Luanda - Angola, país da África Austral, após a independência (1975), debateu­-se a um longo período de conflitos armados que culminou com os acordos de paz efectivo (2002).

Fonte: Club-k.net

A longa guerra civil que assolou e devastou o país, atrasou o seu desenvolvimento bem como o do sistema educativo e sua qualidade, influiu no que hoje denomino de “Os paradoxos da Educação Angolana”.

Para explicar a situação em que o sistema educacional angolano enfrenta, não podemos nos deter apenas no factor guerra (considerado pelos políticos angolano como a causa do caos que enferma o país em todos os aspectos), mas analisar e compreender os esforços e as políticas que estão a ser empreendidos e implementados pelo Executivo de modo a sanar as tais situações.

São muitos os problemas que estão presentes na educação angolana, especialmente no ensino público. São diversos factores que proporcionam resultados negativos, um exemplo concreto são muitas crianças que se encontram na 6a classe e não dominam habilidades de leitura e escrita. Para além do fenómeno já referenciado (a guerra) e considerado cultural/tradicional, associam­-se outros, como:

As condições físicas das nossas escolas – infra­estruturas escolares na sua maioria débeis, sobretudo nas zonas suburbanas e pobres; falta de laboratórios e campos desportivos.

As condições sociais – as condições de vida precária da população e o mau ambiente familiar; a distância entre a residência dos alunos e a escola; o acesso limitado ao sistema de ensino; salários baixos por parte de encarregados de educação, a falta de acerto de categorias oportuno e de regalias sociais dos professores; o pouco reconhecimento do papel do professor pela sociedade; o crescimento descontrolado da população e das escolas privadas (colégios e universidades cuja qualidade de ensino é uma incógnita); a descrença na ascensão social por parte de alunos e jovens; o elevado índice de abandono escolar de alunos devido ao fracasso escolar e/ou problemas financeiros.

Políticos – a Reforma Educativa e seus problemas, como a monodocência no Ensino Primário, a transição automática e a falta de preparação de professores para abraçarem esta nova política educativa; a descrença nas lutas políticas por parte da juventude; investimento público insuficientes para atender com qualidade e as necessidades educativas; a falta de incetivo que beneficie os profissionais mais eficientes.

Pedagógicos – o pedantismo, ou seja, o divórcio entre a teoria e a prática e os castigos corporais; currículo pouco interessante para os alunos e desconectado da realidade; o uso excessivo de métodos de ensino ultrapassados; a falta de actividades extra­ escolares e de merenda; a ausência dos pais no contexto escolar; a falta de estímulos educacionais dos professores para os alunos; a falta de vocação e de perfis exigíveis por parte de muitos professores sobretudo no ensino técnico­profissional, universitário e nas regiões mais carentes; carência em sistemas eficientes de aperfeiçoamento, capacitação e educação contínua para professores; os professores não são preparados para a realidade da sala de aula; a acumulação de funções por parte dos professores como consequência da má remuneração; a deficiência na transmissão de conhecimentos; o elevado índice de repetência, principalmente em regiões mais carentes em que os educandos preferem o trabalho braçal do campo do que sentar numa carteira escolar; a falta de assiduidade por parte de professores e alunos; a má gestão das escolas públicas, visto que são geridas por directores politicamente nomeados e na sua maioria sem agregação pedagógica e que fazem das escolas públicas suas propriedades.

Estes e outros problemas constituem “a morte da pedagogia” em Angola. O objectivo da educação, por outro, consiste em formar indivíduos íntegros e participantes do mundo colectivo. André Soma (Director Provincial da Educação de Luanda), na sua comunicação nas Jornadas Científico ­Pedagógicas no ISCED de Luanda em 2011 afirmou que “as transformações e mudanças que o Ensino e Educação em Angola requer em ordem a elevar a sua qualidade e natural formação sólida e integral das novas gerações, exige uma direcção científica e planificada de todas as estruturas vocacionadas para a função social de Educar e Ensinar”. Isto mostra que os problemas educativos angolano não passam despercebidos aos órgãos do Executivo, propõem-­se assim, que haja um trabalho científico­ metodológico que substitua a improvisação , a espontaneidade e a improdutividade. Os problemas não estão apenas na melhoria dos métodos de comunicação na actividade pedagógica e o aperfeiçoamento dos aspectos informativos e de relacionamento para a interacção dos quadros e funcionários a todos os níveis, mas no seu global. Assim, é preciso que se tenha uma “ angovisão” sobre os problemas educativo nacional.

Nesta ordem de ideias, penso que os problemas que afectam a educação angolana podem ser ultrapassados se haver uma “política educativa coesa” e uma “democracia educativa”.

As politicas de avaliações implementadas pelo Executivo para avaliar a educação angolana apresentam números animadores politicamente e desanimadores no contexto prático, isto se tornou uma situação incontestável que não se pode continuar.

As medidas que possivelmente poderão combater os índices acima apresentados são:

 Implantação de medidas políticas educacionais coesas, eficientes e a longo prazo;

 Melhorar as infra­estruturas, a formação e a remuneração de professores, visto que a motivação de professores implica desenvolvimento dos alunos e da escola;

 Valorização dos profissionais da educação;

 Direccionamento de recursos financeiros para as escolas;

 Mobilização dos encarregados de educação e da sociedade em geral para a importância que a escola exerce;

 

 Criar escolas que se adequam a todos (crianças, jovens ou adultos). Tendo politicas, profissionais adequados e espaços direccionados as determinadas deficiências;

 Subsiar filosoficamente e tecnicamente o processo de transformação do sistema educacional angolano em um sistema inclusivo;

 Preparar gestores e educadores para materializar e dar continuidade à política de educação, sobretudo nas áreas consideradas precárias e críticas.

*Licenciado em Filosofia e Educação