitas pelo Novo Jornal, o Estado gasta por mês 13 800 000 dólares e por ano 167 900 000 dólares nos serviços prisionais. Existem no País 23 mil reclusos, sendo 12 mil condenados e 10 mil detidos.