Lisboa - A Economist Intelligence Unit (EIU) considera que os protestos e manifestações em Angola vão continuar a aumentar devido às dificuldades financeiras do país, mas a agitação social não será "uma ameaça existencial para o Governo".

Fonte: Lusa

"Não esperamos que a agitação apresenta uma ameaça existencial para o Governo, mas há o perigo de os protestos aumentarem dadas as contínuas dificuldades orçamentais no ambiente atual de preços baixos do petróleo e na capacidade do Estado para financiar o seu aparelho de segurança e as redes de privilégios", escrevem os analistas da unidade de análise económica da revista britânica The Economist.


No Relatório do País, enviado aos investidores e a que a Lusa teve acesso, afirmam que "a sensibilidade exacerbada a qualquer potencial ameaça de segurança à estabilidade ou à sua hegemonia deverá levar o MPLA, através dos serviços de segurança, a reprimir os protestos e a fazer detenções preventivas e julgamentos mediáticos dos críticos, mas esta atuação pode virar-se contra eles, já que a crescente repressão das vozes dissidentes pode agir como um catalisador para mais instabilidade".

 

No documento, que apresenta uma forte revisão em baixa da previsão de crescimento da economia este ano, para 1,1%, o valor mais baixo de todas as instituições e organismos internacionais, apresenta-se também uma previsão de inflação de 14,7% este ano.

 

No capítulo das relações internacionais, a EIU considera que Angola vai continuar a procurar consolidar as relações com os parceiros estratégicos e a tentar diversificar o acesso às finanças internacionais, devendo "continuar a dar prioridade aos pagamentos da dívida à China para assegurar a manutenção do crédito".

 

O problema, dizem os analistas da EIU, é a economia: "Reequilibrar a economia é fundamental, mas não estamos confiantes que o Governo consiga desenvolvier uma resposta política apropriada às dificuldades financeiras, apesar do anúncio de um novo plano para o desenvolvimento, em fevereiro".

 

O documento, dizem, propõe uma série de medidas como o desenvolvimento das fábrias, minas e agricultura para criarem emprego e substituir as importações caras por produtos produzidos localmente.

 

"São todas estratégias sensatas, mas nenhuma é nova, e o progresso deve ser lento", sentenciam, exemplificando com a proposta de aumentar a receita fiscal através do alargamento da base tributária.

 

"Aumentar a receita fiscal quando os lucros e os resultos caíram por causa do abrandamento generalizado da economia pode estrangular o crescimento do setor não petrolífero e minar os esforços para aumentar o desenvolvimento das pequenas e médias empresas que podem gere emprego e transferir talento para os angolanos", argumenta a EIU.